Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião
Na Europa e na América, os sistemas de ensino públicos descartam as artes e as humanidades, fazendo prevalecer a ciência que pode "servir" a tecnologia". Isto acontece no ensino não superior e no superior: marginalizam-se ou extinguem-se disciplinas, vias de escolaridade, cursos que "não servem", que "não têm utilidade" no mercado de trabalho, onde cada um tem o preço que lhe é conferido pelas competências funcionais que adquirir e possa pôr a render nesse marcado.
Sobre este e outros temas, relacionando a actualidade com o passado sempre presente, nos fala Irene Vallejo, no livro ao lado indicado e do qual extraímos a seguinte passagem:
“A fronteira entre ciências e letras é arbitrária. Para os gregos antigos só existia o território comum do saber e o obstáculo único da ignorância. Os primeiros filósofos foram físicos e o grande Aristóteles era biólogo. Os pitagóricos descobriram a importância oculta da matemática na música e o escritor romano Lucrécio expôs a teoria dos átomos em versos apaixonados. O antagonismo atual entre as duas culturas é irreal: precisamos de equações e de poesia. Ninguém é mais esperto por escolher o cálculo ou a história. As metas dos cientistas e dos artistas são as mesmas: compreender o mundo, derrubar preconceitos, tornar-nos livres. Por isso, devíamos deixar de levar estas divisões tão à letra ou considerá-las de ciência certa.”
Irene Vallejo, O Futuro Recordado, Bertrand Editora, 2024, pág. 28.
1 comentário:
Concordo! Fiquei curiosa com o livro, li o outro e gostei bastante.
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