domingo, 11 de setembro de 2022

GRANDES ESCRITORES DE OUTRORA QUE O NOBEL REJEITARIA SE TIVESSEM VIVIDO NO SÉCULO XX

Por Eugénio Lisboa

Eis um exercício interessante, à luz das rejeições feitas pelo júri do Prémio Nobel de Literatura: um mergulho sincero nos gigantes do passado, tentando decifrar aqueles que o Nobel quase de certeza rejeitaria. Seriam muitos e de monta, garanto.
Sófocles e Aristófanes seriam demasiado inquietantes e infractores e enfrentariam grandes resistências em muitos dos jurados.

AS MIL E UMA NOITES seriam rapidamente varridas, pelos seus atrevimentos e não pouca licenciosidade.

Shakespeare, de certeza, não se safava: há nele muita turbulência, muito excesso, muito barulho e fúria, muito atravessar de linhas vermelhas.

Molière, com coisas como o TARTUFO, não ia longe. 

A Racine, vejo-o muito tremido: a belíssima PHÈDRE é o diabo.

Laclos, Stendhal, mesmo Balzac seriam demasiado para o aparelho linfático dos jurados suecos.

Baudelaire, Verlaine ou Dostoiewsky, nem pensar!

Henry Fielding e o seu atrevido TOM JONES bem podiam ir cantar para outra freguesia, a não ser que os jurados da Academia Sueca estivessem todos bêbados. 
Gente como Cervantes é sempre duvidosa, a quem a malta do Nobel costuma fazer boquinhas. 
Schiller não sei se se safava. 
Goethe tinha mais probabilidades, mas a sua vida sexual irregular tinha hipóteses de afligir aquela gente da Academia (por essas e outras é que o prémio para Anatole France andou a arrastar os pés: ele vivia em casa de Mme Arman de Caillavet, que era casada e tinha o marido em casa). 
Goldoni bem podia esperar pelo prémio. 
Edgar Poe, apesar dos seus admiráveis contos de fantasia, de ficção científica, de praticamente ter inventado a novela ou conto policial de dedução e do seu admirável O CORVO, era um bêbado inveterado, além de ter casado com uma prima de treze anos de idade. 
Voltaire era demasiado “gamin” e provocador, não tendo por isso possibilidades (além de ter vivido amantizado com a Marquesa du Châtelet e outras picardias). 
Camões, com o seu criado Jau, a pedir por ele, nas ruas de Lisboa, não tinha estatuto social que encantasse os suecos. 
Bocage, estamos conversados. 
Garrett, com as suas picardias amorosas, deixa-me algumas dúvidas. 
Camilo era adúltero e brigão. 
Eça mexia com muita coisa grada, não tinha o mínimo respeito pelo sagrado e, de certeza, livros como A RELÍQUIA eram demasiado apimentados para os suecos. 
Teixeira Gomes tirou as primícias a uma menor, como ele próprio confessa numa das suas NOVELAS ERÓTICAS. 
Fernando Pessoa não conta, por não ter publicado quase nada, em livro, enquanto vivo. 
Machado de Assis, talvez se safasse por ser discreto, embora, muito de mansinho, tenha, várias vezes pisado o risco.
Hoje, fico-me por aqui, porque estas sondagens são cansativas e deprimentes. Outro dia, voltarei a isto, se para aí me der a fantasia.

Eugénio Lisboa

Sem comentários:

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...