sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Planetas: solares, extrasolares e...

concepção artística do primeiro planeta extragaláctico descoberto

A notícia chega-nos da Alemanha e é mais uma descoberta no excitante campo dos planetas extrasolares. Desta vez, mais do que um novo "extrasolar" temos um misterioso planeta "extragaláctico". A equipa de Rainer Klement do Max-Planck-Institut für Astronomie (MPIA) conta-nos que durante os últimos 15 anos os astrónomos detectaram cerca de 500 planetas em órbita de estrelas da nossa vizinhança cósmica, mas nunca nenhum foi confirmado fora da Via Láctea. Agora, no entanto, um planeta com uma massa mínima de 1,25 vezes a massa de Júpiter foi descoberto em órbita de uma estrela de origem extragaláctica, embora essa estrela se encontre actualmente no interior da nossa própria Galáxia. A estrela faz parte da chamada corrente de Helmi - um grupo de estrelas que pertenciam originalmente a uma galáxia anã que foi devorada pela nossa Galáxia, a Via Láctea, num acto de canibalismo galáctico há cerca de seis a nove mil milhões de anos.

Para além do extraordinário da descoberta, esta novo planeta (denominado HIP 13044b), temos desde já dois interessantes enigmas:

1. Trata-se de um planeta que conseguiu escapar à fase de gigante vermelha da estrela que orbita (como?)

e 2. essa mesma estrela apresenta uma quantidade de elementos mais pesados que o hélio e hidrogénio é muitíssimo reduzida, contrariando as teorias contemporâneas sobre a formação e evolução estelar...

Mais informações (e em português) no sempre mui competente Astro-PT.

4 comentários:

Ricardo Reis disse...

Miguel, quanto aos enigmas que referes, deixa-me só fazer uns pequenos esclarecimentos:

1 - Aqui não há mistério nenhum. Há já algum tempo que se sabe que os planetas podem migrar as suas órbitas. No paper tens mesmo as afirmações:

"It is also possible that the planet's orbit decayed through tidal interaction with the stellar envelope.[...] The same could be achieved by interaction with a third body in the system."


2 - A metalicidade desta estrela realmente contraria as actuais teorias de formação planetária (e não estelar) dos chamados "Júpiteres Quentes". Mas isto pode ser uma falsa questão.

A busca de exoplanetas em estrelas fora da sequência principal é praticamente nula, e as teorias de formação de "Júpiteres Quentes" são baseadas em estrelas da Sequência Principal.

Por isso, quase não há dados relativos a planetas à volta de gigantes vermelhas (caso desta). E não havendo dados, não há maneira de prever comportamentos.

Dizer que este planeta não encaixa nas teorias actuais é o mesmo que dizer que o comportamento de um Renault Laguna não encaixa no comportamento observado em várias centenas de Clios. :)

António Piedade disse...

Aplaudo com entusiasmo o diálogo cósmico que se avizinha neste espaço de conhecimento.
Cumprimentos.

António Piedade

Ricardo Reis disse...

Já agora, o paper está disponível (para quem tiver acesso à Science online), em:

http://www.sciencemag.org/content/early/2010/11/17/science.1193342.abstract?sid=848bb586-e1ff-477c-8e1a-8960d2d8eecb

Miguel Gonçalves disse...

Ricardo, eu limitei-me a apresentar as questões que foram apresentadas no próprio site do Max Planck Institute for Astronomy; no primeiro caso, sim, a migração das órbitas é algo conhecido mas ainda apenas uma hipótese: "Setiawan and his colleagues hypothesize that HIP 13044 b's current close orbit – its present average distance to its host star amounts to a mere 12 per cent of the distance between the Sun and the Earth, with an orbital period of only 16.2 days – was initially much larger, and that the planet migrated inwards during the star's Red Giant phase.".

Quanto ao 2º caso, sim, é ao nível da formação planetária: "One final puzzle is that the new planet's host star HIP 13044 appears to contain very few elements heavier than hydrogen and helium (in technical terms, it is "extremely metal-poor") – fewer than any other star with planets. "It is a puzzle for the widely accepted model of planet formation how such a star, which contains hardly any heavy elements at all, could have formed a planet," adds Setiawan."

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