sexta-feira, 19 de junho de 2009

MATISSE E AS ESTRELAS


Minha crónica no "Sol" de hoje:

Vale a pena ir ao Museu Thyssen, em Madrid, ver a exposição de Henri Matisse (1869-1954), que se centra nos anos que o pintor francês passou em Nice, a partir de 1920. A luz do Mediterrâneo inspirou-o para pintar quadros cheios de cor e volúpia, que representam ora janelas abertas para o mar ora odaliscas em poses provocantes.

Porém, a minha obra de Matisse preferida é também uma das mais simples (o seu mestre Gustave Moreau tinha antecipado: “Tu vais simplificar a pintura”): a gravura Icarus, publicada no livro Jazz de 1947, que mostra uma figura humana a negro dançando num cenário de noite estrelada. A técnica consistiu em “desenhar com a tesoura” a partir de papéis pintados a guache. O artista, nessa altura já com cancro, estava retido numa cadeira de rodas e a tesoura substituía, por comodidade, o pincel. A composição, talvez inspirada por uma imagem do Apocalipse do Beatus de Saint-Sever, do século XI, na qual um anjo paira no meio das estrelas, poderá traduzir a harmonia entre o homem e o Universo. Foi Matisse quem afirmou: “Quando falamos da Natureza não nos podemos esquecer que nós próprios somos uma parte da Natureza. Devemos ver-nos com a mesma curiosidade e abertura de espírito com que estudamos uma árvore, o céu ou um pensamento, pois estamos ligados a todo o Universo.

Curiosamente, o logotipo do Ano Internacional da Astronomia 2009 representa uma silhueta recortada no céu, com os braços abertos na mesma posição do Ícaro matissiano. A diferença, além da maior estilização, é a companhia de uma criança de mão dada, convidada a olhar o céu.

É fácil apontar mais ligações entre Matisse e a ciência. Um dos projectos actuais ligados ao Very Large Telescope, no Chile, pertencente ao Observatório Europeu do Sul, intitula-se MATISSE, um acrónimo de Multi AperTure mid-Infrared SpectroScopic Experiment. O nome complicado refere-se a um novo instrumento que permitirá melhorar a nossa visão das estrelas. A razão da sigla? Duas instituições do consórcio do projecto são observatórios astronómicos de Nice. Et voilà!

4 comentários:

Anónimo disse...

O verbo antecipar está utilizado com o significado do verbo inglês antecipate. Tenho a impressão de que não é bem a mesma coisa...Hoje é costume (de alguns) a utilização de palavras portuguesas com o significado que as com elas parecidas em inglês têm. Em geral está errado. Eventualy não é eventualmente, feud não é feudo, font não é fonte etc. Há milhares de exemplos. Penso que acausa está na falta de rigor dos portugueses e a mania do meia bola e força.

Anónimo disse...

Avisa-se o anónimo espertinho que em inglês não existe "antecipate", pelo que deveria ter guardado a viola no saco.

Alberto Sousa

Anónimo disse...

Pois, ponha lá anticipate. E não era preciso ser espertinho para perceber. Isso anula o que disse e implica viola no saco??

Anónimo disse...

Era brincadeira, rapaz! Agora que vc não provou o que afirma, tb é verdade.

Alberto Sousa

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