Reiterar nos erros cometidos na educação parece ser a orientação do primeiro-ministro José Sócrates. Apesar de, reconhecidamente, o apoucamento dos professores ter sido uma das causas da sua recente derrota eleitoral, não teve para eles uma palavra de estímulo e confiança.
Pelo contrário, quando a entrevistadora da SIC lhe perguntou para que queria nova maioria absoluta escolheu insistir no computador Magalhães (por azar, no mesmo dia em que a empresa que o fabrica era visitada por representantes da justiça para averiguar eventuais fraudes), dizendo que "era um dos melhores meios para melhorar o ensino" (cito de cor). Já que tanto fala em avaliação não poderia mandar avaliar o real impacto do Magalhães no ensino? E o que é que o Magalhães tem a ver com nova maioria absoluta? Será que depois de dar o Magalhães aos pequeninos vai dar o Magalhães aos grandes?
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7 comentários:
Há qualquer coisa no Magalhães que fez com que o programa e-escolinha tenha ofuscado por completo o, mais antigo, programa e-escola. Talvez o seu azul tão apelativo...
Por curiosidade, porque é que ninguém critica o e-escola?
O que mais me apoquenta em Sócrates, e nos seus correlegionários, é a sua altivez face ao conhecimento e o seu auto-convencimento da pretensa sabedoria tecnológica que possui. Este pretenciosismo, aliado ao excesso de comunicação, tornam o computador passível de ser criticado. Ora, nenhum computador é um fim em si mesmo,pode servir simplesmente como meio; além disso, nunca foram equacionadas as implicações pedagógicas e psicológicas do computador em crianças destas idades. Aliado a tudo isso, está a leviandade com que tudo foi tratado, resvalando para um processo demagógico. Ninguém com bom senso poderá entender esta «febre». Ninguém com bom senso poderá aceitar de ânimo leve toda a manipulação informativa à volta do computador que, convenhamos, até nem é responsável. Ninguém no seu bom senso poderá ficar indiferente à utilização de crianças para fins publicitários. Infelizmente, é isto que fica de Sócrates. As grandes mudanças executam-se na discrição, os grandes fracassos acontecem no excesso de festa. Como diz Habermas, a linguagem tem um fundo de verdade, veracidade e rectidão. Só com estes elementos a linguagem se torna acção.
Será que ainda há alguém a levar a sério o Primeiro Ministro? Na Venezuela, teria nova maioria absoluta, em Portugal e apesar de tudo, se conseguir ultrapassar os 29% dos votos já terá muuuuuuuuuuuuita sorte.
Cada vez me convenço mais de que José Sócrates não sabe o que é a Educação. Tenho a ideia de que a confunde com a formação profissional.
Guida Martins,
Porque é que ninguém critica o e-escolas? Várias pessoas criticam, mas não tanto nem tão severamente. Não é tão criticável quanto o e-escolinhas, por vários motivos. Inclusivé, porque os alunos abrangidos pelo e-escolas já sabem ler, escrever (pelo menos razoavelmente) e fazer cálculos básicos e não foi atribuída exclusividade a uma empresa.
As críticas de facto não são muito audíveis.
Fiz o meu comentário a pensar na última pergunta do post. Antes do Magalhães, o Governo facilitou (e muito) o acesso a computadores a alunos e a professores. Não me vou pronunciar sobre se são ou não correctas, do ponto de vista do contribuínte, as facilidades concedidas aos professores.
Em relação às crianças do 1º ciclo, pelo seu comentário, coitadinhas nem chegam a aprender a ler e a escrever. Felizmente, não é essa a ideia que tenho. Já tenho ficado muitas vezes surpreendida com o que as crianças conseguem aprender quando têm acesso a um computador. É só prestar-lhes atenção.
Guida Martins,
Entendeu mal o meu comentário. Apenas referi à contrário que, muitas crianças do e-escolinhas, quando recebem o Magalhães não sabem escrever ou ainda não o fazem com suficiente razoabilidade. Não é o mesmo que dizer que as crianças não chegam a chegam a aprender a ler e a escrever.
É claro que o Magalhães não impede as crianças de aprender a ler e a escrever. Não são esses os problemas de colocar ao dispor de uma criança um computador.
Os problemas são outros. Nomeadamente o facto de uma pessoa que já saiba ler, escrever e fazer cálculos por si, aproveitar muito mais o potencial de uma ferramenta como é um computador. E assim, ter mais facilidade em lidar com a ferramenta e usá-la correctamente como elemento de trabalho e não como mera ferramenta de ocupação de tempos livres.
Segundo relatos que tenho ouvido, para fins escolares a utilização dos Magalhães reconduz-de a pequenos textos, pequenos desenhos e escassas pesquisas. Para isso não era necessário cada criança ter um computador. Bastava haver computadores nas escolas e bibliotecas. Tanta falta fazem computadores nas Universidades públicas portuguesas, onde faltam e andam a gastar recursos económicos a dá-los a crianças que não extraem deles todas as suas utilidades.
Além disso, uma criança que não sabe ler e escrever dificilmente consegue proteger o seu computador das ameaças não apenas à própria criança (pornografia e afins), como ao próprio computador. Os computadores não se auto-protegem, necessitam de ser protegidos de virus, spyware e afins. Os técnicos de informática instalam os programas que protegem os computadores mas não podem fazer a sua regular manutenção, nomeadamente instalar actualizações.
Uma das queixas que ouço de técnicos de informática é que lhes aparecem muitos Magalhães danificados externa e internamente. Externamente porque as crianças mandam os computadores ao chão ou não tendo o devido cuidado colocam-nos em locais inadequados. Internamente, porque os antivirus e antispyware não são actualizados.
Outros problemas do Magalhães predem-se com a formação de hábitos. Começando a contactar com computadores a tempo inteiro, antes de contactar com livros, várias crianças tendem a habituar-se a passar mais tempo em frente de computadores do que a ler livros.
Guida Martins,
Quanto às críticas ao programa e-escolas, é natural que não ande a houvir muitas, grande parte delas provém de profissionais de informática, que não andam propriamente a falar ou escrever na televisão e nos jornais. Na Internet pdoem ser encontradas várias críticas, mas essencialmente em fóruns e blogues sobre informática.
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