terça-feira, 27 de setembro de 2022

REINALDO FERREIRA (PASSAGEM DE CENTENÁRIO)

Por Eugénio Lisboa 

No talento e também na bondade,
foste grande, e, até no desleixo,
grande vulnerabilidade,
ofereceste à tua vida um eixo:

frágil mas, em todo o caso, esbelto,
que, de ti, deixou belo testemunho.
Queimaste talento em pífio suelto,
perdido em trópicos de redemunho!

Puliste versos de lirismo denso,
bebendo veneno em cabarés.
Viveste, alienado e intenso,

em terra de humidade e jacarés.
Foste grande, apesar de tudo,
tornando abismos motivo de estudo!

Eugénio Lisboa 
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Reinaldo Ferreira, filho do notório Repórter X, nasceu em Barcelona, em 1922 (faz agora cem anos) e morreu em Lourenço Marques (hoje, Maputo), em 1959, com 37 anos. Um dos grandes líricos da poesia portuguesa, logo reconhecido, em Portugal, por grandes fabros da linguagem poética, como José Régio e David Mourão-Ferreira e também logo festejado no Brasil, Reinaldo Ferreira não deve ser esquecido neste ano do centenário do seu nascimento. Não ficava nada mal à Universidade portuguesa, sublinhar condignamente esta efeméride. Pôr os ovos todos no cestinho saramaguiano parece-me injusto e completamente inaceitável. Que diabo, um lírico desta dimensão e desta luminosidade de linguagem não aparece todos os dias nem todas as semanas nem todas as décadas nem todos os cinquenta anos. Há que assinalá-lo, quando isso acontece. Poetas de Portugal e de Moçambique, saiam do vosso casulo e da vossa autopromoção e abram a bolsa da vossa generosidade, dando alguma atenção a este grande poeta que pertence aos dois países. E. L.

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