sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
A MAIOR EXPERIÊNCIA DO MUNDO
Minha crónica publicada no "Sol" de hoje (imagem do CERN):
A mensagem, vinda dos arredores de Genebra, na Suíça, chegou através do Twitter a todo o lado: “A new record. Both beams in LHC reach 1.18 TeV at 00:42 on 30 November.” Acabava de ser batido um recorde do mundo da Física, com a ultrapassagem do limite da energia de um teraelectrão-volt (1 TeV) por partícula para cada feixe de protões que circulam, em sentidos contrários, no Large Hadron Collider (LHC), em português Grande Colisionador de Hadrões, na European Organization for Nuclear Research (CERN). O recorde anterior pertencia ao Fermilab, perto de Chicago, nos Estados Unidos, e a nova marca significava um primeiro êxito para a maior experiência do mundo, depois do contratempo que foi a reparação de uma avaria ao longo de um ano.
O que significa a energia de 1 TeV? O prefixo tera vem do grego e significa monstro. Um tera é, de facto, um número monstruoso: um milhão de milhões, um número que se exprime pelo algarismo um seguido de doze zeros: 1 000 000 000 000. O electrão-volt (1 eV), uma unidade muito usada na Física, é a energia adquirida por um electrão quando submetido à tensão eléctrica de um volt. Trata-se de uma energia típica da Física Atómica, ao passo que o milhão de electrões-volt (um megaelectrão-volt ou 1 MeV) é uma energia típica da Física Nuclear. A energia que acaba de ser obtida na maior experiência do mundo, realizada com a maior máquina do mundo, só dificilmente pode ser imaginada: é cerca de um milhão de vezes maior do que a energia necessária para arrancar um protão de um núcleo atómico.
Mas a experiência realizada no sítio onde foram filmadas cenas de “Anjos e Demónios” ainda só vai no início. Planeia-se atingir em cada feixe – na experiência, há dois feixes de protões que chocam frontalmente, tendo já sido registadas as primeiras colisões – a fantástica energia de 7 TeV. O Natal e Ano Novo vão, no CERN, ser passados a trabalhar para que 2010 seja um grande ano para a ciência. No próximo ano saberemos mais sobre o Universo, tanto sobre a sua constituição como sobre a sua origem.
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4 comentários:
Como não amar os cientistas?
:)
Encontra-se, desde o passado 1 de Dezembro, no servidor arXiv, o primeiro artigo científico de várias centenas de autores (envolvendo mais de cem instituições), resultante das colisões de protões, a 0,9 TeV, ocorridas em 23 de Novembro, no LHC. Mesmo estando totalmente de fora, vê-se logo o enorme esforço de colaboração que exige trabalhar neste campo da física.
Estes números metem respeito, como aliás também o simples facto da avaria ter levado um ano a ser solucionada, mesmo considerando as inevitáveis interrupções nos trabalhos. E estamos ainda na fase de colocação em serviço do novo e gigantesco colisionador. Através das experiências projectadas muito se deve confirmar (ou, eventualmente, infirmar), em termos teóricos.
Os autores agradecem, merecidamente acho eu, as contribuições de todos os engenheiros e técnicos, na concretização desta experiência.
Américo Tavares
Ou talvez se saiba um pouco menos, ou seja, por vezes é necessário dar-se um passo atrás para só depois avançar.
A questão primeira, muito antes de experiências fantásticas e grandiloquentes, é tão simplesmente esta:
Existe um modelo físico da matéria-energia e do espaço, coerente e compatível com as observações, ou será que não temos senão descrições matemáticas, mais ou menos desconexas e incompletas, sempre em busca de uma mirífica comprovação... agora o mítico bosão?!
É que até podemos bater recordes e máximos, mas de que serve isso se nos direccionamos na direcção errada, isto é, se o problema central a examinar não está correctamente equacionado?
Esperemos então os resultados das tais experiências projectadas, a ver se depois sabemos um pouco mais ou um pouco menos acerca da realidade última da matéria.
Segundo Sean, Cosmic Variance, em artigo de 4 Agosto 2008, intitulado "What Will the LHC Find?" as previsões a esse respeito são:
- Bosão de Higgs: 95 %.
- Extra dimensões grandes: 1 %.
- Extra dimensões deformadas: 10 %.
- Buracos negros: 0,1 %.
- Buracos negros capazes de destruir a Terra e os seres vivos: 10^(-25) %.
- Evidência a favor ou contra a Teoria das Cordas: 0.5%.
- Matéria escura: 15%.
etc.
Na minha opinião, mais que modesta e principalmente de nível insuficiente nesta área (física das partículas e de altas energias) julgo que as descrições matemáticas continuarão a ser incompletas, talvez menos, se vierem a ocorrer resultados experimentais que as confirmem.
Se tudo correr bem, apenas é de esperar que apareçam modelos mais completos.
Américo Tavares
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