segunda-feira, 22 de novembro de 2010

QUEM MUITO FALA POR VEZES ACERTA

O sindicalista-mor do maior sindicato de professores é conhecido por falar muito e, como diz o povo, "quem muito fala pouco acerta" (também diz "quem muito fala muito enfada"). Mas, como também diz o povo, "não há regra sem excepção". Por uma vez ele acertou ao propor, para poupar, a extinção das direcções regionais de educação (DRENs, DRECs, etc.), que fazem do Ministério da Educação uma engrenagem kafkiana. Poupava-se no orçamento e poupava-se sobretudo na burocracia inútil que atrapalha professores e escolas, com efeitos visíveis na qualidade do ensino. Porque o autor pode demorar muito tempo a voltar a acertar, apresso-me, a mãos ambas, a aplaudir a sugestão.

11 comentários:

Ana disse...

Foi a essa proposta que a Ministra respondeu com uma gargalhada?...

Tb se diz que "antes parecer estúpido do que abrir a boca e acabar com todas as dúvidas", eheheh. neste caso, bastou uma gargalhada (caso as dúvidas ainda persistissem).

Anónimo disse...

Entre gargalhadas e propostas, de que lado se encontra a estupidez? JCN

Fartinho da Silva disse...

Como eu compreendo a gargalhada! Os governos têm tido como propósito distribuir lugares pelos boys e girls e vem agora um sindicato propor que se fechem uns gabinetes onde os governos colocaram a "malta" que colou cartazes e movimentou alguns votos em tempos idos?! Nem pensar...

Anónimo disse...

Seria uma boa acção, sem dúvida. E talvez pudesse alargar-se à extinçao de alguns sindicatos. Uma só estrutura com representantes dos que existem actualmente seria oiro sobre azul!

joão boaventura disse...

O discurso de Mário Nogueira esconde o temor de ver o pessoal reduzido ou cortes nos vencimentos.

Os discursos contêm sempre um objectivo, e neste caso, é o de um aviso prévio ao Ministério. De que, se quiser poupar, que acabe com as suas Direcções Regionais, antes de pensar em reduções ou cortes na Fenprof.

Portanto, o discurso de Mário Nogueira é o de antecipação a qualquer veleidade do Ministério quanto ao tocar na sua área. É o discurso do medo.

joão boaventura disse...

Veja-se como a Fenprof articula o discurso:

i, - “há opções que devem ser tomadas”, entre as quais a extinção das cinco direcções regionais de Educação do país, que considera servirem apenas para “complicar a vida às escolas e não terem resposta para nada”.

Utiliza a mesma argumentação com que a Fenprof é vista: "complica a vida às escolas e não têm resposta para nada". Posta a verbalização nestes termos, amplia o retrato positivo do Sindicato, e faz esquecer o que de negativo se tema apontado ao mesmo.

E agora o ponto crucial com que se pode deparar:

2 -“Ninguém fez contas de quanto se pouparia se as direcções regionais de Educação fossem encerradas e se as escolas no âmbito das suas competências tivessem um relacionamento directo com a direcção-geral. Ninguém fez contas porque há gente acomodada, encostada, que convém por ali ficar.”

Ora esta argumentação é uma antecipação ao que o Ministério poderá dizer da Fenprof e da floração de Sindicatos, que enxameiam o país, e do exorbitante número de destacados que os povoam, com a agravante de se desconhecer a racionalidade de tanta gente apostada na burocracia, em despique com o mesmo desconhecimento da racionalidade de tanta gente do Ministério apostado ele, igualmente, na burocracia.

Acresce, por outro lado, a vantagem que a Fenprof conquistaria ao eliminar no seu caminho esses obstáculos regionais, esquecendo que também os tem.

Os discursos não são gratuitos, e a Fenprof aprendeu com os discursos do Estado.

Para haver um equilíbrio, a Fenprof teria outra feição se dissesse: se o Ministério quer poupar, corte nas direcções regionais, e nós cortaremos no pessoal.

Rui Baptista disse...

Pois é! Mais uma vez, a "vox populi" demonstra a sua enorme sabedoria: "não há regra sem excepção"...

joão boaventura disse...

Interpretação gestual ou mímica da gargalhada ministerial, contém outra configuração: riu-se pela antecipação das medidas propostas pela Fenprof, por receio de que a Ministra as aplique ao Sindicato.

Na gíria futebolística Mário Nogueira fez uma jogada de antecipação.

joão boaventura disse...

NEVOEIRO

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é Portugal a entristecer -
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.


Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!

Fernando Pessoa
(Mensagem)

Rui Baptista disse...

Caro João Boaventura:

Concordo plenamente com o § final do seu comentário (23 Nov.; 11:54):"Para haver um equilíbrio, a Fenprof teria outra feição se dissesse: se o Ministério quer poupar, corte nas direcções regionais, e nós cortaremos no pessoal".

Embora possa ser tido por desnecesário,todavia, atrevo-me a pensar que o seu comentário sairá reforçado com este pedaço de prosa de um recente “post” meu, intitulado “Os sindicatos Docentes no Final da Primeira Década do Século XXI” (19/11/2010):

“(…) transcrevo dados referentes a sindicatos docentes (extraídos da Agência Lusa, 2006) que, segundo Helena Matos, “são uma extensão da administração pública e por ela sustentados”: “Os 450 professores que estão destacados nos sindicatos representam uma despesa anual superior a oito milhões de euros. No ano lectivo passado, estavam destacados 1327 docentes (…) que custavam por ano 20 milhões de euros, segundo estimativas do governo.”

Com é meu hábito, escoro-me, uma vez mais, em provérbios para dizer que a Fenprof (com a maior parcela daquele vultuoso dispêndio, pago com os impostos de todos nós), vê o argueiro no olho dos outros e não vê a tranca no seu próprio olho!” Em nome da justiça, poupe-se, portanto, no argueiro e na tranca.

E porque se propicia, aqui vai outro ditado: “Ou há moralidade ou comem todos!” O ideal seria até não comerem (em sentido figurado, claro está!) nem uns nem outros num país em que se pedem aos portugueses sacrifícios, sem conta peso e medida, que afectam a população mais carenciada e em que, para além dos velhos pobres, passaram a existir os novos pobres que remexem nos caixotes de lixo à procura de restos de comida. Disso nos deu notícia recente, em imagem e texto, um jornal diário de Coimbra.

José Batista da Ascenção disse...

Partilho a opinião do Prof. Fiolhais.
E Mário Nogueira faria bem em "enxergar-se". Se lhe estivesse na natureza...
Mas nada adianta, nem os nossos comentários, se nos entretivermos num pingue-pongue sobre quem tem mais culpas ou responsabilidades.
Pudesse vir o "diacho" e escolher, desde que levasse ambos os contendores, mais as claques e as adjacências (neles) interessadas e interesseiras...
A ver se nas escolas se podia trabalhar, e respirar...

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