quarta-feira, 10 de junho de 2009

Um cenário irrealista

Na sequência de textos anteriores e de comentários de leitores acerca daquilo que é ou que deve ser o ensino.

Nos sistemas educativos ocidentais, a solicitação aos professores para que, além do ensino, desempenhem tarefas várias, para as quais, por princípio, não estão habilitados, tem vindo a intensificar-se nas últimas décadas. Por outro lado, o ensino tem-se tornado mais exigente, sob o ponto de vista académico, pedagógico-didáctico e relacional.

Pode dizer-se que os professores têm aceitado este cenário, sem demonstrarem uma clara posição de resistência, ainda que o seu grau de entusiasmo e empenhamento possa variar.

Genericamente, os professores, além do seu trabalho, assumem funções burocráticas, como se fossem funcionários de secretária; bem como funções de acompanhamento dos alunos, como se fossem auxiliares de acção educativa. Para não falar de funções mais exigentes como detectar e seguir a evolução de crianças e suas famílias, à semelhança de psicólogos ou assistentes sociais; ou fazer observação e planos de intervenção especializados para alunos com características particulares, à semelhança de pedagogos, etc. Isto no quadro estritamente escolar, pois muitas outras coisas lhe são pedidas, como fazer a ligação da escola à comunidade ou organizar eventos com significado para ambas.

Trata-se de um cenário perfeitamente irrealista, pois, para que um profissional tenha um bom desempenho, o número de tarefas que lhe compete tem se ser necessariamente reduzido e, em caso algum, dispensa formação adequada.

Assim, se expõem os professores, sobretudo aqueles que são mais dedicados ao ideal de serviço, a sentimentos devastadores de incapacidade e de culpa, que, em última instância, os pode conduzir ao esgotamento (Hargreaves, 1998).

De facto, estudos empíricos têm demonstrado de modo inequívoco que a dispersão de tarefas e a exigência de perfeição que a acompanha, constitui uma importante fonte de mal-estar entre estes profissionais com consequências nefastas para as aprendizagens (Esteve, 1992). Explica Ph. Perrenoud (1993, 65) que “produz no professor a sensação de não saber por onde começar, de não conseguir fazer nada de jeito, à força de querer fazer demasiadas coisas, de não saber já o que começou, onde ficou, o que ainda resta fazer, o que tem mais urgência”.

Nesta linha de pensamento, Estrela (1999, 23), posiciona-se firmemente ao arrepio da subalternização do papel primordial do professor que consiste na “promoção das aprendizagens”, até porque “o trabalho na sala de aula continua a ser central, até para os próprios professores” na estruturação da sua própria identidade (Hargreaves, 1998, 16).

Em suma, para imprimir qualidade ao trabalho do professor “parece utópico pretender que ele desempenhe simultaneamente outros papéis igualmente exigentes. É tempo de se fazer uma redistribuição das funções dos professores (...) e de abrir a escola à colaboração doutros profissionais (licenciados em ciências da educação, psicólogos…)” (Estrela, 1999, 23). Profissionais que, dadas as circunstâncias estabelecidas pela tutela de escolarização e exigência de sucesso para todos, são imprescindíveis e inadiáveis.

Imagem original: Nuno Mata (1996)

Obras referidas:
- Esteve, J. M. (1992). O mal estar docente. Lisboa: Escher
- Estrela, M. T. (1999). Da (im)possibilidade actual de definir critérios de qualidade da formação de professores. Psicologia, Educação e Cultura, vol III, n.º 1, 9-30.
- Hargreaves, A. (1998). Os professores em tempo de mudança: trabalho e cultura dos professores na idade pós-moderna. Lisboa: Mc Graw-Hill.
- Perrenoud, P. (1993). Práticas pedagógicas, profissão docente e formação: perspectivas sociológicas. Lisboa: Dom Quixote.

14 comentários:

joão viegas disse...

Percebo o que quer dizer mas vai me desculpar o seguinte desabafo :

E como é que nos fazemos, nos profissionais liberais, médicos, arquitectos, advogados, psicologos, etc. ? Não temos também que aturar o paciente/cliente, que ouvir as suas queixas (que muitas vezes nada têm a ver com a nossa especialidade) ? Não temos que andar atras dele para controlar o que ele faz, não va ele estragar o trabalho feito ? E não temos também que passar horas a preencher papeis, não temos que gerir os nossos gabinetes para que funcionem, com o que isto implica de tarefas que nada têm a ver com as nossas especialidades ? Quantas horas temos que trabalhar por dia fazendo "n" coisas que nada que têm a ver com as funções "core" dos nossos oficios ?

Percebo o que quer dizer, mas acho um bocado facil partir do principio, porque se é funcionario publico, que é perfeitamente natural existirem serviços auxiliares que aparecem por milagre para desempenhar essas tarefas menos nobres, sem saber que isso tem custos e que nenhum profissional consegue atingir esse ideal que consiste em apenas se dedicar ao lado nobre do seu ministério...

Bom, isto foi apenas um desabafo, mas convém lembrar que os professores gostam de se conceber como os herdeiros de uma profissão liberal, portanto seria legitimo eles tentarem pôr as coisas nesses termos.

Isto não obsta a que devam ter mais meios e todas as outras coisas certas que defende no seu post...

Agora podem cair-me em cima.

(Estava mesmo a precisar de criticar um post do De Rerum. A escolha era entre este e um do Conraria mais acima, acerca de ordens profissionais, que é um perfeito exemplo do absurdo a que chegamos quando raciocinamos com os dogmas liberais na cabeça, mas isto ter-me-ia dado mais trabalho).

Helena Damião disse...

Caro João Viegas
Percebo também o que quer dizer. E concordo.
Eu falo (só) do ensino porque é o que, por dever de ofício, estudo. Não falo doutras profissões porque não sei bem como funcionam, nem quais são as suas exigências concretas.
Porém, do que vou vendo há várias analogias que podem ser feitas entre o ensino e outras profissões igualmente exigente sob o ponto de vista da responsabilidade social.
Dizem-me, por exemplo, alguns médicos que considero dedicados e preocupados, que também têm muitas tarefas burocráticas e que isso lhes rouba tempo e disponibilidade para atender os seus doentes.
Portanto, o problema é capaz de ser bem mais geral... Mas não deixa de ser um problema. E é um problemas por várias razões, uma delas, que me tem ocupado, é o erro.
Sabemos com toda a certeza que os erros e a gravidade dos mesmos aumenta à medida que aumenta o número de tarefas que executamos em simultâneo, mesmo que estejamos aptos a realizá-las. Aumenta também em função da fadiga, das falta de rigor das instruções, da adversidade do ambiente laboral...
Assim, sendo, nem provavelmente em termos económicos é vantajoso que um profissional se desdobre por "n" coisas. Se formos, então, para os "estragos" que podemos causar nos outros, então, é que não compensa mesmo.
Helena Damião

Fartinho da Silva disse...

O problema não foi a transformação do professor num cruzamento genético entre um professor, um psicólogo, um sociólogo, um marketeer, um entertainer, um burocrata, um secretário, um pai, uma mãe e um amigo. O problema é o que levou a que o professor tenha sido transformado nisto e o professor foi transformado nisto porque ainda não percebemos o que queremos da Escola!

A esquerda sempre considerou que o Estado deveria educar as crianças e os jovens "dos outros", ou seja a esquerda sempre desconfiou dos pais e da sociedade. É aliás por esta razão que os meus filhos estão bem longe da escola pública porque eu não admito que o Estado tente fazer o meu papel, era só que faltava. A esquerda sempre considerou que as crianças e os jovens eram uma espécie de classe social oprimida e que deveria ser protegida da classe social opressora, os professores...! A esquerda sempre considerou, tal como Rousseau, que as crianças devem ser educadas de forma autónoma sem interferências dos adultos.

Esta esquerda tomou conta de TODOS os lugares de decisão no que à escola diz respeito e transformou a Escola numa espécie de Centro de Guarda e Entretenimento de Crianças e Jovens! As intenções eram louváveis, no entanto o resultado é este. A consequência para os professores terem sido transformados no que referi anteriormente deve-se ao facto de que NENHUM PAÍS DO MUNDO TER DINHEIRO PARA PAGAR UMA ESCOLA ASSIM! Como para se conseguir educar e ensinar necessita de uma imensidão de técnicos de diversas especialidades, o Estado não tem pura e simplesmente recursos para o fazer e então atirou com todas estas responsabilidades de forma completamente irresponsável e leviana para cima dos seus profissionais - os professores. O Estado sabe que nada funciona, o Estado sabe que os professores não conseguem fazer tudo o que lhes é pedido, mas o Estado considera que basta que o povo acredite! Portanto desde que o povo acredite que a Escola é capaz de fazer tudo e um par de botas, está tudo bem!

Desta forma, os sucessivos governos, capturados por estas utopias e pelo populismo de fazer acreditar ao povo que a Escola é capaz de Educar e Ensinar, foi criando um ENORME e PERMANENTE circo e a esse circo chamou de escola moderna.

Quem sabe um pouco de gestão percebe que nada disto pode funcionar! As grandes empresas começaram nos idos anos 70 a perceber que não podiam de forma alguma somar tantas missões e por isso começaram a recentrar a sua missão numa única e com isso começaram a recentrar a missão dos seus trabalhadores.

Quem tem dúvidas, basta imaginar o cenário de uma empresa que produz sumos. Se utilizasse a estratégia seguida em Portugal para as escolas, aconteceria o seguinte:

1. Criaria uma fábrica para produzir sumos;

2. Para produzir sumos, necessitaria de frutos então compraria umas quintas e começaria a produzir os frutos;

3. Para produzir os frutos necessitaria de fertilizantes, então faria uma fábrica para produzir os fertilizantes;

4. Para embalar os sumos, necessitaria de fabricar embalagens então faria uma fábrica de produção de embalagens;

5. Para etiquetar as embalagens faria uma fábrica de estiquetagem de embalagens;

6. Para tornar os seus sumos aliciantes ao consumidor teria que os publicitar e teria que criar uma estratégia de marketing, então construiria uma unidade de marketing e publicidade;

7. Para colocar os seus produtos no mercado necessitaria de camiões, então criaria uma unidade de transporte;

8.............. etc., etc.

É evidente que nenhuma empresa bem gerida faz isto! Basta dar o exemplo das embalagens, esta empresas com tanta missão para gerir não poderia competir com as empresas especializadas na produção de embalagens e como tal passado poucos anos, teria as embalagens menos eficientes do mercado.

Quase todas as empresas geridas como o são as escolas portuguesas já faliram há muito e as poucas que ainda restam e podem acreditar que ainda existem empresas como a que referi anteriomente, têm um fim único: A EXTINÇÃO!

Anónimo disse...

Helena, é isso tudo que muito bem diz na sua prosa.Gostava mesmo que algumas pessoas experimentassem fazer tal trabalho por uns meses...Sei do que falo, tenho experiência do exercício do cargo de DT por mais de duas dezenas de anos.E como é difícil gerir uma série de variáveis, algumas das quais estão praticamente fora do nosso controlo...Não sei bem onde iremos parar.Para além do mais as escolas começam, já são, locais pouco seguros e, por vezes, algo perigosos...

Helena Ribeiro disse...

Caro Fartinho da Silva, 10 Junho 18:36

“… cruzamento genético do professor… “ Esta merece patente!

Agora essa história da esquerda e da direita, não lhe parece um pouco anacrónica? A pessoa pode ser do partido político, ou do clube de futebol, ou do chá das cinco, ou da sex-shop da Abrunheira no lugar de Malveirosa-de-cheiros-basto… isso a mim não me interessa para nada. O que me interessa são as pessoas e aquilo que elas tencionam fazer quando ocupam determinados cargos.

Helena Ribeiro disse...

Caro Anónimo, 23:09

Não nos deixemos iludir pelo pessimismo, porque a realidade é, como sabemos, … (no mínimo)… dual. Assim, as escolas estão, - também -, pujadas de situações humanas de enorme riqueza e criatividade, verdadeiramente inspiradoras e pedagogíssimas no sentido de que a experiência criativa “entra” -“Só de vê-la, / Oh pescador.” (Barca Bela, recolha de Almeida Garrett). E ensinar é, na minha identidade profissional individual, uma actividade criativa, apesar de nos estarem a tirar essa identidade pela exaustão, como tão bem ficou esclarecido em conversas neste blogue.

Aconselho vivamente a todos a exposição de Júlio Pomar a decorrer no Palácio Anjos, em Algés. E claro, levem as vossas crianças.

Imperdível – o filme italiano “Pranzo di Ferragosto” (Almoço de 15 de Agosto): levem os vosso adolescentes e os vossos idosos.

PS – Vê-se mesmo que dormi muito bem, neste feriado…

Fartinho da Silva disse...

Cara Helena, referi a esquerda porque foi a esquerda. Em relação a este ponto não posso fazer nada, apesar de conhecer imensas pessoas de esquerda que nunca concordaram com este tipo de escola e conhecer um número crescente de antigos defensores deste modelo que agora reconhecem o seu total e absoluto fracasso.

Temos aliás um excelente exemplo de alguém que defendia que a Matemática deveria ser ensinada de maneira divertida e que depois de EXPERIMENTAR em sala de aula, defende agora o seu contrário, estou a falar de Ron Aharoni que leccionava na Universidade de Isreal e que aceitou o desafio de demonstrar no 1º Ciclo as teorias românticas e... não conseguiu! O próprio passados 8 anos a leccionar neste grau de ensino vem agora afirmar que: "Usar uma calculadora na aula de Matemática é como pôr os alunos a conduzir automóveis em vez de correrem na aula de Educação Física." Outra afirmação do autor do livro: "Aritmética para os pais" que revela bem ao que se chegou é a seguinte: "O maior problema é que os professores não ensinam porque lhes foi dito para não ensinarem".

Como diz um grande amigo meu que ainda lecciona numa escola pública (desgraçado, não lhe invejo a sorte): "Hoje, passo a vida em reuniões a discutir o óbvio, passo a vida preender papelada inútil, passo a vida a preencher grelhas da treta, passo a vida a preencher e a criar formulários idiotas, passo a vida a fazer relatórios de patetices, passo a vida em projectos da treta e, hoje, tenho muito menos conhecimentos científicos do que tinha há 5 anos atrás, porque não tenho tempo para ESTUDAR, para PREPARAR aulas e para ENSINAR."

Este meu colega é professor de Biologia do Ensino Secundário...!

José Mesquita disse...

Wellcome to the real world. Ainda por cima os professores têm uma obrigação social a mais: o de, sendo pessoas instruídas e em contacto directo com a sociedade através dos jovens, serem porta-estandartes da denúncia das tendências embrutecedoras e sufocantes da sociedade. Do que se queixam agora os professores já outros profissionais se esqueceram: já é o dia a dia, com todas as consequências nefastas conhecidas, até o de criarmos jovens sem o devido acompanhamento familiar... Quando isso acontecia, onde estavam os professores? Preocupados em escolher um diazinho de greve, que pudesse criar um fim de semana prolongado, por luta de uma carreira que permitisse de x em x anos ter um aumento ainda maior, entre outras benesses que para agrande maioria nem em sonhos. Deste lado, já estamos brutos mesmo. Não esperem solidariedade.

Fartinho da Silva disse...

Acho que o José Mesquista ainda não percebeu bem o problema!

Se não tivermos pessoas qualificadas, continuaremos a empobrecer porque as nossas empresas e a nossa sociedade não conseguem competir no mercado global.

Portanto, se o José Mesquita utiliza o senso comum para justificar a sua falta de solidariedade para com as pessoas que podem ALTERAR o panorama negro que se vive e se viverá durante MUITOS anos em Portugal faz mal e faz mal porque se a escola não voltar rapidamente à sua missão central: ENSINAR, meu caro não tenha qualquer dúvida que a sua reforma pura e simplesmente não vai existir e o seu poder de compra diminuirá progressivamente até não poder mais...! Tenho imensa pena que ainda existam tantos portugueses que ainda não perceberam as consequências dos disparates que foram implementados nas escolas, apesar de assistir com agrado a um número crescente de pessoas, principalmente aquelas que têm os seus filhos em idade escolar, que vão abrindo os olhos e vão percebendo que isto assim não pode continuar.

Outro aspecto do seu discurso profundamente populista é misturar questões sindicais com questões políticas e pior ainda dizer inverdades evidentes. Veja e olhe com mais atenção para o que se passa à sua volta, nas três manifestações de professores do úiltimo ano e meio havia dois discursos bastante diferentes: 1- o discurso sindical, que obviamente falava apenas em questões sindicais; 2- o discurso, as bandeiras, as palavras de ordem da grande maioria dos docentes que resumidamente diziam isto: "Deixem-me ENSINAR".

Uma coisa é o discurso oficial do partido socialista, outra coisa é a realidade e a realidade mais cedo ou mais tarde sobrepõe-se à propaganda, como aconteceu, alías, em 7 de Junho e acontecerá com grande estrondo nas próximas eleições legislativas!

Helena Ribeiro disse...

Fartinho da Silva, obrigada pela sua informação preciosa. Já conhecia o nome Ron Aharoni da Universidade de Israel, claro que as teorias românticas já estão a ser postas de parte (felizmente), "A Aritmética para os pais" é de facto alarmante e o seu amigo meu colega (um verdadeiro resistente...) tem toda a razão!

Tenciono dar mais 4 anos, antes de mudar (ou não) de vida. Gosto MUITO de ENSINAR, mas se o bom senso não regressar, ainda que lentamente, vou ter de me retirar.

Grata pela sua resposta.

José Mesquita disse...

Tenho para mim que a profissão mais nobre que existe é a de professor. Por isso nunca quis ser professor. Não me considerava capaz para tal e não toleraria ser responsável pela má formação de tantos e tantos jovens. Pensei isto era muito novo, numa altura em que se tivesse estudado para professor seria agora um funcionário público descansado até aos 65. Quis o destino que quase com 40 anos me tornasse formador; e o que vejo: vejo colegas (uns formadores, outros também professores) que se esfalfam para serem excelentes, com a intenção de maximizar motivações e aprendizagens; também vejo colegas (uns formadores e outros professores) que só estão preocupados em fazer bons horários e em deixar correr o marfim, sem inovar e sem questionarem, sequer, as causas de eventuais fracassos.
A nobreza das profissões é feita pelos seus profissionais. Se a profissão de professor é, hoje em dia, mal vista, tal deve-se, principalmente, aos próprios. E é pena! Há professores tão bons, dignos desse nome.
Que mania esta de sacudir responsabilidades! Se a educação em Portugal está tão mal isso deve-se aos seus protagonistas: famílias que se demitiram de educar sufocadas por uma sociedade cada vez mais exigente, professores que se demitiram de ensinar preocupados em defender carreiras salários e benesses, esquecendo-se que deviam ser porta-vozes da denúncia da comunidade que viria, políticos que mais não são que o comum dos portugueses só que com poder na mão.
A Segurança Social é um regime solidário. Descontamos para quem precisa na esperança de que alguém desconte quando eu precisar. Por saber isso nunca tive como assente que iria receber uma reforma. E nunca porque quem podia ensinar solidariedade (os professores) não o fez. Fechou-se na defesa do seu castelo e não se solidarizou com a grande maioria da população que via os seus menores direitos a diminuirem.
Ainda frequentei uma escola em que os professores ensinavam e os alunos estudavam. Onde os resultados só podiam ser atingidos com esforço, muito esforço. Onde a aprendizagem só com alegria era pontual. Muitas vezes era alegre, mas só como resultado do prazer de atingir objectivos. Toda a mudança de paradigma, do trabalho esforçado para o simples estar presente, fez-se com a conivência de quem?
Sim, em 2005 e em Portugal, só 26% dos portugueses entre 15 e 64 anos tinham o ensino secundário. A média europeia era superior a 60% e na Europa de Leste a 80%. Isto explica muita coisa.
Por fim, a minha memória não tem 1 ou 2 anos. Tem pelo menos 23 anos como adulto.

Fartinho da Silva disse...

Bom, parece que para o José Mesquita, a actual crise internacional, a falência do BPN, a falência da Quimonda, a falência da sapataria da esquina, a queda do avião da Air France, a extinção dos dinossauros, a morte das estrelas, a pobreza do país, a guerra em África, o aumento do preço do petróleo, o consumismo, as derrotas do Benfica, a falta de solidariedade, etc., etc. ...devem-se aos professores!

Suponho que para si, se o BCP for à falência tal deve-se aos seus funcionários e nunca a quem lhes mandou fazer o que fazem! Interessante este raciocínio...! Acho que os accionistas do Banco não irão nessa conversa, ... digo eu :)

Anónimo disse...

Cara Profª. Helena Damião
Concordo plenamente consigo. Só há um pequenino pormenor: com a profusão da formação de professores a que vimos a assistir desde há 35 anos - e você até está nessa área - e a respectiva avalanche na entrada na carreira, houve a necessidade, creio eu, de lhe "arranjar que fazer" para lá do "simples dar aulas". Eu relembro o que foi e continua a ser a pressão na altura dos concursos para a classe e seus acólitos meter mais uns tantos(alguns deles até dentro dos próprios serviços govenamentais). Não foi por necessidade dos alunos, de certo, que foram criadas as "novas áreas curriculares", por exemplo... quando esse tempo deveria ser destinado a outro aprofundamento de conhecimentos e exercitação de competências nos contextos das próprias disciplinas agora até com maior carga horária.
Eu que até trabalho numa escola secundária e num agrupamento de escolas bem vejo a "apetência" que alguns docentes evidenciam para levar adiante um projecto disto ou daquilo em detrimento de dar a sua disciplina (estou a ver o projecto educação para a saúde, os recentes gabinetes de apoio ao aluno com 2 e 3 professores a fazerem de conselheiros(!), por vontade própria, a sua presença nas CPCJ e outros que tais... pelos vistos, professor até parece ser capaz de fazer um pouco de tudo... menos de promover o sucesso ou trabalhar na recuperação cognitiva dos alunos com dificuldades, através da modificação das respectivas práticas e metodologias! Quando chegamos aqui, há aqui d'el rei que já estamos sobreocupados, é só burocracia, etc, etc,...
Na verdade, professor deve ser para ensinar, entenda-se isto numa perspectiva mais ou menos romântica por alguns proferida. As restantes funções sejam entregues a quem de direito porque para elas foram preparados e vêem o caminho barrado por... professores que afinal de professores parecem pouco querer demonstrar. Será algum problema de identidade profissional?...
Também compreendo que a sociedade evoluiu e não podemos ser tão radicais como alguns aqui afirmam a sua posição referindo-se à esquerda. É certo que tudo isto está a ser fruto dum vasto conjunto de experiências, cujos resultados não se avaliam devidamente (dá a impressão que cada responsável ministerial quer ficar na história pela asneira maior que cometa), vindas de há longa data, mas qual seria a opção de direita? Coleginhos só com os melhores que continuariam a reproduzir classes de élite e a prevalecer à custa dos mais desfavorecidos? Claro que o equilibrio é que custa estabelecer, mas aí é que podemos evidenciar a nossa competência, não é com palavreado apenas e bota-abaixismo.
Infelizmente vivemos numa sociedade em que o empregozito do estado ainda é o que mais interessa conquistar, mas agora que a avaliação chegou... e as questões da segurança social e das futuras reformas, a situação começa a mudar de figura.
Já me estou a desviar do tema central, mas tudo isto se toca - afinal estamos numa nova era em que jamais haverá retorno nem ao bom nem ao mau selvagem, mas acima de tudo será a capacidade de adaptação a novas situações que prevalecerá e fará a selecção natural. Não serão os visionários a ver confirmadas já as suas profecias, mas os velhos do restelo, esses continuarão a falar cada vez mais sózinhos.
cumprimentos. JACosta psi

Helena Ribeiro disse...

Fartinho da Silva,

Aprecio o seu sentido de humor!

-É fundamental não perdermos o sentido de humor- e, sobretudo, não o tirar aos outros nas nossas diferentes actividades, pois todos somos responsáveis pela actual e pela futura situação da sociedade, das escolas... do mundo. Ou julgam que a Divina Comédia era uma brincadeira?

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