Há dois anos tive de falar sobre Einstein na Feira do Livro e quando preparava a apresentação deparei com este anúncio. Lembro-me de na altura o ter comparado com a publicidade que passava na televisão atrás de mim ou que ornamentava as ruas de Lisboa e de me ter interrogado porque razão a ciência e os cientistas deixaram de ser considerados modelos «vendáveis» pelos publicitários, uma classe sempre atenta às predilecções do mercado.
Investiguei um pouco o tema e descobri que, especialmente depois da sua morte em 1955, Einstein foi mote de campanhas publicitárias sortidas - incluindo o catálogo de lingerie da Pennaco Hosiery que exortava as compradoras a acreditar na teoria da relatividade - , implicando os «anúncios Einstein» que os consumidores eram suficientemente inteligentes para comprar o produto ou que se tornariam mais inteligentes se o fizessem.
Os «anúncios Einstein» eram assim uma indicação de que os publicitários consideravam que Einstein era um modelo para a população em geral que venderia melhor o seu produto.
Pelo menos no Portugal de hoje não estou a ver uma marca de cerveja a considerar Einstein como protagonista nem os anúncios com que somos agraciados nos media ou em outdoors se destacam por um apelo à inteligência dos consumidores - estou a lembrar-me de um irritante anúncio nem me lembro a quê que insistia num «explica-me como se eu fosse muito burra» - muito menos usam como modelos, já não digo um prémio Nobel da Física, mas um cientista conhecido.
Aliás, estou certa que a esmagadora maioria da população, incluindo os ditos publicitários, nem sabe o nome dos prémios Nobel da Física de 2006 não obstante o trabalho dos astrofísicos George Smoot e John Mather sobre a origem do universo e sobre o Big Bang serem pelo menos tão fascinantes quanto a relatividade.
Mas não são apenas os anúncios nos nossos media que desvalorizam a inteligência e o saber e muitas vezes menorizam a escola, local de eleição de desenvolvimento da primeira e das capacidades cognitivas e de consolidação do saber. O padrão mantem-se nas séries nacionais e especialmente nos concursos - nomeadamente este «A Bela e o Mestre» em que a beleza é equivalente a burrice e ignorância e a inteligência e conhecimento são embrulhados no monstro que o título subentende.
Tudo isto me deixa a interrogação sobre porquê a nossa sociedade deixou de considerar a inteligência e o conhecimento como desejáveis e passou a ter como modelos os vencedores de Big Brothers e afins e não Einstein's...
10 comentários:
É giro que o anúncio de Einstein e da cerveja é um anúncio evolucionista.
Lembro-me de há uns tempos ter visto um anúncio da Guiness ainda mais evolucionista, um regresso ao passado aos nossos antepassados anfíbios.
Hoje em dia é raro um anúncio claramente evolucionista. Nos Estados Unidos a imprensa e a publicidade tem uma trabalheira enorme em evitar sugerir evolução.
Os vírus da gripe deixaram de evoluir, as bactérias tornam-se resistentes aos antibióticos por obra e graça do espírito santo, etc..
Acho isso tão sintomático como a promoção da burrice, do dinheiro fácil, das baldas, etc.
Pois é. A inteligência implica evolução, e é por isso que se está a esconder, a toda a força, a inteligência debaixo do tapete!
Levada ao extremo, esta atitude de negar a evolução, também negaráa evolução do conhecimento humano. Para quê ensinar as criancinhas e os adultos? Se Deus nos colocou cá no mundo, sem conhecimentos e incultos, é porque esse era o seu plano, o seu Inteligent Design. Se uma pessoa for inteligente forçosamente vai evoluir e isso é altamente blasfemo. Perigosíssimo!
" Nos Estados Unidos a imprensa e a publicidade tem uma trabalheira enorme em evitar sugerir evolução "
Se calhar é por isso, NÃO SÓ MAS DESDE LOGO, que os EUA estão como estão e Portugal estã como está em termos de ciência
VIVA A BELAS SOBRETUDO SE TB FOREM MESTRAS,
LOL
Isso faz-me lembrar um filme (mauzinho) que por aí anda, chamado Idiocracy. Nele, um soldado americano, de inteligência média (segundo dizem, até porque mais à frente dá a ideia de ser um bocadinho burro) é congelado numa experiência científica e acorda 500 anos no futuro. Só que este futuro "desevoluiu", com os mais idiotas a conseguirem propagar os seus genes (à custa de se reproduzirem mais que os inteligentes) e onde o tal soldado se torna a pessoa mais inteligente do mundo.
É um facto que é um filme, cheio de asneiras lógicas (mesmo com as baixas expectativas iniciais) e cuja intenção nem sequer é a de ir mais longe que o entretenimento bacoco que pretende criticar. Ainda assim não deixa de fazer pensar que o mundo (especialmente partes do mesmo) está a ir nessa direcção. Para uma imbecilização da sociedade. O facto de os anúncios terem prescindido dos cientistas para optarem pelos idiotas é um sintoma claro disso.
Palmira,
O programa da TVI também fomenta preconceitos do género "As mulheres são burras e os homens são génios".
Assim, além da burrice se ter transformado em espectáculo, acaba por ficar associada às mulheres.
Lindo serviço que a TVI presta a este país!
Mase se fosse algo do tipo " O belo e a mestra " será q o último comentador se manisfestava ?
David,
O programa tem sido condenado por fazer da burrice um espectáculo.
Mas parece que poucos perceberam que também recorre a um estereotipo machista perfeitamente inaceitável. Foi isso que quis salientar.
Mas tu achas aceitável esse estereotipo?
Apenas vi cerca de 5 minutos do programa no dia da apresentação, mas interrogo-me sobre quem terá os " neurónios mais curtos". Se as belas, se os mestres? Não me parece que um autêntico mestre se dispusesse a toda aquela degradação do ser humano.
Marco,
Desculpe mas eu não percebi o pq da sua última frase:
" Mas tu achas aceitável esse estereotipo? "
O q é q o Marco vé de tão, inaceitavel ????
É q eu nao percebi e olhe que muitas mulheres tb não..
De facto dou razão ao comentador Paulo: " interrogo-me sobre quem terá os " neurónios mais curtos". Se as belas, se os mestres? "
Tirando aquele jovem q faz para copm a Telma Mateus os outros... são mestres lá na rua deles e chegou...
Mas o programa tem parte TOTALMENTE hilariantes, lá isso tem...
"Tudo isto me deixa a interrogação sobre porquê a nossa sociedade deixou de considerar a inteligência e o conhecimento como desejáveis e passou a ter como modelos os vencedores de Big Brothers e afins e não Einstein's..."
há quem defenda que os homens criam os seus modelos à sua imagem e semelhança. é o chamado mecanismo de projecção. é mais fácil e está mais perto ser um "zé maria" (o rapaz que me desculpe) do que um Einstein.
Enviar um comentário