Num artigo publicado no último Expresso, com o título "Ensino Uma crise do tamanho da Europa", Isabel Leiria e Joana Pereira Bastos, retomam o problema que é a falta de professores na generalidade dos países europeus, Finlândia incluída.
Recorrendo ao último estudo da OCDE que incide no ensino (Relatório TALIS, ver aqui e aqui) e a depoimentos de uma analista de políticas desta organização, recordam as razões que têm sido avançadas para o justificar: salários baixos, dificuldade de progressão na carreira, burocracia imposta pelo sistema, desgaste que o lidar com certos alunos e turmas provoca, pressão dos pais.
O que os responsáveis políticos têm decidido fazer é aumentar o número de alunos por turma, diminuir o número de aulas, contratar pessoas sem formação adequada e/ou suficiente, e incentivar professores que saíram do sistema a voltar. Não está no artigo mas também tem sido reforçado o suporte tecnológico que, supostamente, liberta o professor de algumas tarefas.
Há aqui uma nota que não pode deixar de ser feita e que tem a ver com o discurso manifestamente dissonante da própria OCDE. Ao mesmo tempo que recolhe dados que esclarecem este problema e se mostra muito preocupada, contribui para ele. Poderia justificar esta afirmação de diversas maneiras, mas há uma que se sobrepõe: a desvalorização do ensino para a qual contribui desde há décadas. Lembremo-nos dos mais recentes "cenários" que propôs para a "escolaridade". Aí, os professores (designados por tutores, mentores, gestores, inspiradores...) são figuras residuais, agentes a que os alunos podem recorrer.
Isto não é novo, mas tem sido repisado neste século e com potente eco. Os professores viram ser-lhes retirada a sua identidade e a sua função; os múltiplos discursos ininteligíveis e as práticas que deles derivam moem a inteligência; impedidos de exercer o dever de educar, entram num estado do que alguns designam por "sofrimento ético". Muitos jovens com formação superior percebem isso e procuram, compreensivelmente, outros modos de estar na vida. Mesmo com uma vantajosa revisão dos salários e da carreira, como os sindicatos reclamam, quem quer entrar ou permanecer numa profissão que nega o seu sentido mais profundo?
A corrosão, a dissolução da docência é, no meu entender, uma das mais importantes faces do problema, se não a mais importante, sobretudo para aqueles que têm sólida consciência do que isso significa e das consequências que tem.
2 comentários:
A crise do ensino e dos professores é iniludível. A verborreia ininteligível das organizações internacionais e do ministério da educação em Portugal, despejada em doses maciças sobre os professores e sobre o Povo, com o intuito de esconder a decadência do ensino e das escolas, deixa alguns professores num estado de perplexidade profunda e outros cheios de vontade de concretizar na prática delírios educativos que só podem conduzir ao desastre.
A escola sem ética, despojada de valores e de conhecimentos, não tem sentido. As ideias abstrusas veiculadas pelo eduquês são inexequíveis, como a prática tem vindo a demonstrar.
Caro Leitor, subscrevo as suas palavras, com apenas duas notas: 1) o problema não se restringe a Portugal, e nem só Europeu e Americano, vai mais além pois o que está em causa é a tentativa de impor princípios "educativos" a uma escala global; 2) o eduquês, palavra que entrou no nosso vocabulário através do ex-ministro da educação Marçal Grilo, referia-se a um certo linguajar ignorante e desajeitado. O discurso que, agora, molda a educação escolar é altamente especializado e estrategicamente usado. Por isso mesmo, resulta: os sistemas educativos e formativos estão mesmo a mudar no sentido pretendido. Não será para sempre pois a racionalidade e a razoabilidade acabam sempre por levar a melhor, mas os prejuízos hão-se ser muitos e profundos, sobretudo nos nossos alunos.
Cumprimentos. MHDamião
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