Por A. Galopim de Carvalho
Já o disse e não é demais repetir que, por razões dinâmicas, decorrentes dos diâmetros das respectivas partículas, o silte e a argila reagem de modo semelhante aos agentes de transporte (em suspensão na água ou no ar) e têm por destino os mesmos ambientes de sedimentação: os mais distantes das fontes, os mais profundos, os mais tranquilos ou menos energéticos. Neste termos, os SILTITOS são quase sempre argilosos e os ARFGILITOS, quase sempre siltosos. Dado o teor de alumina próprio dos minerais argilosos (silicatos hidratados de alumínio), alguns autores utilizam a expressão rocha aluminosa em vez de rocha argilosa. Para estes autores, os pelitos são, via de regra, rochas aluminosas.
Em suspensão nas águas, as argilas acabam por decantar ou sedimentar por imobilização destas, fazendo-o, muitas vezes, depois de flocularem, isto é, de se aglutinarem entre si, constituindo agregados de partículas, mais rapidamente atraídos para o fundo.
Muita da poeira atmosférica é constituída por finíssimas partículas argilosas e siliciclásticas, de dimensão equivalente, levantadas do chão pelo vento, em tempo seco. É frequente, por exemplo, em Lisboa, no Verão e na sequência de “borrifos” de chuva, com vento suão, essa precipitação estival ser algo lamacenta, uma vez que incorpora as referidas poeiras vindas do Alentejo e, até, do norte de África. Nestas ocasiões, o fenómeno é particularmente bem visível nos pingos de lama sobre a pintura brilhante dos automóveis estacionados na cidade e dá-nos a confirmação do transporte destes materiais em suspensão na atmosfera.
Muita da poeira atmosférica é constituída por finíssimas partículas argilosas e siliciclásticas, de dimensão equivalente, levantadas do chão pelo vento, em tempo seco. É frequente, por exemplo, em Lisboa, no Verão e na sequência de “borrifos” de chuva, com vento suão, essa precipitação estival ser algo lamacenta, uma vez que incorpora as referidas poeiras vindas do Alentejo e, até, do norte de África. Nestas ocasiões, o fenómeno é particularmente bem visível nos pingos de lama sobre a pintura brilhante dos automóveis estacionados na cidade e dá-nos a confirmação do transporte destes materiais em suspensão na atmosfera.
A maior parte das rochas habitualmente adjectivadas de argilosas, como são os XISTOS ARGILOSOS, só o são no aspecto. Na realidade, são formadas por uma mistura de partículas realmente argilosas (argilominerais) com outras de silte, no qual predomina o quartzo. Os xistos argilosos representam cerca de 80% das rochas sedimentares.
São muitas e diversas as ocorrências de rochas silto-argilosas nas séries continentais siliciclásticas mesozóicas e cenozóicas, onde constituem, geralmente, intercalações lenticulares no seio de arenitos, uma associação a que já se fez a devida referência. Muitas das “argilas” citadas na nossa bibliografia geológica referente a estas unidades estratigráficas são, de facto, misturas silto-argilosas. Correspondem, no conjunto, aos "mudstones" (1) (de "mud", lama) dos geólogos de língua inglesa, termo que os brasileiros traduziram como "lamito", um nome que ainda não entrou no nosso vocabulário da especialidade.
São muitas e diversas as ocorrências de rochas silto-argilosas nas séries continentais siliciclásticas mesozóicas e cenozóicas, onde constituem, geralmente, intercalações lenticulares no seio de arenitos, uma associação a que já se fez a devida referência. Muitas das “argilas” citadas na nossa bibliografia geológica referente a estas unidades estratigráficas são, de facto, misturas silto-argilosas. Correspondem, no conjunto, aos "mudstones" (1) (de "mud", lama) dos geólogos de língua inglesa, termo que os brasileiros traduziram como "lamito", um nome que ainda não entrou no nosso vocabulário da especialidade.
Quando os pioneiros alemães faziam uso do termo pelito (do grego "pelos", lama) e os americanos introduziam o termo LUTITO (do latim "lutu", lama, vasa) para designar o mesmo tipo de sedimentos silto-argilosos, estava-se ainda longe de separar as duas classes dimensionais (siltes e argilas) neles reunidas e só mais tarde definidas na escala, internacionalmente aceite, de Wentworth (1922). Com o mesmo significado granulométrico de pelito, o lutito é, para alguns autores, restrito aos materiais não coesos (móveis), reservando-se o primeiro destes dois nomes para as correspondentes rochas consolidadas.
Em 1834, o inglês Charles Lyell introduziu na literatura geológica o termo "loess", por adaptação do termo vulgar germânico "Löss" (do alemão "lose", friável, não coeso). O loess foi então definido, entre os geólogos, como um depósito sedimentar detrítico, não estratificado, mais fino do que as areias finas, friável, não coeso, de origem eólica em ambiente periglaciário, contendo uma fracção terrígena (essencialmente silte+argila) e, por vezes, uma outra, calcária.
Por dissolução do carbonato de cálcio, nos níveis mais superficiais, o loess dá origem ao "limon des plateaux" (dos franceses) ou "Loehm" dos alemães, constituindo boas terras aráveis e, por vezes, usado como barro no fabrico de tijolos. O carbonato dissolvido precipita nos níveis mais baixos, formando concreções, conhecidas entre os geólogos por “bonecas do loess” ("Löss Kindchen", "loess dolls" ou "poupées du loess"). Na classificação de Lasaulx, o loess figura entre os então chamados “sedimentos puros”, a par do cascalho e da areia. Com o passar do tempo, alguns autores têm usado o termo loess em alusão ao mesmo tipo de sedimentos detríticos muito finos, independentemente do modo e do ambiente sedimentar em que teve origem.
Quando impregnados de água e, por vezes, misturados com matéria orgânica, como acontece nos solos, os sedimentos silto-argilosos constituem o que vulgarmente de designa por lama (do latim, com a mesma grafia, que significa atoleiro, charco), que corresponde à "boue" dos autores franceses, ao "mud" e ao "loam" dos ingleses, ao "Loehm" dos alemães e ao "fango" (2) dos nossos irmãos ibéricos. Quando incoesos, submersos e embebidos de água, os pelitos ou lutitos podem ser referidos por LODO (do latim "lutu", lama) e também por VASA, nome que importámos do holandês wase (lama) através do francês vase.
Quando impregnados de água e, por vezes, misturados com matéria orgânica, como acontece nos solos, os sedimentos silto-argilosos constituem o que vulgarmente de designa por lama (do latim, com a mesma grafia, que significa atoleiro, charco), que corresponde à "boue" dos autores franceses, ao "mud" e ao "loam" dos ingleses, ao "Loehm" dos alemães e ao "fango" (2) dos nossos irmãos ibéricos. Quando incoesos, submersos e embebidos de água, os pelitos ou lutitos podem ser referidos por LODO (do latim "lutu", lama) e também por VASA, nome que importámos do holandês wase (lama) através do francês vase.
Geralmente silto-argilosas, as VARVAS (3) foram inicialmente definidas como depósitos lacustres subactuais finamente laminados (à escala milimétrica ou inferior) com alternância de finos leitos argilosos (escuros devido à presença de matéria orgânica) e siltíticos (claros), indicadores da variação dos processos físicos, químicos e biológicos decorrentes da alternância gelo-degelo nos glaciares a montante. Cada par de lâminas (clara e escura) equivale, pois, a um ano e, assim, as varvas têm sido utilizadas em geocronologia absoluta (4), em depósitos lacustres do Quaternário.
Este termo está na base de um outro – VARVITO – aplicado a depósitos igualmente laminados e consolidados, semelhantes à varvas no aspecto rítmico, mas mais antigos e com outro tipo de outras origens.
A rematar esta referência aos pelitos ou lutitos, resta aludir a alguns nomes de uso corrente. BARRO (do latim hispânico, "barrum") designa um material argiloso impuro, independentemente da sua origem, que tanto pode ser sedimentar (na sequência da deposição, no essencial, de partículas argilosas), como residual (na sequência da alteração de uma rocha preexistente rica em aluminossilicatos, como são os feldspatos).
Entendem-se por impurezas do barro os detritos líticos e minerais (no geral, quartzo, feldspato, micas, etc.) bem como as impregnações de óxidos e hidróxidos de ferro responsáveis pelas habituais colorações avermelhadas (hematite) e amarelo-acastanhadas (limonite).
Outros nomes, muito menos frequentes, para designar o barro são terra de GREDA (5), (termo caído em desuso) e MATACA e TIJUCA (no Brasil). Nas classificações anteriores ao séc. XIX, o barro figurava na classe das “terras”, razão pela qual os franceses ainda usam o termo "terre", os ingleses "earth" e nós ainda utilizamos expressões como terracota, terra sigilata, terra de pisoeiro, terra rossa e terra de greda.
Como produtos de alteração, no âmbito das chamadas rochas residuais, recordam-se os barros vermelhos de Ral (Ferreira do Zêzere), de Santa Catarina (Tomar), da Menoita (Guarda) e no Alentejo, por alteração quer dos xistos, quer de plutonitos básicos (gabros), quer do grande filão dolerítico que percorre esta província de NE para SW. Com conhecido interesse na agricultura cerealífera, também os chamados “barros de Beja”, negros, resultaram da alteração dos gabrodioritos locais. Igualmente residuais são os caulinos associados aos granitos e gnaisses da faixa litoral a norte de Aveiro (já atrás referidos, a propósito dos saibros) e, ainda, as esmectites resultantes da arenização dos gabrodioritos de Benavila (Avis).
Entendem-se por impurezas do barro os detritos líticos e minerais (no geral, quartzo, feldspato, micas, etc.) bem como as impregnações de óxidos e hidróxidos de ferro responsáveis pelas habituais colorações avermelhadas (hematite) e amarelo-acastanhadas (limonite).
Outros nomes, muito menos frequentes, para designar o barro são terra de GREDA (5), (termo caído em desuso) e MATACA e TIJUCA (no Brasil). Nas classificações anteriores ao séc. XIX, o barro figurava na classe das “terras”, razão pela qual os franceses ainda usam o termo "terre", os ingleses "earth" e nós ainda utilizamos expressões como terracota, terra sigilata, terra de pisoeiro, terra rossa e terra de greda.
Como produtos de alteração, no âmbito das chamadas rochas residuais, recordam-se os barros vermelhos de Ral (Ferreira do Zêzere), de Santa Catarina (Tomar), da Menoita (Guarda) e no Alentejo, por alteração quer dos xistos, quer de plutonitos básicos (gabros), quer do grande filão dolerítico que percorre esta província de NE para SW. Com conhecido interesse na agricultura cerealífera, também os chamados “barros de Beja”, negros, resultaram da alteração dos gabrodioritos locais. Igualmente residuais são os caulinos associados aos granitos e gnaisses da faixa litoral a norte de Aveiro (já atrás referidos, a propósito dos saibros) e, ainda, as esmectites resultantes da arenização dos gabrodioritos de Benavila (Avis).
(continua)
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(1) - "Mudstone" - Termo introduzido na terminologia geológica, em 1839, pelo geólogo inglês R. Murchinson, para referir uma rocha xistenta, muito friável, do Silúrico do País de Gales.
(2) - "Fango" - Relacionada com este termo espanhol, dispomos, em português, da palavra fangoterapia, o tratamento clínico com lamas.
(3) - Varva - Termo introduzido por G. Ger, em 1912, a partir do sueco "varv".
(4) - Geocronologia absoluta – Permite conhecer a idade em anos.
(5) - Greda - Do latim "creta", argila. O mesmo étimo está na origem do termo cré, usado para designar o calcário friável que deu o nome ao Cretácico e a Creta, a ilha mediterrânea.
(2) - "Fango" - Relacionada com este termo espanhol, dispomos, em português, da palavra fangoterapia, o tratamento clínico com lamas.
(3) - Varva - Termo introduzido por G. Ger, em 1912, a partir do sueco "varv".
(4) - Geocronologia absoluta – Permite conhecer a idade em anos.
(5) - Greda - Do latim "creta", argila. O mesmo étimo está na origem do termo cré, usado para designar o calcário friável que deu o nome ao Cretácico e a Creta, a ilha mediterrânea.
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