Por Cátia Delgado
Foi ontem publicado o Despacho que confirma as novas condições para o regime de contratação de professores ao nível de escola. Passa a ser possível contratar licenciados pós-Bolonha para responder à falta de professores profissionalizados, ou seja, com a formação exigida por lei, desde que detenham, no seu percurso académico, um número mínimo de créditos na área disciplinar a que se candidatam.
Por exemplo, para lecionar Português no Ensino Secundário, bastará que um licenciado tenha acumulado 80 créditos de formação específica; para lecionar Inglês, bastarão 60 créditos (o equivalente a pouco mais de um ano letivo). São números muito inferiores aos 120 créditos exigidos para aceder ao Mestrado em Ensino, nível de formação conducente à habilitação para a docência até então.
Relembro que a profissionalização destes docentes está prevista, podendo ser realizada em serviço, não sabendo ainda em que moldes, nem quando. Sabe-se apenas que o Governo está a preparar “um programa de acompanhamento, com enfoque na componente pedagógica”, como noticiado aqui.
Em conferência de imprensa, esta tarde, o Ministro da Educação veio enfatizar o trabalho que tem vindo a ser feito para mitigar a falta de professores, resumindo as várias medidas.
Referiu uma melhoria de 50% nos horários por atribuir, a esta data, comparativamente com os dois anos transatos. Mencionou, ainda, a divulgação dos horários por preencher às instituições de ensino superior pois estas podem ter potenciais candidatos ao concurso, mas que, por desconhecerem os procedimentos, não se candidataram. Aludiu, por fim, a iniciativas de apoio às práticas de distribuição de serviço a escolas que revelem maiores dificuldades na substituição de docentes, prevendo, por exemplo, a monitorização de funções desempenhadas por docentes mas que poderão ser guiadas por outros técnicos, como por exemplo psicólogos, tais como tutorias orientadas para competências socioemocionais.
8 comentários:
1. Sem capacidade de antever o problema (governação medíocre);
2. Remetido à reação, a solução foi o afrouxamento da qualidade.
A hecatombe que se abateu sobre o sistema de ensino e os professores da carreira única formados em universidades "pré-Bolonha", durante o consulado de um famoso "engenheiro", faz da falta de docentes um mal menor.
A péssima qualidade do ensino público, construído com base em "domínios" e "rubricas", que muitos professores, tanto novos como velhos, apesar de sentirem muitas dificuldades em entender do que se trata, se mostram prontos a levar à prática, em contexto de sala de aula, com as cadeiras dispostas em U, a bem da melhoria das aprendizagens dos alunos, só pode conduzir a educação formal do nosso povo a um beco sem saída.
A escola atual, onde os professores praticamente já não são autorizados a ensinar, para além do óbvio, é como um campo inculto que não dá pão nem vinho.
Caro Leitor, diria, antes, sem capacidade de, pelo menos, assumir o problema, pois o discurso, mais uma vez, está impregnado de falsas verdades que só os professores que estão no sistema podem detetar e que vão escapando à comunicação social. Falta fazer as perguntas certas: porquê tantas baixas? (2000 desde 1 de setembro), por exemplo. Cumprimentos, Cátia Delgado
Caro Leitor, todas estas mudanças em curso são, de facto, um atentado ao ensino, como refere. Caberá a cada professor, em cada sala de aula, tomar consciência do problema e manter-se firme segundo os princípios que realmente valem o desgaste da profissão.. Cumprimentos, Cátia Delgado
A falta de professores em França, nos EUA (etc...) também é culpa do Costa e do ME? Ou é tudo sintomas de algo bastante mais fundo e generalizado no mundo? É que Portugal não consegue inventar a roda sozinho. Limitamo-nos a tentar replicar as soluções que outros países bem mais ricos e evoluídos que nós tentam encontrar. Mas se alguém tiver soluções melhores e que "funcionem", que se chegue à frente. :)
https://observador.pt/2022/09/10/falta-de-professores-em-franca-perturba-regresso-as-aulas-de-12-milhoes-de-alunos/
https://www.vox.com/policy-and-politics/2022/8/18/23298916/teacher-shortages-debate-local-national
Caro Leitor, essa é uma das estratégias de convencimento mais usadas pela classe política. Quando dá jeito, nomeiam-se outros nas mesmas condições para legitimar uma situação que se tem vindo a arrastar e a agravar, um problema há muito detetado e que só agora, vindo a público de forma mais consistente, é alvo de algumas medidas para o seu remedeio (porque a resolução requer outras que nem em cima da mesa estão, como a redução da idade da reforma ou a alocação dos professores em idade mais avançada para outras funções, dentro das escolas ou na comunidade envolvente, a revisão das tabelas salariais, nomeadamente para os professores que iniciam o seu percurso com contratos sucessivos, longe da estabilidade da carreira, muitos obrigados a acumular despesas sem qualquer ajuda de custo, etc.). Mas, mais do que a falta de condições salariais ou outras análogas, este "teacher gap" advém, sobretudo, da adoção de políticas globalmente uniformes, "recomendadas" por entidades supranacionais (OCDE, Banco Mundial e outras) que, orientando-se por interesses económicos (lógica de mercado), desvirtuam por completo o sentido do ensino e, por inerência, o sentido de ação dos professores. Muito haveria para discorrer sobre causas e possíveis soluções para este problema que é, como disse, global, mas começará pelo sentido crítico, em primeiro lugar dos decisores políticos de cada país, em segundo dos diretores escolares e em terceiro dos próprios professores. Cumprimentos, Cátia Delgado
A roda foi "inventada" muito antes de Portugal surgir no mundo.
Essas tentativas de "replicar" soluções de outros países já têm mais de quatro décadas.
Ao contrário do que diz a esquerda, a qualidade do nosso ensino, assim como o estatuto socioprofissional dos professores do ensino secundário têm vindo a cair a pique porque, por um lado, temos pouco dinheiro, e, por outro lado, demos demasiado poder a quem se compraz a congeminar teorias educativas inextrincáveis, para serem executadas, em contexto de sala de aula, por professores e alunos. Um professor não é um operário numa linha de montagem a executar uma função repetitiva. O professor tem de ter autonomia para ensinar, não pode estar submetido a domínios, rubricas e grelhas inventados para dar passagem de ano a todos os alunos.
Um princípio de solução seria não piorar o que está mal.
"Pr'a melhor está bem, está bem,
Pr'a pior já basta assim"
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Caro Leitor, "despejar dinheiro" na educação é investir no futuro do país. Sem bons professores, deixaremos de ter bons profissionais em quaisquer outras áreas. As desculpas podem ser de vária ordem, a meu ver tudo se resume a uma deturpação do sentido educativo em prol da economia. Mas, claro está, é tudo uma questão de perspetiva. Cumprimentos, Cátia Delgado
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