A "felicidade" é uma meta estabelecida pelas grandes organizações internacionais, entre as quais se destaca a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), no horizonte 2030. Aos sistemas educativos é imputado o papel principal na "promoção" da felicidade. As escolas, os alunos e os professores, se não são felizes, têm de se tornar felizes.
Chamam-se os professores a "formação" para os tornar felizes. Alcançando a felicidade, tornarão os seus alunos felizes. Nesta zona de formação (como noutras), entram as empresas. Em Portugal, tenho percebido o protagonismo de uma editora de material escolar.
Recebi informação dessa editora relativa a uma acção que se realiza com alguma regularidade. O título é "A felicidade dos professores".
Sei bem que a felicidade é polissémica e que, pelos tempos fora, tem ocupado muito pensamento. Mas é estranho vê-la reduzida ao discurso que apresenta essa acção, próximo da gestão: um "indicador" susceptível de ser "decomposto em parâmetros" que podem ser "concretizados"?!
"A felicidade é uma palavra que, em muitas circunstâncias, corre o risco de se resumir a um uso enfático. Não que ela seja estranha às aspirações de cada um em relação ao que de melhor a vida lhe possa vir a dar, mas poderá ser tomada como “um momento” ou, simplesmente, um ideal, mais ou menos frágil ou passageiro. Porém, não poderá a felicidade ser convertida num indicador precioso para a missão da escola, passível de ser decomposto em parâmetros que, quando concretizados, tornem a escola num espaço de felicidade para todos os que a frequentam? A questão da felicidade dos professores é um assunto que levanta inúmeras questões. Estará a escola preocupada com a felicidade dos professores? A felicidade na escola deve ter um lugar nuclear? Que aprendizagens no plano emocional promove a escola? Os professores das nossas escolas sentem-se felizes?"
Com uma tal definição de felicidade, que professores podem sentir-se felizes?!
3 comentários:
A felicidade dos professores é outra coisa. Não é "um indicador decomposto em parâmetros concretizáveis", numa definição asquerosa de quem pretende zelar pelos professores!
Nas salas dos professores e pelos corredores das escolas sente-se a felicidade dos que vão anunciando as suas reformas próximas.
Ouve-se dizer:
- A reforma da Maria Dolores, de Filosofia, vem em Novembro. Mais uma que se livrou disto!
O problema, caro Leitor Anónimo, é que é mesmo assim que se descreve pelas mais altas instâncias internacionais e por experts em felicidade. Os índices de felicidade dos países, das organizações das pessoas estão aí para nosso conhecimento. Cursos há para "treino da felicidade". O mundo da escola não poderia ser excepção, tudo isto entrou pelas suas porosas fronteiras. E, não se já reparou, ao abrimos um sítio online relacionado com a educação só vemos gente feliz: professores e alunos sorriem abertamente para nós. Por estarem felizes, certamente. Contudo, olhamos para nós e para os que nos rodeiam e perguntamos: porque é que não estamos assim, tão felizes?! Ironia à parte, sei bem do que fala, muitos professores sabem do que fala.
Cumprimentos, MDamião
Este problema da felicidade é demasiado intrincado e complexo, para poder ser agitado em slogans, clichés e manifestações mais ou menos demagógicas.. Os regimes políticos que querem a felicidade total implantada na Terra, acabam quase sempre por nos mergulhar no inferno. Felicidade, sim, mas... Talvez não fique mal deixar aqui o aviso desse diabinho irlandês, chamado George Bernard Shaw: "Não temos mais direito de consumir felicidade sem a produzir, do que temos de consumir riqueza sem a produzir" Pretender que a felicidade é o principal objectivo de quem ensina é criminosamente demagógico. Menos perigoso seria dizer que o principal objectivo é educar, associando a isso tanto prazer quanto for humanamente possível, mas sem desconhecer que nada se consegue sem esforço e disciplina. Nisto de felicidade, não há só direitos, há também deveres. É isto que nos diz o inesquecível autor de PIGMALIÃO. E suponho não estar eu muito afastado das preocupações da Prof. Helena Damião, a quem saúdo pela sua luta incansável por algum bom senso terráqueo e mais saudável do que muitos Shangrilás de sonho.
Eugénio Lisboa
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