Destaque para a crónica semanal do médico J.L.Pio de Abreu no "Destak":
O gabarola é uma figura típica da nossa cultura. Treina-se em miúdo, contando que more no primeiro andar ou mais acima.
Se tiver estas condições, o miúdo gabarola não perde a oportunidade de provocar uma rixa à frente da sua porta. Enquanto a guerra é só de garganta, não há problema. O gabarola tem a língua afiada e até pode impressionar. Mas se chegasse a vias de facto, ele não teria hipótese.
Então, quando as coisas aquecem, o nosso gabarola foge para casa e vai para a janela. Aí, defendido dos murros dos outros, alteia o desafio:
«É pá, vem cá acima que eu te digo, faço-te num oito, seu fdp, vê lá se consegues, parto-te os cornos.»
Esbraceja e dá murros no ar, enquanto os outros assistem ao espectáculo. Quem já o conhece ri-se, mas os novatos da refrega podem bater palmas.
E os alvos do seu verbo indignam-se, impotentes.
Quando for grande, o gabarola continuará a provocar rixas e a fugir para a janela. Há janelas de sobra neste mundo do espectáculo.
E como a cena é forte, ele vai ter plateia e comentadores que o promovam. Os ressentidos contra a vida e contra os chefes começam a adulá-lo. E o nosso gabarola treina-se cada vez mais na sua gabarolice.
O tempo está para os gabarolas. Sabem tudo, vencem batalhas virtuais, têm as soluções. Em tempos difíceis tornam-se os heróis da insatisfação. Mas não descem ao terreno, não chegam a vias de facto nem sujam as mãos. O seu mester é só de garganta, o que não quer dizer que não façam mal.
J. L. Pio de Abreu
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
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5 comentários:
Aos gabarolas de agora
dá-se o nome de humaanóides,
uma espécie de asteróides
dos humanistas de outrora!
JCN
Gabarola, labrego e similares
Mas não descem ao terreno, qual terreno
duvido que um escrevinhador burocrático como vocemecê suje as mãos....
O seu mester é só de escrita, o que não quer dizer que não façam mal.
Pio de Abreu
Não chega ao céu
Ou ao seu
apostava em professor
sofrem deformações profissionais graves
têm a ilusão que ensinam
e que formam ao deformar
respeitoso e cordial.....
se calhar é
Chega mesmo a haver governos e oposições quase só de gabarolas.
Condição que também abrange os amigalhaços (por vezes comuns) de uns e de outros.
Versejando na linha do pensamento do Dr. José Batista da Ascenção:
Gabarolas no governo
houve sempre e haverá:
é um fenómeno eterno
que jamais acabará!
Mas também na oposição
há desta laia de gente
em frontal competição
de maneira impertinente!
Para além destes dois grupos,
há seus amigos ainda
que partilhando os apupos
fazem parte da berlinda!
JCN
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