terça-feira, 23 de agosto de 2011

"Instrução e Educação"

Gustave Le Bon (1841-1931), multifacetado intelectual, um dos primeiros e mais influentes psicólogos sociais, captou, como poucos, inúmeras ideias dominantes da sua época, dissertou sobre elas e, com as suas dissertações, influenciou o pensamento europeu, sobretudo aquele que se expressava em francês.

No livro La psychologie des foules, publicado em 1895, atreveu-se a questionar uma ideia que se tinha por segura e que, nessa medida, sustentava a escolarização para todos: essa ideia, optimista na sua essência, é que "a instrução é capaz de mudar consideravelmente os homens, sendo o seu resultado a melhorá-los e torná-los iguais".

"Ilusão pura", declara Le Bon. "Por tanto se repetir, esta asserção acabou por se tornar um dos dogmas mais inabaláveis da democracia (…) [dogma que] está em profundo desacordo com os dados da psicologia e da experiência".

E explica:

"Vários filósofos eminentes, Herbert Spencer entre outros, não tiveram dificuldade em mostrar que a instrução não torna o homem mais moral nem mais feliz (…). As estatísticas confirmam estes pontos de vista, indicando-nos que a criminalidade aumenta com a generalização da instrução; que os piores inimigos da sociedade, os anarquistas, são recrutados entre os melhores alunos das escolas (…)."

De seguida, faz uma anotação de extrema importância, na qual, passado mais de um século, é preciso manter a concrentração:

"Não é certo, e ninguém ainda o defendeu, que a instrução bem dirigida não possa dar resultados práticos relevantes, ainda que não levando a moralidade, ao menos desenvolvendo capacidades profissionais (…)."

Pois, relembra:

"O ensino proporcionado à juventude de um país permite saber o que será, um dia, esse país. A educação dada à geração actual justifica as previsões mais sombrias. É, em parte, com a instrução e a educação que me melhora ou se altera a alma das multidões."

Apesar de polémico no seu tempo e depois dele, Le Bon tocou uma questão educativa ancestral e essencial que não pode perder-se de vista. Efectivamente, é preciso perceber porque é que sistemas de ensino ocidentais, em que tanto se investe, parecem "produzirem", em certas ocasiões, efeitos contrários aos princípios de cidadania que propagam.

Referência da obra consultada:
- Le Bon, G. (Edição de 1900). La psychologie des foules. Paris: Félix Alcan, Éditeur, pp. 79-88.

3 comentários:

Cláudia S. Tomazi disse...

Hoje é dia de São Bartolomeu e dia da Infância e em honra ao santo e as crianças, motivando a instrução e educação.



Da Infância

Ser benção então sou
Por inocente ao ardor
pois ver é querer
é sentir para ter

ter da brisa o frescor
por infante se pendor
em que paira e vigora
o doce ar da aurora

no amanhecer humano
na emoção deste plano
ser criança é ser amor

faz valer-se pelo crer
revelando ao entardecer
que o crer fora clamor!

Anónimo disse...

Nossa Senhora! JCN

Anónimo disse...

Para se ter a noção
da diferença existente
entre instruir e educar,
não há como remontar
às raízes de onde vêm
estes dois termos que a gente,
sem saber de onde provêm,
emprega sem distinção!

JCN

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...