Recebi na minha caixa de correio o seguinte extracto duma, como se diz nos telejornais, alegada auto-avaliação dum aluno português.
Perguntei à pessoa que me enviou a prosa se ela era da autoria de aluno conhecido e, se sim, em que ano ou nível de ensino está. Não me soube dizer: é (mais) um texto que circula pelas caixas de correio electrónico.
Não obstante, guardei-o e aqui o reproduzo porque me suscitou várias inquietações que partilho com o leitor:
- Será verdadeiro? Ainda que seja forjado, uma imitação da escrita de alunos, pode ser verdadeiro. Tenho visto textos como este;
- Em que etapa da escolaridade se escreve assim? O texto situa-nos no segundo ou terceiro ciclos do ensino básico (onde os alunos são classificados numa escla de 1 a 5), ou seja entre o 5.º e o 9.º ano. O que significa que, sendo o texto verdadeiro, os alunos podem transpôr o primeiro ciclo sem dominarem regras básicas de escrita, usarem um vocabulário reduzidíssimo e do quotidiano, etc.;
- Não obstante, é possível, em termos de avaliação, atingirem um nível 3, positivo, portanto;
- E é possível pedir-se uma auto-avaliação aos alunos. Será que a ideia é levá-la em conta? Para quê?
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
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8 comentários:
Bem observado. Não obstante, a auto-avaliação é sempre útil, mesmo que avalie o nulo, o inavaliável e o impossível.
Parece mau demais para ser verdade...praticamente todas as palavras estão escritas com erro!
Custa-me comentar assuntos deste tipo. Por vários motivos.
Um deles é que este tipo de "documento" tanto pode ser verdadeiro como falso. E não é preciso, para este efeito, por excesso de matéria disponível, dar à estampa o que carece de comprovação de veracidade.
Um dia destes chegou-me à caixa de correio um pequeno filme sobre um aluno de 8º ano em que o próprio esclarecia que nem o nome sabia escrever, e que não entendia nada nem sabia nada das matérias que se ensinavam nas aulas. Depois, aparecia a diretora da escola a justificar o fato de o menino estar no oitavo ano por ter melhorado imenso, etc, etc... Fiquei sem saber qual seria o estado do seu saber, antes de ter melhorado...
Agoniado, apaguei a mensagem e procurei esquecer o fato.
Um caso conheço eu de um aluno com paralisia cerebral, por acaso simpático, no dizer da sua professora de português, porque, diz ela, sorri sempre que lhe falam, mas que se baba intensamente e a quem ela não se entende nenhum do sons que emite. Esse aluno está sempre na sua cadeirinha, de onde não pode sair, e nela assiste às aulas no seio de uma turma de alunos comuns, provavelmente em número mais reduzido. Está no 10º ano. Dizem que é para se integrar. E que a escola tem que ser inclusiva. E até é, disso eu tenho a certeza. Do que duvido inteiramente é de certas formas de integração.
E isto passa-se, é real. Ou irreal? Já nem sei.
Entretanto, vamo-nos consumindo com supostos sistemas de avaliação de professores, que não avaliam coisa nenhuma. Ou avaliam? Também (já) não sei... Pelo menos andamos nesta palhaçada há anos. E os professores, pelo menos os que sempre considerei bons, não se integram... Para eles, a escola deixou de ser inclusiva...
Quanto à autoavaliação chamei-lhe um dia "um mito com consequências". É uma vergonha e um nojo que alguém seja juíz em causa própria. Para mais crianças. A escola é, a este título, uma negação das regras elementares da vida social e da necessária limitação dos instintos. Não só se leva em conta a "autoavaliação" como se exige aos alunos que, muitas vezes, a não querem fazer. E há mesmo fórmulas, de professores mais "avançados", que a consideram um entre vários parâmetros a ter em conta. O que muitos não dizem é que, quando os alunos se alargam, usam eles o truque de lhes diminuir um qualquer outro parâmetro, subjectivamente (des)propositado.
E é assim.
E é assim desde há décadas. Impressiona-me que haja quem não queira olhar e ver.
Mas é assim.
Para onde vais, escola do meu país?
Há que refletir sobre a ortografia, o vocabulário e a pontuação, mas também sobre o que os professores fazem e porque fazem (comentário insuspeito, porque pertenço a essa classe profissional, conheço vários alunos que poderiam ser os autores do texto e vários professores que apenas o utilizariam pelo caráter anedótico).
Mas, terão de concordar: há que sorrir, quando alguém afirma que 'mulherou' muito!
Reflita-se sobre a avaliação e a educação. Sem isso, não avançaremos, na Escola ou fora dela.
Corrigenda: escrito à pressa, o comentário que fiz anteriormente tem uma passagem: "a quem ela não se entende nenhum do sons que emite", em que o "se" está a mais.
Já agora acrescento que a minha opinião sobre o conceito de autoavaliação não invalida a reflexão e a crítica sobre o que se fez ou não fez, e o modo como se fez, nem o direito de reclamação quando alguém é prejudicado em matéria de avaliação. O que não aceito, repito, é que nos transformemos em juízes em qualquer causa em que sejamos diretamente interessados. De resto, já aconteceu, pelo menos duas vezes, em acções de formação que frequentei, num dos casos ministrada pelas estruturas do ministério da educação, ser prejudicado na classificação, por me recusar a fazer a dita autoavaliação, mesmo conhecedor da fórmula em que aparecia a percentagem correspondente.
E, já que estou nisto, confesso que ainda não percebi as vantagens de escrever diretor ou fato. Parece, aliás, segundo algumas opiniões, que os fatos podem continuar a ser factos, que não é erro.
Nem se perde nada.
O texto do Caro José Batista da Ascenção é tão claro que até arrepia. Auto avaliação... inclusão...! E ainda dizemos que as crianças brincam? Obrigar miúdos de 11 ou 13 anos a fazer a sua auto avaliação é completa e absolutamente ridículo e tontamente patético. Obrigar alunos com problemas óbvios a frequentar escolas de alunos sem esses problemas é pior que a tortura, porque estes alunos todos os dias e todas as horas se vêm obrigados a sentirem-se... bem, prefiro não o dizer! Mas parece que é pós moderno alguns adultos obrigarem os alunos e os professores a fazerem figuras muito tristes e em muitos casos até humilhantes.
Os comentários mostram mais reflexão e até um léxico mais vasto do que o do cachopo, mas tão estropiadinho ele se apresenta que dá dó, coitado!...
Cumpts.
O texto faz referência a um falante da língua portuguesa de portugal, a alguma região distante dos polos económicos. Nota-se uma troca comum entre as consoantes labiais constritivas e oclusivas "b", "v" e "f", dignas de qualquer aluno entre os 8 e 16 anos, independente do nível escolar. Nas nossas escolas brasileiras o que mais se nos apresenta é um sistema escrito associado a pronúncia da fala. Erro comum a todos. O texto acima é essencial para esclarecer aos alunos que há uma diferença lógica entre fala e escrita. Somente.
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