sábado, 4 de janeiro de 2025

O FENÓMENO DA CONSCIÊNCIA É COMO O DA EXISTÊNCIA DO UNIVERSO - DAVID LODGE

Faleceu David Lodge, o polifacetado escritor britânico que manteve na ficção uma ironia finíssima e absolutamente corrosiva. A diversidade humana é irmanada nas fraquezas e nas safadezas, no que esconde e no que revela, nos pensamentos inconfessáveis e nos comportamentos desconcertantes. A sua vasta galeria de retratos que desenhou oferece-nos possibilidades inesperadas para encaixarmos as nossas pequenas e grandes misérias.

E isso só nos faz bem! Põe-nos na linha! Ou, pelo menos, devia...

Sobretudo se formos do tipo de nos levarmos muito a sério, de nos acharmos criaturas bem sucedidas, de nos vermos no topo do mundo. A passagem pela universidade, como professor, ajudou Lodge a "captar" este tipo e a dissecá-lo.

Pessoas que, como ele, remexem na consciência humana, trazendo à luz o que queremos enfiar à força na cave escura, são muito precisas para, através de uma substancial irracionalidade, dar alguma racionalidade ao real.

Sobre a consciência, disse Lodge a Luís Faria, jornalista do Expresso em 2016 (ver aqui):

"Escreveu um romance inteiro sobre a questão da consciência. Na altura, estava a estudar o assunto. 

Sim, a inteligência artificial. Pareceu-me bom material para ficção. Usei-o de modo a que houvesse um debate, entre um romancista e um cientista cognitivo, sobre se era possível descrever a consciência. Foi muito instrutivo para mim. Quando comecei, não sabia nada sobre inteligência artificial. Aprendi um pouco. Mas não acho que a ciência cognitiva alguma vez explique por completo o fenómeno da consciência. Há filósofos que dizem taxativamente que não. É como a existência do Universo".

5 comentários:

Anónimo disse...

A consciência é uma cave escura iluminada.

Anónimo disse...

Como professora primária devo explicar o/ao básico.

Carlos Ricardo Soares disse...

A consciência é uma função que nos permite constatar, por exemplo, que, por um processo em que participamos de modo não consciente, nos tornamos conscientes. Ainda antes de ser um fenómeno que nos permite exercer, por exemplo, a nossa vontade, ela permite que assistamos, racionalmente, ao processo vital a que temos acesso através dos sentidos periféricos.
A consciência de que temos uma consciência, aliada a uma memória e à faculdade da linguagem, tem permitido um desenvolvimento do conhecimento, das formas de comunicação e de transmissão da cultura e criado crescentes possibilidades, em geral, de expansão e aprofundamento da função da própria consciência.
Parece que o fenómeno da consciência/racionalidade está presente nos sistemas biológicos como uma função vital, nomeadamente de sobrevivência e, no homem, atingiu sofisticações de tal ordem que este se se revê como produto e como agente de uma realidade mental que é, por um lado, produto de um processo cultural muito acelerado e, por outro lado, realidade biológica que funciona, praticamente como uma constante, ou invariável ao longo do tempo.
Parece ser esta determinante biológica que marca ou dita o valor, a qualidade, os afetos, independentemente dos significados culturais e que, muitas vezes, é negligenciada e hostilizada como se fosse um travão, ou um obstáculo, às mudanças sociais e políticas.
A vantagem de termos, ou de podermos ter, uma consciência tão alargada e tão sofisticada que nos coloca no limiar de vermos aquilo que é modificável pela intervenção humana, é também um problema acrescido quanto ao controlo dos efeitos, consequências acidentais ou indesejáveis e quanto às incertezas das escolhas. E este tem sido, ao longo da história, um processo dramático, por vezes trágico, mas sempre problemático.
A tendência crescente para que tudo se torne objeto de intervenção da consciência humana, mesmo aqueles processos humanos que têm lugar independentemente de estarmos conscientes deles, amplia o nosso controlo sobre o que acontece, mas agrava também a nossa responsabilidade.
Tudo parece reconduzir-se sempre a um problema de consciência/racionalidade de que todas as formas de consciência/racionalidade são ramificações, desde a consciência moral, à consciência científica, passando pela consciência estética até à consciência lúdica e ambiental.
A consciência/racionalidade é uma função/faculdade, mormente dos humanos, que tem permitido, por um processo cultural cumulativo e progressivo de inteligência, constatar o valor e a importância transformadora desta, ao ponto de a inteligência passar a ser, também, uma mercadoria susceptível de ser produzida a uma escala inimaginável.

Anónimo disse...

Foi isso que eu disse em 7 palavras. E haveria muito mais para dizer…

Anónimo disse...

Com o método científico temos aprendido alguma coisa sobre o mundo físico. Quanto ao mundo metafísico, nem a sua própria existência pode ser provada através da Ciência. Os pastorinhos de Fátima viram e ouviram, fisicamente falando, Nossa Senhora, ou as suas consciências de crentes fervorosos vislumbraram maravilhosas aparições do mundo metafísico?!

O FENÓMENO DA CONSCIÊNCIA É COMO O DA EXISTÊNCIA DO UNIVERSO - DAVID LODGE

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