Joana Pereira dos Santos publicou um artigo no Semanário Expresso de ontem, intitulado Teses à venda na Net por 1500 euros (páginas 14-15), onde apresenta as diversas perspectivas sobre o plágio e compra de trabalhos académicos, fenómeno de que toda a gente fala, mas que ninguém detém. Aqui deixo transcritas algumas passagens que revelam as perspectivas dos vários implicados:
A perspectiva de quem faz os trabalhos
Um caso:
“Recém-licenciada e se conseguir encontrar emprego, Carolina de 28 anos, decidiu em 2005 anunciar na Internet os seus serviços de “apoio” à realização de trabalhos para cadeiras, monografias e teses de mestrado (…) Na prática, contudo, dá muito mais do que uma ajuda. Faz quase tudo, menos o trabalho de campo. «Os alunos fazem entrevistas ou aplicam inquéritos, entregam-me esse material e eu trabalho a partir daí. Faço a análise qualitativa, ou seja a parte do pensamento, que é o principal da tese. Mas às vezes faço também a parte teórica e todas as pesquisas (…) Quando falo isso tudo, mais a conclusão, acabo por ser eu a fazer a tese (…) toda». O negócio é rentável, mas já correu melhor. «A concorrência é cada vez maior e, por isso, estou a receber menos contactos»
Outro caso:
“Carla (…) é responsável por uma microempresa, onde uma equipa de cinco pessoas produz trabalhos académicos. Sempre com «confidencialidade absoluta».
Mais do que o negócio, o que neste caso se destaca como verdadeiramente insólito é a falta de consciência da transgressão:
«Uma vez um professor (…) ligou-me, fazendo-se passar por um aluno para ver se vendíamos mesmo os trabalhos prontos. No fim identificou-se e disse que o que fazíamos não era ético, que estava muito errado. O senhor devia ser de outro planeta porque isto é do mais comum que há».”
A perspectiva de quem encomenda/compra os trabalhos
“Em fóruns consultados por muitos estudantes universitários encontram-se vários anúncios (…) «Compro urgentemente tese final de licenciatura» (…)
"Vasco (…) confessa já ter pago por um trabalho (…). Um programador conhecido acabou por resolver o problema (…) «No final tirou uma horas para nos explicar o que tinha feito e como. Graça a esse briefing fizemos a apresentação sem que o professor desconfiasse. E tivemos 18, o que seria impensável se fôssemos nós a fazer»”
A perspectiva dos professores
“Jorge Ramos do Ó, professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa (…) garante que é difícil haver fraude se os orientadores fizerem um trabalho individualizado com os alunos. «Só que muitos professores têm dezenas de orientandos e não têm tempo de fazer a orientação como dever ser» (…) «O recurso à fraude é o resultado de uma cultura de pouca exigência enraizada em Portugal, em que não se valoriza o processo de aprendizagem, mas apenas a obtenção do diploma».”
A perspectiva do presidente do Conselho de Reitores da Universidades Portuguesas
“«É preciso ter consciência que a fraude existe e agir com sanções exemplares, diz Seabra Santos. Desde logo a tese é chumbada e o aluno pode arriscar a expulsão da Faculdade. A mancha ética e moral que isso deixa sobre ele se for apanhado, é dificilmente ultrapassável».”
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2 comentários:
«muitos professores têm dezenas de orientandos e não têm tempo de fazer a orientação como dever ser» a ponto de não fazerem a mínima ideia de que os alunos não trabalharam? E aceitam orientandos sabendo que não irão orientá-los?!? Isto também é um pouco desonesto... ou algo me escapa?
«Mais do que o negócio, o que neste caso se destaca como verdadeiramente insólito é a falta de consciência da transgressão».
Não é só nesse caso. Já há uma grande falta de consciência da transgressão e a tendência tem sido no sentido do seu aumento.
Participo no fórum Exames.org há alguns anos. Tenho visto por lá muitos pedidos de ajuda para trabalhos do ensino secundário. Já não se pede informação para investigação, ajuda para realização do trabalho só algumas pessoas pedem, a maioria pede trabalhos já elaborados para copiar.
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