Tendo em conta a minha experiência no ensino superior público, parece-me que o grande problema que, neste momento, se vive é a ausência de uma visão global e estruturada sobre aquilo que, de facto, se pretende, dos e para os alunos.
Os professores preocupam-se em leccionar as matérias da sua competência, não se questionando se a dedicação que individualmente exigem aos alunos é razoável e compatível com as restantes cadeiras ou com o tempo que têm disponível.
Esta desarticulação, esta ausência de visão de conjunto, dificulta a resposta dos alunos, em tempo útil, às inúmeras solicitações da frequência duma licenciatura, mesmo quando estes se dedicam exclusivamente a ela, sendo obrigados demasiadas vezes a sacrificar a qualidade e honestidade dos trabalhos em favor da possibilidade de transitar a todas as cadeiras. Tenho percebido que, quando tentam manifestar o seu descontentamento com esta situação, não são devidamente atendidos.
Há plágio, sim. Há imenso. Há cábulas e cópias nos exames. Há-as numa quantidade assustadora. Mas há também um desespero latente por parte de quem estuda e, mesmo assim, se vê obrigado a recorrer a tais manobras para ter sucesso (que sucesso será este?).
Porque estamos a chegar a um ponto de ruptura em que o exigido é disparatadamente excessivo, porque há matérias e trabalhos redundantes, que apenas se justificam com a alienação de uns professores em relação aos outros, e porque muitos deles ignoraram os sinais e, sem problemas, aceitam cábulas e cópias, desde que isso se traduza nos trabalhos que estabeleceram.
Não somos tontos. Sabemos que nos estamos a prejudicar. Sabemos que, ao não sermos honestos, não o estamos a ser sobretudo connosco próprios. Porém, o objectivo primordial de um aluno universitário já não é aprender ou, sequer, aprender uma profissão, mas sim sair da faculdade o mais depressa possível. Para bem da sua sanidade mental.
Susana Afonso
1 comentário:
Embora recorrendo exclusivamente à minha única experiência académica acrescento que, embora concorde com a referida inexistência de articulação entre os Professores (o que não se revela, apenas, na excessiva dedicação muitas vezes exigida, como também na desarticulação e falta de continuidade de conteúdos programáticos!), não posso deixar de chamar a atenção, para o facto de os próprio alunos exercerem um papel muito relevante neste aspecto: nos últimos anos os alunos vêm apresentando, sistematicamente, propostas no Conselho Pedagógico que redireccionem os momentos de avaliação para um sistema de Avaliação Contínua que integre, não só, momentos de avaliação do tipo exame, como um conjunto alargado de pequenos trabalhos realizados ao longo do semestre.
Ora, de um extremo em que a avaliação era centrada no final do semestre e do tipo exame, passamos ao exagero de um sistema baseado em mini-relatórios que, todos somados, permitem a desejada aprovação. Na verdade, este sistema apenas beneficia o cábula: mais do que conhecimento, os "relatórios" centram-se (ou pelo menos, também se centram...) nas competências (ao bom gosto do novo sistema) e, claro, são muito mais fáceis de cabular.
Os exames podem ter muitos defeitos, mas são uma ferramenta de avaliação que me parece centrada no conhecimento e, quer ocorram ou não num único momento, obrigam sempre a um estudo constante.
Já os "trabalhos" / "relatórios".... parece-me mal quando no ensino superior uma % (mesmo que pequena) da nota final de uma disciplina como Cálculo corresponde aos trabalhos de casa que o aluno fez. E exemplos como este, crescem como cogumelos. Em contextos ainda mais gravosos. E com o apoio de uma grande parte dos alunos.
Paulo Batista
Estudante universitário
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