sexta-feira, 19 de novembro de 2010
O HOMEM DE VITRÚVIO
Minha crónica no "Sol" de hoje:
Podemos encontrar o homem de Vitrúvio no nosso bolso, numa das faces de uma moeda de euro. Essa moeda foi cunhada em Itália, pois o autor da imagem original, que data de 1490, foi o artista e inventor italiano Leonardo Da Vinci, que o governo do seu país natal quis assim homenagear.
Leonardo é, para muitos, o maior génio da história. E o seu génio, que chegou até nós tanto através das criações artísticas como através das criações tecnológicas, condensa-se na representação que fez de um homem nu (há quem diga que é um auto-retrato) contido simultaneamente dentro de uma circunferência e de um quadrado. O homem toca graciosamente na circunferência ou no quadrado conforme está com as pernas e os braços em V ou com as pernas unidas e os braços na horizontal. O centro da circunferência e do quadrado não coincidem: o primeiro está no umbigo, perto do centro de gravidade do corpo, e o segundo está no sexo.
A representação, cujo original se encontra na Galeria da Academia em Veneza, pode ter sido inspirada, em última análise, no filósofo grego Protágoras de Abdera, que foi quem disse no século V a.C.: O homem é a medida de todas coisas. Mas não há dúvida que Leonardo foi influenciado pela obra do arquitecto e engenheiro romano Marcus Vitruvius Pollio, que escreveu, no século I a. C., Dez Livros de Arquitectura, uma vez que glosa esse autor, na sua escrita para ser lida ao espelho, no manuscrito que contém o desenho (daí o nome de ”homem de Vitrúvio”). O objectivo comum era a busca das proporções perfeitas. O simbolismo é a integração do homem no mundo, o mundo que está afinal escrito em linguagem matemática.
É, por isso, natural que os fatos da NASA usados pelos astronautas para actividades fora do vaivém ou da Estação Espacial Internacional mostrem o homem de Vitrúvio. E que o logotipo de agência de exploração interestelar no filme Contacto, baseado no romance do astrofísico Carl Sagan, seja um homem de Vitrúvio estilizado. Uma vez que boas proporções indiciam saúde, é também natural que vários institutos médicos ou relacionados com a medicina tenham adoptado, por todo o mundo, o desenho de Leonardo como a sua imagem de marca. Um livro sobre emagrecimento, publicado recentemente entre nós, mostra na capa não o homem, mas a mulher de Vitrúvio, que emagrece quando passa do quadrado para o círculo...
Para falar sobre a prodigiosa obra de Leonardo Da Vinci e não só, esteve esta semana em Lisboa na Fundação Gulbenkian, Martin Kemp, professor de História de Arte na Universidade de Oxford e o maior especialista do autor renascentista. O ciclo em que se insere a sua conferência intitula-se A imagem na ciência e na arte. Da Vinci conseguiu, com o homem de Vitrúvio, casar a ciência e a arte melhor do que ninguém.
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13 comentários:
Essa é uma imagem que associamos imediatamente a Itália, tal como a moeda de dois euros representando o rapto de Europa por Zeus, a associamos à mitologia grega.
Merkel é, na mitologia germânica, a deusa correspondente ao deus Zeus dos romanos, o que permite assemelhar “O Rapto da Europa por Zeus” ao Rapto da Europa por Merkel, da qual Lenine, em prosa, o que já Ovídeo tinha antecipado em poesia, nas “Metamorfoses” (Livros II, 836-875; :, 1-2), traduzido por Bocage.
Por o quadro mitológico ter merecido a atenção de muitas artistas peço vénia para apresentar os mais representativos: Albrecht Dürer, Correggio, François Boucher, Gustave Moreau, Paolo Veronese, Rembrandt, Rubens, e Tiziano.
Aproveita-se a oportunidade para apresentar O nascimento dos Deuses Gregos, dos quais está a estatuária helénica bem recheada, com influência na religião cristã pela representação dos Santos em imagens e estátuas.
Ulysses
O mito é o nada que é tudo
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo –
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos braços.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre
De nada, morre.
Fernando Pessoa
O maestro John Cage compaginando, pelo silêncio, O mito é o nada que é tudo, compaginando a asserção final de Fernando Pessoa, no seu Ulysses:
… … … … …
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre
De nada, morre.
Meu caro e erudito Amigo Dr. João Boaventura:
que voltas foi dar para chegar ao Pessoa e ao seu infeliz Ulisses! JCN
O joão boaventura errou
Correcção ao texto das 15:39
Deve ler-se:
Merkel é, na mitologia germânica, a deusa correspondente ao deus Zeus dos GREGOS, o que permite assemelhar “O Rapto da Europa por Zeus” ao Rapto da Europa por Merkel, da qual Lenine DISSE em prosa, o que já Ovídeo tinha antecipado em poesia, nas “Metamorfoses” (Livros II, 836-875; :, 1-2), traduzido por Bocage.
.......................
Correcção ao texto das 15:53
Deve ler-se:
O maestro John Cage compaginando, pelo silêncio, "o mito é o nada que é tudo", com a asserção final de Fernando Pessoa, no seu Ulysses.
Com as minhas desculpas
LEONARDO DA VINCI
Pelas paredes a carvão pintadas
meu quarto de estudante estava cheio
das suas expressões mais afamadas,
que lá perdurarão, segundo creio.
Durante toda a minha juventude
foi meu modelo, como é hoje ainda,
pois que, por mais que uma pessoa mude,
nosso primeiro sonho nunca finda.
Eu nele via a perfeição suprema
da criatura humana, cujo tema
me despertava a máxima atenção.
Que longe fiquei dele! Se no resto
de confessar eu tive que não presto,
à frente lhe passei... pela paixão!
JOÃO DE CASTRO NUNES
Hoje estou, manifestamente em dia não.
Por qualquer inépcia minha não consegui abrir, no meu primeiro comentário, o Nascimento dos Deuses Gregos, o que ora corrijo, com a devida vénia.
Aproveita-se a oportunidade para acrescentar, relativamente às músicas, quais as introduzidas pela autora do clip:
“Para a introdução usei o tema do filme "Gladiador - The Battle", de Hans Zimmer e Lisa Gerard. Em seguida, usei o grupo grego Vangelis, com a música "1492 - A Conquista do Paraíso" e finalizei com "Dance with Wolves" de Ennya e Yanni.”
Apresenta-se o “Rapto da Europa por Zeus”, de Ovídio que, por ser romano, optou por Júpiter que era o Zeus dos latinos.
“O Rapto da Europa por Júpiter”
O grão Jove o Céu Mercúrio chama,
E sem lhe declarar o amor, que o fere,
“Vai, ministro fiel dos meus decretos,
Vai, filho meu, côa sólita presteza;
Desce à Terra (lhe diz) donde se avista
Tua mãe reluzindo à sestra parte,
E que os seus naturais Sídon nomeiam.
O armentio real, que ao longe a relva
No monte anda a pascer, dirige à praia”
Disse, e já da montanha o gado expulso
Caminha à fresca praia, onde costuma
S do sidónio rei mimosa filha
Espairecer, folgar côas tírias irgens.
A majestade, e amor não bem se ajustam:
Jamais o mesmo peito os acomoda.
Do cetro a gravidade enfim depondo
O pai, e o rei dos deuses, Jove, aquele
Que armada tem do raio a sacra destra,
E que ao mínimo aceno abala o mundo,
Veste forma taurina entre as manadas
Muge, e pisa formoso as brandas ervas.
É cor da neve, que nem pés calacram,
Nem côas asas desfez o Sol chuvoso;
Alteia airosamente o móbil colo;
Das espáduas lhe pende, e bambaleia
A cândida barbela, as breve4s pontas
Da industriosa mão lavor parecem,
Ganham no lustre à pérola a mais pura.
Não tem pesado cenho, olhar terrível,
Antes benigna paz lhe alegra a fronte.
A filha de Agnor admira o touro.
Estranha ser tão belo, e ser tão manso,
Ao princípio, inda assim, teme tocar-lhe;
Vai-se depois avizinhando a ele,
E as flores, que apanhou, lhe aplica aos beiços.
Ei-lo já pela relva salta, e brinca,
Já põe na fulva areia o níveo lado.
À virgem pouco a pouco o medo extingue,
E agora of’rece brandamente o peito
Só para que lho afague a mão formosa,
Agora as pontas, que a real donzela
De recentes boninas lhe engrinalda.
Ela, enfim, que não sabe a que se atreve,
Ousa nas alvas costas assentar-se.
De espaço à beira-mar descendo o Nume,
Põe mentiroso pé n’água primeira,
Vai depois mais avante… enfim, nadando,
Leva a presa gentil por entre as ondas.
Ela de olhos na praia, ela medrosa
Segura uma das mãos numa das pontas,
Sobre o dorso agitado a outra encosta;
Enfuna o vento as sussurrantes vestes.
Despida finalmente a falsa imagem,
Eis aparece o deus, eis brilha Juve,
E em teus bosques, ó Creta, Amor triunfa !
Ovídio,
(Metamorfoses, Livros II, 836-875; III, 1-2)
(traduzido por Bocage)
O HOMEM DE VITRÚVIO
A harmonia suprema do universo
o corpo humano tem como padrão,
pois nele se efectua a perfeição,
quer visto pelo verso ou pelo inverso.
Conforme Leonardo o figurou,
de frente, ambos os braços distendidos,
pernas abertas ou de pés unidos,
do ser humano as proporções traço.
Num círculo metido e num quadrado,
com pés e mãos tocando em cada lado,
tudo em seu corpo é franca simetria.
Como um sábio filósofo dizia
na Grécia antiga, nós somos a medida
de tudo quanto existe nesta vida!
JOÃO DE CASTRO NUNES
Também em Strasbourg, defronte do "Edifício Winston Churchill", parte também da sede do Parlamento Europeu, existe uma estátua representando o Rapto de Europa.
Finalmente apresenta-se a moeda de dois euros, cunhada pela Grécia, com o simbólico e mitológico Rapto de Europa, também a circular entre nós. Duas delas já passaram pelas minhas mãos.
Para ver qualquer das duas imagens – a estátua e a moeda – com mais nitidez, é pressionar o ctrl (controle) e rodar a roda do rato para a frente,
Se fosse nos dias de hoje, em vez de ser elevado à categoria de mito, Zeus não se livrava da cadeira eléctrica, a não ser que fosse julgado... pelos tribunais portugueses! JCN
Oi, é só para dizer o desenho original é mesmo de Vitruvio, veio nos seus tratados de Arquitectura, onde ele desenhou um homem dentro de um quadrado, mas teve de lhe aumentar desproporcionalmente as mãos e pés para funcionar. Leonardo fez uma versão mais completa ( ao acrescentar o círculo) e mais anatomicamente correcta dessa ideia
As implicações desse texto de Vitruvius são bem mais vastas que os aspectos meramente simbólicos, tanto na compreensão da matemática utilizado pela natureza quer na nossa arquitectura actual (vide por exemplo o trabalho de Corbusier). Para que não se atribua erradamente a Lenardo o texto Vitruviano deixo aqui o texto original: "Quando se coloca um homem com a boca para cima, com as suas mãos e pés esticados, situando o centro do compasso no seu umbigo e traçando uma circunferência, esta tocaria a ponta de ambas as mãos e dos dedos dos pés. Da figura circular traçada sobre o corpo humano também podemos obter um quadrado: quando se mede desde a planta dos pés até à parte superior da cabeça , a medida resultante será a mesma da que se mede entre as pontas dos dedos com os braços estendidos; a sua largura mede exactamente o mesmo que a sua altura, como o quadrado que traçamos a esquadro" Pedro Soutinho
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