quinta-feira, 17 de março de 2011
PARA SER LIDO, MEDITADO E...COMENTADO
“O professor medíocre diz, o bom professor explica, o professor superior demonstra e o grande professor inspira” (William Arthur Ward, 1921-1994).
Numa altura em que, para Portugal, se procura inspiração em modelos educativos estrangeiros, como se deixasse de ter razão o ditado português “cada terra com seu uso, cada roca com o seu fuso”, surge-nos agora um artigo, intitulado, “Professores deviam ganhar mais, em troca de uma avaliação rigorosa de desempenho”, da autoria do jornalista Nicholas Kristof, publicado no jornal "I” (16/03/2010), que, se outros méritos não tivesse, tem, pelo menos, este: “Nas costas dos outros lemos as nossas”.
Transcrevo-o literalmente:
“Quem acompanhou os debates no Wisconsin e noutros estados americanos acerca dos sindicatos de funcionários puúblicos pode ter ficado com a impressão que as finanças desses estados estão a ponto de se afundarem porque os professores ganham de mais.
Ora isto não passa de um erro perigoso. O principal problema da educação nos EUA é, pelo contrário, os professores não serem suficientemente bem pagos. Se quisermos competir com os outros países, temos de pagar mais aos professores para atrair os melhores para a profissão.
Até há algumas décadas, a discriminação sexual no mercado de trabalho tinha o efeito perverso de beneficiar a qualidade do ensino. Muitas mulheres brilhantes tornaram-se professoras de escola primária porque os melhores empregos não estavam ao seu alcance. Era profundamente injusto, mas beneficiou as crianças americanas.
Hoje as mulheres brilhantes tornam-se cirurgiãs ou banqueiras, e 47% dos professores americanos, do jardim-de-infância ao 12.o ano, saíram dos 30% de finalistas menos bem classificados das suas faculdades. Os dados são de um estudo da McKinsey, "Closing the Talent Gap".
As mudanças nas retribuições relativas reflectem o problema. Em 1970, em Nova Iorque, um professor principiante numa escola secundária pública ganhava menos cerca de 2 mil dólares por ano que um advogado em princípio de carreira num dos melhores gabinetes da cidade. Hoje o mesmo advogado leva para casa mais 115 mil dólares que o professor, concluiu o estudo.
Intuitivamente, todos percebemos a importância de ter um grande professor. Estou a pensar em Juanita Trantina, que deixou a minha turma do 5.o ano embriagada com a excitação de aprender e fascinada com tudo aquilo de que ela falava. O leitor provavelmente também tem uma Missa Trantina no seu passado.
Uma das conclusões de um estudo recente realizado em Los Angeles foi que um professor do grupo dos 25% mais capazes precisava de apenas quatro anos de seguida para eliminar a diferença de resultados académicos entre alunos pretos e brancos.
Os estudos mais recentes sugerem que os bons professores, mesmo da infantil, contribuem para aumentar os rendimentos dos alunos, muitos anos mais tarde.
Eric A. Hanushek, da Universidade de Stanford, chegou à conclusão de que um excelente professor (melhor que 84% dos colegas) contribui para um aumento médio de 20 mil dólares dos rendimentos futuros dos seus alunos. Se este professor tiver 20, isto representa um ganho extra de 400 mil dólares, em comparação com um professor que é apenas regular.
Um professor melhor que 93% dos restantes contribuiria para um aumento do rendimento de uma turma de 20 alunos ao longo da sua vida no valor de 640 mil euros, conclui o mesmo estudo.
Chegou o momento de confessar que não sou fã dos sindicatos de professores. Durante muito tempo, mais que lutar por melhores salários lutaram pela segurança dos empregos, o que tornou o trabalho de professor mais apetecível para os medíocres. As regras no meio são muitas vezes inflexíveis, os benefícios são generosos em comparação com os salários e é difícil ou mesmo impossível despedir maus professores.
No entanto, nada disto significa que os professores ganhem de mais. E se os governos querem reduzir reformas e segurança no emprego, têm de compensar pagando melhor. Além disso, parte da compensação está no prestígio social. Quando os governadores troçam da classe dizendo que os professores são todos uns preguiçosos, uns gananciosos e uns incompetentes, estão a diminuir a profissão e a tornar cada vez mais difícil atrair os melhores e os mais inteligentes. Devíamos aclamar os professores, e não atirar-lhes farpas.
Consideremos três países com uma excelente reputação em matéria educacional: Singapura, a Coreia do Sul e a Finlândia. Em todos eles, os professores saem dos 30% de estudantes mais bem classificados, são respeitados pelas comunidades e ganham bem (um pouco menos no caso da Finlândia). Na Coreia do Sul e em Singapura, os professores em média ganham mais que os advogados e os engenheiros, concluiu o estudo da McKinsey.
"Se não pagarmos mais, não vamos conseguir melhores professores", observa Amy Wilkins, do Education Trust, uma instituição que luta pela reforma do ensino. Do mesmo modo, Jeanne Allen, do Center for Education Reform, diz: "O que achamos é: paguem- -lhes 100 mil dólares por ano, paguem-lhes o que for preciso!"
Tanto Wilkins como Allen acrescentam que o salário deve depender do desempenho e de uma avaliação rigorosa. A ideia parece-me fazer sentido.
O salário de entrada, actualmente de cerca de 39 mil dólares por ano (28 mil euros), teria de subir para 65 mil dólares (46 mil euros) para conseguirmos corresponder às necessidades actuais com alunos de topo, diz o mesmo estudo da McKinsey. Ora isto seria uma pechincha.
Faz todo o sentido cortar outros custos para poder aumentar os salários dos professores. Os últimos trabalhos de investigação sugerem que os estudantes teriam a ganhar com trocar um bom rácio professor/estudantes por bons professores. Assim, há cada vez mais quem defenda um modelo à japonesa, com turmas grandes mas professores muito bons, respeitados e bem pagos.
A profissão de professor distingue-se das restantes por ser mal remunerada, apesar da forte protecção sindical, e pela rigidez das promoções. O modelo de retribuição é semelhante ao fabril, e os que o criticam estão carregados de razão. Mas a verdade é que devíamos pagar mais aos professores, e não menos, e os políticos que os acusam falsamente de ser gananciosas estão simplesmente a dificultar a selecção do tipo de professores acima da média que as nossas crianças acima da média merecem”.
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8 comentários:
O verdadeiro professor é realmente aquela personalidade que se constitui em padrão de vida para os seus alunos, inequivocamente: a sua referência comportamental por excelência, aquilo que raramente o aluno encontra, infelizmente! JCN
Concordo em absoluto com o texto. Mas sei que em Portugal esta discussão não acontecerá tão cedo, porque muito mais importante que ter um bom ensino é ter milhares de jobs for de boys and girls.
Prezadíssimo JCN: Infelizmente isto é letra morta para certas cúpulas sindicais que entendem que os professores portugueses são todos muito bons ou, na pior das hipóteses, bons. Nesta perspectiva, todos os professores "inspiram", embora nem todos transpirerem.
Não será isto um verdadeiro atentado à dignidade dos esforçados professores? Ou seja, venturoso país este… e mais não digo! Já me chega o risco de quem diz a verdade ser tomado por fascista e quem mente por progressista.
Cordiais cumprimentos
Prezadíssimo Fartinho da Silva:
Infelizmente, logo a seguir ao 25 de Abril o ensino tornou-se numa espécie de escoador de quem nem sabia sequer pôr meias solas.
Assim, uns tantos boys e uma tantas girls, com respaldo em Eça, eram ( e tantas vezes continuam a ser) “em filosofia turistas facilmente cansados e em ciência diletantes de coxia”, obtendo posteriormente diplomas que não valem um caracol furado para subirem na carreira; outros, mais vivaços, entregaram-se nos braços generosos da política, com os resultados à vista de toda a gente. As poucas excepções, confirmam a regra...
Cordiais cumprimentos,
Estes vídeos falam por si:
http://www.youtube.com/watch?v=5ZxM34BQxQ4
Entrevista a ouvir:
Parte 1/3
http://www.youtube.com/watch?v=amOQOG3o9DA
Última linha do 1.º§ do meu comentário (17:19): transpirerem, não; transpirem, sim.
Dizer é sempre oportuno
que um professor invulgar
constitui para o aluno
um tesouro singular!
JCN
Na cultura japonesa qualquer um dá aulas a 40-50 alunos. Aqui nem a 10. Aliás, é uma pena não haver leis que metessem a dar aulas no básico os milhares e milhares de professores de "bancada" que são simplesmente fabulosos. É uma pena os milhares de excelentes professores que se perderam para a carreira, e que estão agora a exercer outras profissões, quem sabe, com uma enorme frustração.
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