domingo, 22 de agosto de 2010

A MISTELA DO EDUQUÊS

Texto gentilmente enviado por Guilherme Valente ao De Rerum Natura, saído no semanário Expresso de hoje.

«Os que negam a razão não podem ser conquistados por ela.» A. R.
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1. Só há um grande problema em Portugal, todos os outros derivam dele, serão resolvidos por acréscimo: a educação. O nosso défice público maior. No entanto, a solução desse problema fundador foi deixada a um grupo de pessoas de duvidosa formação, chocante insensatez, gritante incapacidade de gestão, desígnio ideológico inconfessável. Durante mais de trinta anos. Sobrevivendo a todas as mudanças de governo. Com uma continuidade como nunca se verificou noutra área governativa. Sem terem sido eleitas. Sem o seu programa ter sido votado pelos Portugueses. Impedindo a construção da escola do conhecimento e da exigência, que redistribuiria a cultura e qualificaria os Portugueses, esse grupo dos «especialistas» controla todo o sistema educativo, das estruturas de poder do Ministério à formação de professores. Recrutaram em todos os partidos, colocaram fiéis ou têm instrumentos nas Presidências da República. Na expectativa de eleições, preparam já a troca de cadeiras nos lugares mais visíveis no Ministério da Educação. À espera do próximo convertido ou «idiota útil» mais provável para ministro. Ninguém pode ambicionar uma carreira na educação sem aceitar o seu jugo. Uma «União Nacional».
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2. Confrontados com a tragédia dos resultados, que não os deixámos continuar a esconder, justificam o insucesso atribuindo-o a «cedências», «desvios» e «recuos» na realização do seu projecto. Devem ser assim interpretadas divergências recentes. E chegou a «justificação» mais sinistra: «Precisamos de mais tempo». Perante a sucessiva descida das notas de matemática, os responsáveis pelo Plano de Acção para a Matemática (os mesmos que causaram o descalabro) disseram… precisarem de mais anos (Expresso de 3/6/10, p. 18). Não chegaram trinta anos de experiência, um longo cortejo de vítimas? Pseudo-argumento, inverificável, fanático, que se conhece da História. No registo da política, como no da ciência, quando não se aceita a prova da realidade - neste caso o fracasso verificadíssimo da anti-escola imposta ao País - entra-se no reino das «ciências» ocultas. Também nesse sentido o eduquês é uma seita. Uma história conhecida ilustra a natureza irracional da falácia: Envenenado pela mistela do curandeiro, o doente acaba por ir ao médico. Levado o charlatão a tribunal, o que diz em sua defesa? «Se tivesse continuado a beber o meu remédio… acabaria por melhorar.» Até quando? Até morrer mesmo, pois não era remédio, mas veneno.
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3. Estúpida relativamente à escola de que o País precisa, mas perfeita relativamente ao projecto de sociedade que querem impor, a instituição do fim das retenções, agora tão atalhoadamente defendida (Expresso de 31/7/2010 e entrevista ao telejornal da SIC), é, afinal, a dose letal da mistela que faltava. Percebe-se o seu efeito num país como Portugal. Solução final há muito desejada pela seita, que, finalmente, um ministro e um governo lhes oferecem. Só num ensino, útil e digno para todos, que seja exigente desde a primeira aula, e, assim, gerador da autoexigência de professores, alunos e pais, as retenções e o abandono seriam residuais. Uma escola em tudo o inverso da que temos. Mas mesmo nesse caso uma impossibilidade das retenções não devia ser formalizada.
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4. Do mesmo modo, a política dos grandes agrupamentos, vista como de poupança financeira, é, sobretudo, outra concretização do projecto ideológico imposto ao País: criam espaços anómicos, onde, sem regras, na dissolução do conhecimento que conta e dos valores que humanizam, na «libertação» dos ressentimentos, supostamente se diluiriam todas as diferenças, sociais, culturais, pessoais. Ao contrário, por exemplo, do que acontece na Finlândia, que tão mentirosamente referem.
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5. A minoria que foge ou sobrevive não chegará para resistir à aniquilação geral da inteligência e da vontade que tem sido perpetrada, para resistir à magnitude do que foi, agora, alegremente, prometido.
Guilherme Valente

29 comentários:

DIFERENTES SOMOS TODOS NÓS disse...

Parabéns pela comunicação! Rebaptizo o autor: Guilherme, o Valente!

Sérgio O. Marques disse...

Os bichos que dominam o sistema educativo somente são simples mensageiros da estupidez que o povo português merece.

Anónimo disse...

Chega-lhe Guilherme...

José António Salcedo disse...

Não podia concordar mais.

António Piedade disse...

Caro Guihlerme Valente
Este, como outros textos, terão, infelizmente, uma longevidade e actualidade invejável.
Mas não baixemos os braços. Aliás, o tempo, como sempre é de acção.
Cada um de nós que faça o que está ao seu alcance para manter algumas árvores de pé contra a erosão causada pelo facilitismo e irresponsabilidade correntes.

Cumprimentos,

António Piedade

Anónimo disse...

Desde há muito que o discurso de Guilherme Valente (GV) sobre as debilidades do nosso sistema educativo e a atribuição de responsabilidades ao "eduquês" e aos seus arautos abandonou completamente o terreno da racionalidade para se transformar numa obsessão que inviabiliza qualquer tipo de discussão frutuosa. Os defensores do "eduquês" são agora retratados como pertencendo a uma espécie de seita secreta com objectivos bem mais perversos do que os de outras sociedades secretas ou discretas, como a Opus Dei ou a Maçonaria. Só falta dizer, como outrora se dizia dos judeus, que participam em cerimónias rituais onde corre sangue humano ou que pretendem dominar o mundo, como se sustentava no célebre panfleto Os Protocolos de Sião.
A professora Helena Damião tem vindo a publicar algumas entradas sobre educação onde critica algumas medidas de política educativa ou aborda outros assuntos sobre educação. O seu discurso é por regra claro e bem articulado, independentemente de se concordar ou discordar das suas opiniões. Quando responde aos comentários de alguns leitores mantém o mesmo tom. Que diferença face ao estilo de GV...

PJ

Anónimo disse...

Muito bem. O texto é claro... só não apresenta ideias claras (e medidas concretas) daquilo que o autor considera como uma educação adequada para Portugal.
Tal como o Sr. Valente, vários autores "batem" nessa entidade abstracta que designam de "Eduquês" mas não apresentam medidas concretas. Ficam apenas pelo "contra". Porque será?

Cumprimentos,
AP

Rui Diniz Monteiro disse...

Não me surpreende que o nível dos resultados baixe.
O nosso sistema educativo sofreu, entre outras coisas, de uma brutal hemorragia de professores sabedores, experientes e, principalmente, demasiado exigentes consigo próprios para pactuarem com a mediocridade que lhes quiseram impor. Disseram "basta!" e foram-se embora: para a reforma, para outros empregos, abrindo centros de explicações, etc.
Na minha opinião, tal como tudo isto está, só vai para o ensino quem for medíocre (porque não consegue arranjar trabalho em mais lado nenhum) ou quem estiver desesperado, muito desesperado.
E sem ovos não se fazem omoletas...

Anónimo disse...

Bravo!
Excelente texto!

Para os srs. PJ e AP o facto de neste texto não se apresentarem soluções (apesar delas existirem já que Singapura, Finlândia e até a Espanha conseguem ter indicadores de qualidade de ensino melhores que os nossos) não invalida que se faça a crítica deste absurdo em que se tornou a educação em Portugal.

Estará tudo assim tão bem na educação!?!

Se querem soluções basta ver o país com melhores resultados nos exames PISA da OCDE e copiar (com pés e cabeça obviamente já que para copiar também é preciso saber o que se anda a fazer).

Estes raciocínios não são complicados...

maria disse...

Partilho da opinião do PJ.
Helena Damião revela sensatez e coerência no discurso.
Precisamos de soluções e não de conversa fiada...

Fartinho da Silva disse...

A resposta para o PJ e o AP é muito simples. Os fanáticos do eduquês são hoje, apesar de conhecerem MUITO BEM tudo o que de mal fizeram ao país, ainda fanáticos porque dependem do eduquês para obterem os seus rendimentos no final de cada mês.

Infelizmente, estes especialistas em coisa nenhuma transformaram-se num dos maiores lobbies existentes em Portugal.

Têm dúvidas?

Consultem o currículo da Ministra da Educação, dos directores de cada organismo tutelado pelo Ministério da Educação, da maioria dos professores das instituições que formam professores em Portugal, dos membros do Conselho Nacional de Educação, da Comissão de Avaliação de Professores, etc., etc., etc.

Este lobby até conseguiu que a maioria dos professores que leccionam hoje nas escolas sejam já produto da formação em eduquês.

Este lobby conseguiu que se um professor se doutorar em Física, Química, Matemática, Informática, etc., etc. tenha que se submeter a uma comissão de sábios para que o doutoramento seja certificado e lhe conte para a carreira. Mas se o professor se doutorar em "ciências" da educação, o reconhecimento é automático.

Este lobby até conseguiu colocar em letra de Lei que um professor mestre ou doutorado em Informática se tenha que submeter a uma trapalhada para poder ter um certificado que lhe ateste as suas competências informáticas. Mas se o professor for doutorado em "ciências" da educação, obtém automaticamente o certificado com o nível máximo de competências!

Para o PJ e o AP, isto devem ser delírios!!! Não são delírios, é a dura realidade!

Para este lobby, uma empresa quando necessitar de resolver questões informáticas não deve contactar alguém da área, mas sim um "cientista" da educação.

Estas pessoas vivem às custas do trabalho dos professores.

Estas pessoas transformaram as escolas públicas (e a maioria das privadas) em centros de recreio permanente.

Estas pessoas transformaram a escola pública (e a maioria das privadas) no maior factor de exclusão social em Portugal.

Estas pessoas sabem MUITO BEM o que fizeram ao país.

Estas pessoas sabem MUITO BEM que estão a vender a banha da cobra.

Estas pessoas sabem MUITO BEM que os empresários andam aflitos porque não encontram jovens (idade inferior a 30 anos) com o 9º ano de escolaridade e que saibam ler, escrever e fazer contas.

No entanto, os membros deste lobby continuam a assobiar para o lado e a aproveitarem-se de quem não tem meios para colocar os seus filhos nos poucos colégios de qualidade em Portugal ou no estrangeiro.

Anónimo disse...

O abandalhamento da escola pública pode ser da responsabilidade dos lóbis instalados no Ministério, mas tem certamente a aprovação das famílias economicamente mais favorecidas, para as quais o eduquês é uma dádiva da revolução de Abril. De facto, com a generalidade dos jovens portugueses mal preparada, senão mesmo embrutecida, por uma escola pública de lastimar, os meninos que podem desfrutar do ensino privado têm muito menos concorrência no acesso ao emprego.
JPO

Anónimo disse...

"Este lobby conseguiu que se um professor se doutorar em Física, Química, Matemática, Informática, etc., etc. tenha que se submeter a uma comissão de sábios para que o doutoramento seja certificado e lhe conte para a carreira. Mas se o professor se doutorar em "ciências" da educação, o reconhecimento é automático."

Julgo que o Fartinho da Silva se estará a referir às consequências ao nível da carreira docente da obtenção do grau de mestre ou doutor. Ora, o Decreto-Lei 15 de 2007, de 19 de Janeiro (Estatuto da Carreira Docente), estipula de forma clara quais são essas consequências no Art.º 54. No que respeita ao doutoramento o ponto 2 do referido artigo é claro:

2—A aquisição por docentes profissionalizados, integrados na carreira, do grau académico de doutor em domínio directamente relacionado com a área científica que leccionem ou em Ciências da Educação confere:
a) Para os docentes com a categoria de professor, direito à redução de quatro anos no tempo de serviço legalmente exigido para acesso à categoria de professor titular, desde que, em qualquer caso, tenham sido sempre avaliados com menção igual ou superior a Bom;
b) Para os docentes com a categoria de professor titular, direito à redução de dois anos no tempo de serviço legalmente exigido para progressão ao escalão seguinte, desde que, em qualquer caso, tenham sido sempre avaliados com menção igual ou superior a Bom.

Descontando a parte relativa aos professores titulares, que foi recentemente alterada, este articulado mantém-se. É certo que a Portaria n.º 344/2008, de 30 de Abril, estipula que a obtenção do grau de mestre ou doutor em Ciências da Educação implica automaticamente a obtenção das referidas consequências ao nível da carreira, enquanto que para as áreas científicas relacionadas com a docência se exige uma análise dos requerimentos que as instituições de ensino superior submetem ao DGRHE. Esta situação é compreensível tendo em conta que é necessário comprovar que o mestrado ou o doutoramento em causa se encontra de facto relacionado com a área científica que o docente lecciona. Não faz sentido que um professor de Filosofia possa ser beneficiado pelo facto de ter conseguido obter um doutoramento em Linguística.
Por outras palavras, um docente que leccione Francês e Português no 3º ciclo do ensino básico e secundário, por exemplo, pode perfeitamente fazer um doutoramento sobre a influência do realismo na literatura portuguesa no último quartel do século XX (não sei se estou a dizer um disparate, mas para o caso não interessa) e recolher benefícios dessa formação. O que tem que se certificar antecipadamente é se a instituição na qual irá fazer o doutoramento obteve previamente certificação junto da DGRHE. E isto é muito fácil porque as instituições do ensino superior publicitam juntos dos interessados os cursos acreditados (ver exemplo em http://www.fc.up.pt/fcup/news/?op=view&id=2521).

PJ

Anónimo disse...

O principal problema de Portugal é a educação e todos os outros derivam deste. É mesmo isto. Ainda bem que alguém o escreve textualmente.

O eduquês é realmente uma mistela porque é uma espécie de um saco onde cabem teorias filosóficas, histórias da carochinha, ciências ocultas, ideologias políticas, etc.

Ler um livro da área das ciências da educação é uma experiência estranha porque as citações sucedem-se a um ritmo avassalador, o saber que que contém parece surgir de todas as maneiras (da iluminação da mente, talvez) menos do método científico (então porquê "ciências da educação"?).

A escola aparece sempre como o principal meio de propaganda do regime em cada momento da História (o que se poderá dizer deste regime se olharmos para a escola que temos?).

Um episódio a que assisti este ano numa escola pública foi a de uma sessão sobre o 25 de Abril em que a maior parte dos alunos falava, ria e pura e simplesmente ignorava a professora que apresentava um Powerpoint sobre o assunto, tendo esta que interromper constantemente a apresentação para pedir silêncio. A dada altura, uma aluna pergunta: "Porque é que o Salazar era tão mau?". A professora responde tentando ser imparcial. Pouco depois, a professora fala das músicas que serviam de senha para a revolução. Ao ouvir "E depois do adeus", a maior parte dos alunos diz "isto é música pimba!"

A escola actual reflecte e reproduz a sociedade (é bem verdade) pois os alunos só sabem falar dos seus direitos e que o professor "não pode fazer isto ou aquilo...". Deveres é coisa que desconhecem.

Manter a ordem tem um preço que muitos não estão dispostos a pagar, neste momento...

No ano lectivo que passou, um aluno do 5.º ano, pede o livro de reclamações porque no bar, não lhe dão o que ele queria por estar esgotado.

Para perceberem de quanto tudo isto é ridículo, vejam que "trabalhos de casa" e uma expressão em desuso, sendo substituída por "trabalhos autónomos", uma "actividade" passou a ser uma "tarefa" que tal maneira que os novos manuais deixaram de ter "cadernos de actividades" e passaram a ter "cadernos de tarefas", etc.

Outra moda são os portefólios, em toda e qualquer disciplina, já para não falar nos procesos de RVCC das Novas Oportunidades. Como se gasta papel em vão neste mundo! Como se abatem árvores inutilmente!

A sociedade tem de perceber que está a exigir demais da escola, mas não exige o essencial.

A avaliação de professores é uma farsa pois professores do mesmo nível de ensino não podem avaliar outros professores.
Se há escolas em que toda a gente tem muito bom, outras há que não dão mais do que bom à tangente a todos. Mas, a farsa teve este ano reflexo nos concursos de professores.

A disciplina ou a falta dela são problemas diários nas escolas cujos órgãos dirigentes tentam disfarçar até ao limite do indisfarçável, por pressão das diversas estruturas do ministério da educação. Porque o importante são os resultados e mais do que isso, os números das estatísticas.

Fartinho da Silva disse...

Caro PJ,

Para si parece evidente, mas não refere o facto do doutoramento em ciências da educação valorar para a progressão na carreira de forma automática em qualquer caso.

Seguindo o seu exemplo, significa que um professor de Português pode doutorar-se em "pedagogia no progresso do processo ensino-aprendizagem utilizando as novas tecnologias da informação e da comunicação" (não sei se faz algum sentido) e se este doutoramento for na área de informática não serve, mas se for em ciências da educação a valoração é automática.

Parece-me evidente a descriminação em favor dos departamentos de ciências da educação.

Anónimo disse...

Gostava de emendar uma informação que dei relativamente às bonificações da obtenção do grau de doutor e de mestre para carreira docente. Na realidade, a recente alteração ao ECD (Decreto-Lei 75/2010, de 23 de Junho) veio diminuir substancialmente as bonificações que outrora existiam. O Art.º 54 tem agora a seguinte redacção:

Artigo 54.º
[...]
1 — A aquisição por docentes profissionalizados,integrados na carreira, do grau académico de mestre emdomínio directamente relacionado com a área científica
que leccionem ou em Ciências da Educação confere direito à redução de um ano no tempo de serviço legalmente exigido para a progressão ao escalão seguinte, desde que, em qualquer caso, na avaliação do desempenho docente lhes tenha sido sempre atribuída menção qualitativa igual ou superior a Bom.
2 — A aquisição por docentes profissionalizados, integrados na carreira, do grau académico de doutor em domínio directamente relacionado com a área científica
que leccionem ou em Ciências da Educação confere direito à redução de dois anos no tempo de serviço legalmente exigido para a progressão ao escalão seguinte, desde que, em qualquer caso, na avaliação do desempenho docente lhes tenha sido sempre atribuída menção qualitativa igual ou superior a Bom.

O Fartinho da Silva disse:

"Seguindo o seu exemplo, significa que um professor de Português pode doutorar-se em "pedagogia no progresso do processo ensino-aprendizagem utilizando as novas tecnologias da informação e da comunicação" (não sei se faz algum sentido) e se este doutoramento for na área de informática não serve, mas se for em ciências da educação a valoração é automática."

O exemplo teórico do doutoramento que mencionou serve desde que a universidade que confere o grau submeta o processo à DGRHE. Tenho a certeza que não teria dificuldade em fazer aprovar o processo como sucedeu com o Departamento de Química da Universidade do Porto (ver o link que deixei em cima).

PJ

Fartinho da Silva disse...

Caro PJ

"O exemplo teórico do doutoramento que mencionou serve desde que a universidade que confere o grau submeta o processo à DGRHE."

No caso que apresentei a Universidade tem que submeter o processo a uma entidade administrativa, no caso das ciências da educação não é necessário. Porquê?

Os departamentos de ciências da educação têm direitos especiais nesta matéria?

Anónimo disse...

"No caso que apresentei a Universidade tem que submeter o processo a uma entidade administrativa, no caso das ciências da educação não é necessário. Porquê?
Os departamentos de ciências da educação têm direitos especiais nesta matéria?"

Porque se parte do princípio de que a obtenção do grau na área das ciências da educação implica uma mais valia para o professor no âmbito da sua área profissional, embora reconheça que nem sempre assim sucede. Dou-lhe um exemplo concreto. A Dr.ª Armanda Zenhas colabora com o portal Educare (ver o seu último artigo em http://www.educare.pt/educare/Opiniao.Artigo.aspx?contentid=103762311B9E3A1FE0440003BA2C8E70&opsel=2&channelid=0). Na sua formação obteve o grau de mestre em Educação pela Universidade do Minho (UM) apresentando um trabalho de investigação sobre o papel da direcção de turma na relação com as famílias dos alunos que pode ser descarregado no Repositorium da UM (http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/713). A sua investigação tem uma relação directa com a sua actividade como docente.
Mas enfim, penso estar a pregar ao vento uma vez que para si as ciências da educação são lixo e a investigação que produzem lixo são. O Fartinho da Silva tem um preconceito contra as ciências da educação, quando o que deveria fazer era contactar mais com o saber produzido por esta área científica. Iria verificar, caso o fizesse, que existe de tudo, desde o medíocre até ao excelente, como sucede por outras paragens.

P.S. Gostaria de salientar que não conheço pessoalmente a Dr.ª Armanda Zenhas. Gosto de ler as suas crónicas no Educare uma vez que têm origem em alguém que está no terreno e que sabe pensar pela sua própria cabeça. Recomendo vivemente a leitura da sua crónica Um Grito de Alma (ver http://www.educare.pt/educare/
Opiniao.Artigo.aspx?contentid=4CA5C2DE5F3245AFE04400144F16FAAE&channelid=4CA5C2DE5F3245AFE04400144F16FAAE&schemaid=&opsel=2).

PJ

Fartinho da Silva disse...

Caro PJ

"Porque se parte do princípio de que a obtenção do grau na área das ciências da educação implica uma mais valia para o professor no âmbito da sua área profissional, embora reconheça que nem sempre assim sucede."

Mas quando um docente pretende aprender mais na sua área científica tem que fazer prova que tal é útil para a sua profissão.

Não se trata de preconceito, trata-se de verificar no terreno que as ciências da educação tomaram conta de todos os centros de decisão e este é apenas mais um exemplo do que se passa no mundo real.

Se um professor de Física do 12º ano investigar um assunto da sua área científica tem que fazer prova de que tal é útil na sua actividade profissional perante um órgão administrativo dominado pelo status quo (ciências da educação), se o mesmo docente investigar um qualquer detalhe do processo "ensino-aprendizagem", desde que num departamento de ciências da educação não tem que fazer prova de coisa nenhuma, porque se parte do princípio que é útil.

No país real, uma boa parte dos professores do ensino secundário especializam-se em ciências da educação por dois motivos:
1º é muito mais fácil;
2º é automática a valoração na sua carreira.

Terá mais valor para os conhecimentos científicos do docente estudar num mestrado ou doutoramento na sua área científica ou em ciências da educação? Para os alunos será melhor estarem perante um professor doutorado em Física ou em ciências da educação?

Quem ganha com o status quo? O aluno? O professor? O país? Parece-me evidente que apenas ganha o lobby das ciências da educação. O lobby continua a receber o dinheiro das propinas pagas pelos docentes e pelos candidatos a docente. O aluno continua com um professor licenciado na sua área científica e o professor continua a saber rigorosamente a mesma coisa da sua área científica que sabia antes de se inscrever em tal curso.

Já agora, gostava de ler a argumentação relativa à certificação das competências em tecnologias da informação e da comunicação. Se o professor for pós-doutorado em Informática tem competências básicas (nível 1) se for doutorado em ciências da educação tem, de forma automática, competências avançadas (nível 3)!!!!!

Isto é a mesma coisa que um cirurgião ter competências básicas em cirurgia e um doutorado em ciências da educação ter competências avançadas.

Claro que quando um alguém necessitar de resolver questões relacionadas com a informática continuará a solicitar ajuda a licenciado em informática, mas no papel a verdade é que o cientista da educação é que tem o carimbo da certificação máxima.

Para além de absurda, esta certificação é a forma mais rápida de em pouco tempo ninguém lhe atribuir qualquer importância.

Mais uma vez, quem ganha com isto? O aluno, porque sabe que tem perante si alguém que domina a matéria? O professor, porque tem um certificado a garantir as suas competências nesta área? Ou será, mais uma vez, o lobby das ciências da educação?

Anónimo disse...

"Mas quando um docente pretende aprender mais na sua área científica tem que fazer prova que tal é útil para a sua profissão."

Não é o docente que tem que fazer prova, mas sim a instituição na qual obtém o grau. Está a partir do princípio de que todos os mestrados e doutoramentos nas áreas científicas relacionadas com os grupos de docência são necessariamente bons para a formação científica do professor e para a sua prática pedagógica. Concordo com a primeira parte do pressuposto, mas não necessariamente com a segunda. Um professor de Geografia pode fazer um doutoramento na sua área científica sobre, por exemplo, "O socorro em Portugal: organização, formação e cultura de segurança nos corpos de bombeiros, no quadro da Protecção Civil" (este é um exemplo real). Todavia, esse trabalho não implica necessariamente que o professor conseguirá ensinar Geografia de uma forma mais eficaz aos seus alunos.

"No país real, uma boa parte dos professores do ensino secundário especializam-se em ciências da educação por dois motivos:
1º é muito mais fácil;
2º é automática a valoração na sua carreira."

O aspecto da valoração automática da carreira para os professores que fazem um mestrado ou doutoramento em ciências da educação seria um privilégio inaceitável desde que demonstrasse que o DGRHE tivesse uma política de rejeição das propostas das instituições do ensino superior relativamente às áreas científicas relacionadas com a docência? Consegue fundamentar esta suposição?
Afirma que os graus de mestrado e doutoramento em ciências da educação são muito mais fáceis de obter. Baseia-se em quê para afirmar isso? Sugiro-lhe que leia a tese de doutoramento do Doutor Paulo Guinote, professor do 2º ciclo, e autor do conhecido blogue A Educação do Meu Umbigo (um declarado opositor do "eduquês"), que realizou um doutoramento em Ciências da Educação, em 2007, na especialidade de História da Educação, intitulado A Educação no Feminino (Portugal, 1900-1933) (ver
http://aleph18.sibul.ul.pt/F/MA8VNQ78S4EXTX434RITQVG9N4C4SF8VXMQ3B5QEG8LJQ2U7F2-04972?func=full-set-set&set_number=037974&set_entry=000002&format=999).
Pergunte-lhe a ele se a sua tese foi mais fácil de concluir do que outras da "área científica"…

P.S. Constato que não fez referência alguma ao trabalho da professora Armanda Zenhas que referi anteriormente. É que ler trabalhos de investigação na área das ciências da educação dá trabalho. É muito mais fácil alimentar os preconceitos de forma não sustentada.

PJ

Fartinho da Silva disse...

Caro PJ,

Infelizmente e mais uma vez não respondeu a rigorosamente nada daquilo que aqui deixei.

Exemplos:

"Todavia, esse trabalho não implica necessariamente que o professor conseguirá ensinar Geografia de uma forma mais eficaz aos seus alunos."

Isto quer dizer o quê? Se o professor aprofunda os seus conhecimentos na sua área científica, tal não é útil na sua prática pedagógica? Porquê? Porque assim o afirma o PJ ou algum outro cientista da educação ou ainda algum administrativo? Mas se o professor frequentar com êxito um mestrado ou um doutoramento em ciências da educação, deixa de necessitar de provar a relevância de tal curso na sua prática profissional. Porquê? O PJ, mais uma vez, não responde! Esta arrogância de quem defende as ciências da educação provoca-me arrepios, porque é uma atitude totalitária e intolerável num regime democrático. É uma atitude muito semelhante à encontrada noutros tempos neste mesmo país...

Pode acreditar que é mesmo arrepiante. E depois falam e escrevem tanto do tempo da ditadura e da escola daquele tempo... Reforço esta ideia, porque provoca-me mesmo arrepios... Tive mesmo que fazer uma pausa para continuar a escrever.

"O aspecto da valoração automática da carreira para os professores que fazem um mestrado ou doutoramento em ciências da educação seria um privilégio inaceitável desde que demonstrasse que o DGRHE tivesse uma política de rejeição das propostas das instituições do ensino superior relativamente às áreas científicas relacionadas com a docência? Consegue fundamentar esta suposição?"

Desde que demonstrasse??? Mas a Lei que aqui apresentei e que o próprio PJ cita não é suficientemente clara??!! É preciso mais alguma coisa??

"Afirma que os graus de mestrado e doutoramento em ciências da educação são muito mais fáceis de obter. Baseia-se em quê para afirmar isso?"

Leu o meu comentário? Tenho sérias dúvidas que o tenha feito!! Quando fui obrigado, sim porque é OBRIGATÓRIO, a estudar as ciências da educação para poder ter a licença para ensinar alunos com idade inferior a 18 anos num departamento dessa área, verifiquei, in locco, que qualquer pessoa com uma razoável cultura geral consegue ter aproveitamento a todas as disciplinas relacionadas com essa temática. Não me parece que se possa dizer o mesmo de disciplinas de outras áreas. E, tal como está no meu comentário, são os professores que o afirmam! Não são todos, claro! O mundo não é a preto e branco.

(continua)

Fartinho da Silva disse...

Caro PJ (continuação),

"Pergunte-lhe a ele se a sua tese foi mais fácil de concluir do que outras da "área científica"…"

Demagogia! Caro PJ, demagogia! Já agora, porque colocou entre aspas a expressão "área científica"?

"Constato que não fez referência alguma ao trabalho da professora Armanda Zenhas que referi anteriormente. É que ler trabalhos de investigação na área das ciências da educação dá trabalho. É muito mais fácil alimentar os preconceitos de forma não sustentada."

Não fiz referências, porque não é o PJ que decide o que leio ou as referências que devo colocar nos meus textos!

Os argumentos do PJ, tal como da grande maioria dos defensores do status quo, baseiam-se no seguinte:
1º levantar dúvidas sobre tudo aquilo que não concordam;
2º apelidar quem não pactua com o status quo de preconceituosos.

Vou esquecer, uma vez mais, o facto de me ter apelidado de "preconceituoso" e vou levantar as questões que o PJ sistematicamente se tem recusado a responder:
1º Porque é que um professor que realize um mestrado ou doutoramento na sua área científica tem que fazer prova da sua utilidade para a sua profissão e se o mesmo professor realizar um mestrado ou doutoramento em ciências da educação não necessita de o fazer?
2º Porque é que um professor com o grau académico de licenciado, mestre ou doutorado em informática tem, segundo a Lei, competências de nível 1 (básicas) em tecnologias da informação e da comunicação e um professor doutorado em ciências da educação tem, segundo a Lei, competências de nível 3 (avançado)?

Vamos ver se agora responde, ou se continua no jogo habitual de quem defende o status quo...

P.S. Constato que não fez referência alguma a nenhum trabalho de investigação do Professor Doutor José Tribolet do Instituto Superior Técnico. E com isto não quero dizer que o deva ter feito e muito menos que considere que o PJ é preconceituoso em relaçãoAC à Informática e menos ainda que ler trabalhos na área da informática lhe dê demasiado trabalho.

Anónimo disse...

Um último comentário sobre esta discussão a dois que se vem arrastando. O Fartinho da Silva afirma:

"Se o professor aprofunda os seus conhecimentos na sua área científica, tal não é útil na sua prática pedagógica? Porquê?"

Eu não afirmei que a formação na área científica da docência não é útil para a prática pedagógica do docente. Disse que não podemos dar por adquirido que isso suceda e indiquei-lhe um exemplo real e concreto de um doutoramento na área da Geografia em isso eventualmente poderá não ocorrer.

"Mas se o professor frequentar com êxito um mestrado ou um doutoramento em ciências da educação, deixa de necessitar de provar a relevância de tal curso na sua prática profissional. Porquê?"

Se tivesse lido com atenção o que atrás escrevi verificaria que eu não coloquei a questão a preto e branco. O que disse, e torno a repetir, é que se parte do princípio de que a obtenção do grau na área das ciências da educação é susceptível de implicar uma mais valia para o professor no âmbito da sua área profissional, embora reconheça que nem sempre assim sucede. Esta última parte da frase é importante. Para exemplificar o meu pensamento dei o exemplo da dissertação de mestrado da Dr.ª Armanda Zenhas que me parece um excelente trabalho do que pode ser uma mais valia para a docência uma vez que é uma investigação que se prende com o papel desempenhado pelos directores de turma.
Se deseja ler este trabalho ou não isso é consigo. Leia o que quiser. Mas convém ter uma ideia precisa do que é uma dissertação de mestrado ou de doutoramento na área das ciências da educação para poder fundamentar as suas opiniões. Caso contrário fala-se do que não se sabe.
E no seu caso isso é evidente. Sustenta que as ciências da educação são menos exigentes do que outros campos do saber porque conseguiu obter aprovação no curso de formação que frequentou. Isto é simplesmente risível meu caro. Ao longo dos vários cursos que frequentei, no ensino básico, secundário e superior, deparei-me com disciplinas nas quais obtive bons resultados. Por esse facto não me passa pela cabeça afirmar que essas disciplinas são mais fáceis do que outras nas quais enfrentei maiores dificuldades.


PJ

Anónimo disse...

Sustenta que as ciências da educação são menos exigentes do que outros campos do saber porque conseguiu obter aprovação no curso de formação que frequentou. Isto é simplesmente risível meu caro. Ao longo dos vários cursos que frequentei, no ensino básico, secundário e superior, deparei-me com disciplinas nas quais obtive bons resultados. Por esse facto não me passa pela cabeça afirmar que essas disciplinas são mais fáceis do que outras nas quais enfrentei maiores dificuldades.
Classifica de demagogia a pergunta que lhe deixei relativamente à qualidade da tese de doutoramento do Doutor Paulo Guinote. Infelizmente, mais uma vez, não sustenta a sua afirmação. O que quis enfatizar foi o facto de este trabalho, que é um doutoramento em Ciências da Educação atribuído por uma faculdade de uma universidade pública, não merecer menor consideração do que outro defendido na área da História. O que você não parece compreender é que, com muito poucas excepções, aquilo que se designa de Ciências da Educação ser a aplicação de ciências consolidadas que tomam como seu objecto de estudo a educação, como sucede com a História da Educação, a Economia da Educação, a Psicologia da Educação, a Sociologia da Educação ou a Filosofia da Educação. Já agora aproveito para lhe dizer que coloquei a expressão área científica entre aspas porque considero não existirem diferenças entre quem se dedica, por exemplo, à investigação em Sociologia da Educação ou Sociologia das Religiões. Os métodos de investigação são os mesmos, o que varia é o objecto de estudo. Naturalmente que em ambos os casos os resultados podem oscilar entre a mediocridade e a excelência.
"Porque é que um professor com o grau académico de licenciado, mestre ou doutorado em informática tem, segundo a Lei, competências de nível 1 (básicas) em tecnologias da informação e da comunicação e um professor doutorado em ciências da educação tem, segundo a Lei, competências de nível 3 (avançado)?"
Desconheço este assunto pelo qual nada poderei dizer sobre ele.

"Constato que não fez referência alguma a nenhum trabalho de investigação do Professor Doutor José Tribolet do Instituto Superior Técnico. E com isto não quero dizer que o deva ter feito e muito menos que considere que o PJ é preconceituoso em relação à Informática e menos ainda que ler trabalhos na área da informática lhe dê demasiado trabalho."

Estamos a discutir educação e não informática. Os exemplos que dei foram de trabalhos académicos realizados no âmbito das ciências da educação. Foram apresentados para fundamentar os meus argumentos. Já agora aproveito para lhe dizer que me identifico completamente com uma frase do Professor Tribolet numa entrevista do ano passado ao portal Educare na qual afirmava. "O que de mais importante podemos fazer pelos jovens não é enfiar-lhes matéria na cabeça. É dar-lhes disciplina, método, capacidade intelectual, capacidade de pensar, de formular problemas, de estruturar metodologicamente a procura de soluções. E isto faz-se fazendo."

"Esta arrogância de quem defende as ciências da educação provoca-me arrepios, porque é uma atitude totalitária e intolerável num regime democrático. É uma atitude muito semelhante à encontrada noutros tempos neste mesmo país... Pode acreditar que é mesmo arrepiante. E depois falam e escrevem tanto do tempo da ditadura e da escola daquele tempo..."

Desde quando é que defender uma área de investigação científica configura uma atitude arrogante e totalitária? Era o que mais faltava! Com isto não pretendo de forma alguma dizer que defendo tudo os que investigam nessa área propõem. A diversidade dentro das ciências da educação é tão lata quanto a existente noutras áreas do conhecimento e da investigação científica. O que considero uma atitude arrogante e absolutamente inaceitável é identificar esta área como um bode expiatório das muitas debilidades do nosso sistema educativo e considerar que o conhecimento que ela produz é à partida negativo.

PJ

Anónimo disse...

Professor Doutor Engenheiro José Tribolet do Instituto Superior Técnico.

Fartinho da Silva disse...

As suas respostas confirmam aquilo que referi desde inicio, ou seja as ciências da educação são claramente beneficiadas no sistema de ensino português.

Em relação à evidente descriminação dada em letra de Lei entre os professores que aprofundam os seus conhecimentos na sua área científica e aqueles que se aventuram em conhecer um pouco mais temas tão interessantes e úteis para a profissão docente como, e passo a citar, "História da Educação, "Economia da Educação", "Psicologia da Educação", "Sociologia da Educação" ou "Filosofia da Educação", o PJ defende o status quo. Defende que tudo fique como está. Ou seja, se um professor de Matemática do ensino secundário aprofundar os seus conhecimentos na sua área científica obtendo o grau de mestre ou doutor, deve fazer prova do interesse desse conhecimento junto de uma comissão administrativa de sábios, mas se o mesmo professor estudar Filosofia da Educação, desde que obtido num departamento de ciências da educação, obtendo o grau de mestre ou doutor, tem o interesse para a sua profissão automaticamente adquirido, segundo a Lei em vigor.

Para sustentar que o PJ defende esta tese, basta atentar a estas citações:

"Eu não afirmei que a formação na área científica da docência não é útil para a prática pedagógica do docente. Disse que não podemos dar por adquirido que isso suceda e indiquei-lhe um exemplo real e concreto de um doutoramento na área da Geografia em isso eventualmente poderá não ocorrer."


"O que disse, e torno a repetir, é que se parte do princípio de que a obtenção do grau na área das ciências da educação é susceptível de implicar uma mais valia para o professor no âmbito da sua área profissional, embora reconheça que nem sempre assim sucede. Esta última parte da frase é importante."

Eu fiquei esclarecido... até lhe acrescento mais, prefiro um professou de Matemática doutorado em Matemática do que um professor licenciado em Matemática e doutorado em Psicologia da Educação.

"Sustenta que as ciências da educação são menos exigentes do que outros campos do saber porque conseguiu obter aprovação no curso de formação que frequentou. Isto é simplesmente risível meu caro."

Eu não disse isso, como é evidente. Não brinque com a inteligência dos outros, se faz favor.

"Classifica de demagogia a pergunta que lhe deixei relativamente à qualidade da tese de doutoramento do Doutor Paulo Guinote."

Mais uma vez, não foi isso que me solicitou. Qualidade é diferente de grau de dificuldade.

Em relação à descriminação entre professores licenciados, mestres, e doutorados em informática e doutorados em ciências da educação basta ler a Portaria n.º 731/2009, de 7 de Julho. É mais um dos muitos casos de benefício claro a quem estuda ciências da educação em relação a quem estuda a sua área científica de origem.

Caro PJ, agradeço imenso o facto de ter citado o Professor Tribolet. Fez um excelente trabalho...

"Estamos a discutir educação e não informática." Pois é, meu caro! Enquanto docente, formador e gestor de sistemas de informática, interessa-me estudar informática, para poder ajudar os meus alunos, formandos e clientes.

"Desde quando é que defender uma área de investigação científica configura uma atitude arrogante e totalitária? Era o que mais faltava!"

Mais uma vez, brinca com a inteligência dos outros.

Já agora deixo aqui uma definição que lhe poderá ser útil em futuras discussões:

Sofista: Pessoa que argumenta com sofismas.

Anónimo disse...

Caro Fartinho da Silva

Se quer aprofundar os seus conhecimentos noutras áreas, que não estão definidas no ECD como relevantes para a profissão docente, não reclame. Já sabia, à partida, as regras do jogo (o Ministério da Educação, como entidade empregadora, pode definir aquilo que lhe interessa na formação dos seus funcionários).
Ou também é daqueles professores que quer ter um pé na escola, outro na empresa e passa a vida a reclamar na escola pelo tempo que aí passa (que foi tramado nos horários, trabalha horas a mais, o Director persegue-o, os alunos são mal educados e não aprendem...)?

Fartinho da Silva disse...

Caro Anónimo,

"Se quer aprofundar os seus conhecimentos noutras áreas, que não estão definidas no ECD como relevantes para a profissão docente, não reclame. Já sabia, à partida, as regras do jogo (o Ministério da Educação, como entidade empregadora, pode definir aquilo que lhe interessa na formação dos seus funcionários)."

Quem lhe disse que trabalho para o Ministério da "Educação"? Nem que me pagassem o dobro, não aceitaria trabalhar para tal instituição. Eu trabalho numa escola a sério! Uma escola onde os professores estudam e ensinam, os alunos estudam e aprendem e os encarregados de educação são responsáveis pela educação dos seus filhos. Percebe a enorme diferença?

"Quando afirma que já sabia, à partida, as regras do jogo", e como tal me devo subjugar a elas, é triste. Esta cultura de Estado Novo, é muito triste. Para além de que as regras do jogo em Portugal e no Ministério da "Educação" em particular, como deve saber, estão SEMPRE a mudar.

"Ou também é daqueles professores que quer ter um pé na escola, outro na empresa e passa a vida a reclamar na escola pelo tempo que aí passa"

Esta sua frase é paradigmática da forma de estar muito portuguesa. Eu não quero ter um pé na escola e outro na empresa, eu tenho os dois pés na escola e os dois pés na empresa. Não interessa o tempo que estou num lado ou no outro, interessa a minha produtividade. Percebe? Esta cultura de ter um único trabalho e para toda a vida é algo muito socialista, mas que não vingará por muito mais tempo. Do ponto de vista económico é um enorme disparate. Por dois motivos:

1º ao trabalhar na empresa, tenho a oportunidade de estar sempre actualizado e de transmitir muitas das minhas experiências profissionais aos meus alunos. E bem vejo como eles se motivam com estas experiências;
2º nunca aceitaria trabalhar em exclusivo para uma única entidade. O tempo da escravidão laboral já lá vai há muito. Em Portugal é popular defender-se que cada pessoa deve ter um único trabalho, mas tal é um enorme disparate para a parte mais fraca, o trabalhador. Se o trabalhador depender de uma única fonte de rendimento, fica às mãos do empregador e se um dia perder a sua única fonte de rendimento, fica numa situação deveras complicada.

Portanto, aconselho-o, vivamente, a pensar melhor antes de defender a exclusividade obrigatória, como foi feito por este "governo". Um dia ainda proíbem as pessoas de trabalhar.

P.S. Também invisto em Bolsa! Aconselho-o a fazer o mesmo, diversifique o risco.

Anónimo disse...

Caro Fartinho da Silva

Não invisto na bolsa.
Não gosto de jogar com dinheiro nem sou ganancioso.
Quanto aos seus argumentos, parece-me que trabalha numa escola de elite e numa grande multinacional para fazer as afirmações acima. Os exemplos que conheço (sei do que falo) contrariam o que disse. Até agora só vi desvantagens em trabalhar como docente e numa empresa, pois as consequências são aquelas que já referi. O Sr. deve ser uma das honrosas excepções.

Abraço.

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