sexta-feira, 19 de junho de 2009

Só agora? E agora?

Exigente, complexa e burocrática. Foi, desta maneira, em três palavras, que o Senhor Primeiro Ministro qualificou o modelo de avaliação do desempenho docente, numa entrevista que deu anteontem a um canal de televisão.

E mais disse: que gostariam – presumo que falasse em nome do governo – de não terem cometido o erro de assim a apresentarem.

Se aliarmos esta apreciação àquela que, recentemente, o Conselho Científico para a Avaliação dos Professores tornou pública, não podemos deixar de verificar que, de repente, o discurso mudou.

O anterior pautava-se pela defesa incondicional do modelo, apresentado nada menos do que perfeito; no actual, as fragilidades são, a pouco e pouco, desvendadas. No anterior tudo era bom, no actual... nem por isso. Mas o que mudou de substancial? Apenas e só o discurso.

E, apesar de se tentar fazer crer o contrário, este discurso nada tem a ver com a Pedagogia.

Estamos face a uma grande barafunda, julgo que sobretudo política, em que um modelo de avaliação (que, em rigor, nem modelo é), surgido aparentemente do nada, sem fundamentação, sem rigor, desprezando conhecimentos básicos de avaliação, é imposto contra toda a lógica à escala nacional para depois, à pressa, avançar e recuar, querendo dar-se a entender que se está sempre a avançar. O modelo mina a convivência, por vezes frágil, entre professores e lança a suspeita sobre todos...

Depois disto tudo, percebe-se que, afinal, se errou. Só agora? E agora?

9 comentários:

Unknown disse...

Agora?

Se fosse a decência, a honestidade e a vergonha a mandar, revogava-se tudo aquilo que deu origem à "grande barafunda" de que fala e implementava-se um modelo alternativo, mas só depois de uma auscultação às escolas e aos professores, que são os verdadeiros técnicos da Educação.

Obviamente que qualquer modelo terá de ser testado em fase experimental antes de ser tornado lei geral, imposta como acto consumado, como foi o caso do presente, que "nem modelo é"!

helena Feliciano

Fartinho da Silva disse...

Pelo que me mostraram alguns professores do sistema público de "ensino" reparei que este modelo é um hino ao "eduquês" e às "ciências" ocultas da educação e como tal... NÃO FUNCIONA!

Este modelo foi colocado em prática no Chile (sim, no Chile) e foi, entretanto, retirado devido à sua complexidade, mas na Venezuela (oooops, quero dizer em Portugal) o modelo lá se vai mantendo, graças às pressões dos "cientistas" e dos "especialistas" da educação que tomaram de assalto o Ministério!

Infelizmente, para o Primeiro Ministro não importa nada que as coisas não funcionem o importante mesmo é que o povo acredite que funcionam.

Nas próximas eleições legislativas, terá a resposta do povo!

Anónimo disse...

Ignoraram as manifestações de tantos professores!
Ignoraram pareceres sobre o assunto!
"Eles" eram detentores de TODA a verdade!
O modelo ERA perfeito!
Com tantos remendos, está um FARRAPO! Mas existe e divide os docentes. Com medo de represálias, com medo do futuro, muitos professores foram entregando os Objectivos Individuais. Aproxima-se a fase da "fichinha" de Auto-avaliação. Alguns ainda não terminaram as aulas, vão fazê-la à mesma.
Vejam o que querem fazer aos contratados: são prejudicados se não tiverem tido aulas assistidas!
Eça continua cheio de razão - este país "é uma choldra!"

Anónimo disse...

Anónimo das 8:56
Não se pode dizer que ignoraram por completo as duas manifestações. Pode é dizer-se que foram precisas duas greves e duas manifestações para que deixasse de ser possível, por exemplo, um professor de música avaliar a “correcção científica” de um professor de Educação Física e outros disparates semelhantes. Até que seria hilariante ver a minha Coordenadora, que é professora de Biologia, a avaliar a minha “correcção científica” durante uma aula sobre lançamento de projécteis! Não sei se conseguiria resistir à tentação de me “armar” em Alain Sokal... Continua, porém, a ser engraçada a possibilidade (real na minha escola) de uma ex-professora primária, agora professora de matemática do 2º ciclo, avaliar as colegas que leccionam o 12º ano, etc, etc.
Avaliação “exigente”?!? Avaliação estúpida, isso sim!
Cláudia

Sérgio O. Marques disse...

Anónimo das 08:56

Já Guerra Junqueiro (1886) escreveu acerca deste grande povo das descobertas marítimas:

“Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas…”

Comparo portugal a uma grande laranja com sensivelmente dez mil gomos. Se a espremermos bem, só jorra estupidez e nada mais. Obviamente a culpa disto reside nos gomos que estão agarrados com unhas e dentes ao pedúnculo.

Solução: avaliar todos os gomos e eliminar os gomos maus.

O problema: se eliminássemos todos os gomos maus, ficava apenas a casca.

Conclusão: portugal não tem remédio.

pmg70 disse...

Não penso que haja aqui qualquer tipo de retractação ou um dar razão a quem quer que seja.
Ao contrário da Manuela, que não escuta, como muitos gostariam, o seu gabinete de comunicação. O menino de ouro, pelo contrário, ouve bastante! Tanto é assim que esta estratégia não se destina apenas aos professores.
Aquilo a que se assiste é ao que em publicidade chamamos de lifting - que é o acto de lavar uma dita imagem... sucede-nos a todos quase diariamente quando fazemos um refresh ou um reboot ao computador e não apenas a este ou aquele programa.
Se for bem feito, quando Outubro poucos se vão lembrar do antigo arrogante menino de ouro, vai ser como se nunca tivesse existido.
Finalizando: não se trata de política mas sim de marketing politico, que são coisas muito diferentes.
Att
Pedro

Zurk disse...

Não me parece que isto seja verdade. Sempre ouvi dizer que se melhoraria a partir da implementação. Um processo normal afinal e que, se tiver por detrás uma atitude construtiva, pode levar a que as melhorias sejam feitas rapidamente mas sem violar os princípios fundamentais que devem estar subjacentes a qualquer avaliação eficaz.
Basear-se nos resultados e nas práticas, com critérios o mais objectivos possíveis.

Anónimo disse...

E agora? Bem, agora há que passar a uma avaliação mais bem pensada, no mais breve espaço de tempo. A solução não pode ser cair no vazio legal.

Anónimo disse...

E agora? Bom agora já se sabe o que irá suceder: revejam-se todas as tentativas anteriores de se proceder seriamente à avaliação dos professores - um processo de maquilhagem da loja dos 300! Não havia avaliação nenhuma (salvo uma prova pública que em tempos alguns corajosos fizeram perante um jurí).
Este país não passará da cepa torta - veja-se o que se passa nos demais sectores - blablablablabla!.................. enquanto os outros "pulam e avançam" nós havemos de nos escoar em palavreado de circunstância... e barrelas em água cada vez mais suja... fujamos enquanto é tempo.
ze do mundo

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