domingo, 21 de junho de 2009

Longevidade e extensão do Império Romano

Do estudo de João Gouveia Monteiro e José Eduardo Braga que precede a obra Vegécio. Compêndio da Arte Militar,referida no De Rerum, deixamos ao leitor o seguinte extracto (páginas 23 e 24 e página 15):

"Sabemos relativamente pouco sobre o que se passou antes das Guerras Púnicas, especialmente antes da Segunda (218-201 a.C.). Mas, de acordo com Michel Feugère, durante o tempo de reis romanos (i.e., até 509 a.C., data da expulsão de Tarquínio Soberbo, o último dos seis que se sucederam a Rómulo), não devia haver grandes diferenças militares entre Roma e os seus vizinhos.

Fundada, segundo a tradição (hoje em dia motivo de controvérsia), em 753 a.C., Roma foi durante séculos uma pequena comunidade (ou várias que acabaram por se fundir numa só) e a guerra que praticava tinha essa pequena escala: raids, roubos de gado e escaramuças ocasionais). Como explica Goldsworthy, os líderes eram, na sua maior parte, «chefes guerreiros nos moldes heróicos» que, «em muitos aspectos, deveriam assemelhar-se aos heróis da Ilíada de Homero, que combatiam para que o povo deles dissesse «ignominiosos não são os nossos reis que governam/ a Lícia, eles que comem as gordas ovelhas e bebem/ vinho selecto, doce como o mel, pois sua força é também/ excelente, visto que combatem entre os dianteiros dos Lícios». Ao que presume também Goldsworthy, a transição para a República não terá modificado de imediato este género de liderança militar.

No século VI a.C., sabemos que Roma ficou sob a dominação dos Etruscos (reconstituição corrente mas redutora, que encobre a presença e o papel de outros povos). Mas, em finais do século VI, a cidade ajudou a fundar a Liga Latina (uma aliança de urbes latinas contra os Etruscos), a qual, com a ajuda dos Gregos que haviam colonizado a costa sul do Latium, acabaria por expulsar os Etruscos, em 396 a.C., dar-se-ia ainda a captura da cidade etrusca de Veios. Segundo Feugère, em parte foi por influência dos Etruscos que o exército romano primitivo incorporou elementos gregos nas suas tácticas e equipamentos.

Em, 280 a.C., Roma controlava já, totalmente a Itália peninsular, depois de haver vencido os Samnitas (em três guerras: 343-341, 326-304 e 298-290 a.C.), os Úmbrios, os Etruscos e os Celtas do Adriático. Em inícios do século III a.C, Roma submeteria também as colónias gregas da Península Itálica. Durante esta longa evolução a escala de guerras de Roma (que revelava uma grande abertura aos estranhos à sua comunidade, rara no mundo antigo) foi crescendo.

Sob influência etrusca (mais até do que grega), os Romanos começaram a combater em formação cerrada – lembrando a falange hoplita, densa e pouco propícia a grandes destaques individuais. O infante hoplita usava um escudo redondo (chapeado a bronze, com c. de 90 cm de diâmetro), estando também equipado com elmo, couraça e grevas, para além de uma lança muito comprida. A falange, originária do século VIII a.C., surgira na Grécia antiga, ao esboçar-se uma primitiva organização militar destinada a vingar durante cerca de cinco séculos; a falange evoluiria depois até à sua forma clássica antes da invasão da Pérsia por Alexandre Magno, c. 330 a.C. (…)

Quando se estuda a civilização de Roma antiga, o primeiro aspecto que impressiona é a sua longevidade: mais de mil anos de história (se apenas considerarmos o Império Romano do Oriente), um caso único no mundo nosso mundo. O segundo motivo de espanto é a imensidão do seu território: visto de poente para nascente, o Império Romano ia desde a Península Ibérica até à Capadócia e a Síria (fora as conquistas provisórias de Pompeu de Corbulão, de Trajano, de Diocleciano, de Juliano e de outros na Arménia, na Assíria, na Mesopotâmia e Império Persa); visto de norte para sul, descia das Ilhas Britânicas até ao Norte de África (incluindo as Mauritânias, a Numídia, a Cirenaica e o Egipto).

Compreender como foi possível construir e manter durante tantos séculos um Império com estas dimensões é algo que nos conduz necessariamente ao estudo da máquina de guerra romana, talvez a mais eficiente e poderosa que alguma vez existiu à superfície da Terra".

2 comentários:

Luís Bonifácio disse...

Basicamente falando, as Fronteiras do Império Romano são também as fronteiras da plantação da Vinha.

António Daniel disse...

Desculpem, mas o aspecto cultural também teve muita importância, nas suas mais variadas vertentes (materiais: vias de comunicação e espirituais: língua). sem esquecer a construção de cidades que, nas suas mais variadas vertentes, significaram um avançado mecanismo de defesa. Aqui se inscreve o comentário de Luís Bonifácio.

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