terça-feira, 30 de novembro de 2010
Universo Observável
A propósito do texto do Miguel Gonçalves e dos meus textos recentemente aqui e aqui colocados a propósito do Universo observável e existência de energia e matéria negra em quantidades quase totalitárias, ocorreu-me uma história que a seguir conto, numa adaptação minha. Aliás, quando me interrogo sobre o "universo", como objecto de estudo e de observação através do método científico, esse exemplo surge imediata e recorrentemente.
“Numa noite escura que nem breu, um sujeito percorre uma rua. Aproxima-se de uma zona iluminada pelo único candeeiro público que conhece. Verifica que há um outro sujeito à procura de algo na zona iluminada e pergunta-lhe:
- Desculpe, anda à procura de alguma coisa?
- Sim, da chave de minha casa? – Responde atarefado o segundo sujeito.
- Tem a certeza de que foi aqui que a perdeu? – Retorque o primeiro.
- Não, mas esta é a única zona iluminada onde a posso procurar.”
Esta breve e anedótica história é uma boa caricatura do trabalho científico: mesmo que teoricamente seja provável que a "chave" esteja logo ali ao lado da zona iluminada, só quando tivermos tecnologia que nos permita estender a procura nesse lado é que poderemos efectuar observações.
As luas de Júpiter já orbitavam este planeta no tempo de Ptolomeu, mas foi preciso observar através da luneta de Galileu para as encontrar.
A energia e matéria negra são pressentidas para explicar o nosso actual modelo do Universo, mas precisamos da tecnologia dos aceleradores de partículas para as podermos encontrar e caracterizar.
Por outro lado, é espantosa a capacidade preditiva dos modelos científicos que "guiam" os desenvolvimentos tecnológicos à procura de novas observações que eventualmente os possam comprovar, mas que também poderão demonstrar que estavam desajustados da realidade.
Mas também não basta possuir uma forma inovadora de observação do universo. É preciso fazer a pergunta certa e procurar no sítio onde está a chave.
É assim a ciência.
António Piedade
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2 comentários:
excelente.
Mesmo achando a fechadura
dos segredos do universo,
só Deus terá, porventura,
a chave do seu acesso!
JCN
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