domingo, 21 de junho de 2009

Opiniões em ondas hertzianas sobre a entrada no ensino superior


A habitual opinião sobre educação de Rui Baptista:

“A universidade revela todas as capacidades, até as incapacidades”
A. Tchekov (1860-1904)

Em trânsito citadino, ao fim da manhã do passado dia 16 do corrente, ouvi no rádio do meu automóvel dois testemunhos de que dou conta, com a devida reserva de não terem o selo de garantia de um documento escrito e lido.

Em opinião muito discutível, Albino Almeida, presidente da Confederação Nacional de Associações de Pais, em holofotes de celebridade pública inerente ao cargo que desempenha, embora nem sempre pelas melhores razões, manifestou-se contra os exames nacionais do 12.º ano. Pela interminável e mesmo inconclusiva discussão de natureza pedagógica que uma opinião deste tipo possa provocar, passo ao segundo testemunho que também ouvi, a cargo de Pedro Lynce, que se manifestou a favor de exames de aptidão para a entrada no ensino superior. Quanto a mim, tratar-se-ia de uma vantajosa medida por colocar os alunos sob uma mesma e mais rigorosa avaliação (ao contrário do que acontece quando se consideram as avaliações de fim de ano lectivo, que diferem entre si em função da maior ou menor exigência dos docentes das escolas públicas ou colégios particulares frequentados, por vezes, num clima de “novíssimas oportunidades”)!

“Avant la lettre”, transcrevo sobre este assunto excertos de um meu extenso artigo de opinião - intitulado “Exame de aptidão à Universidade, por que não?”:
“Seja a que título for – ainda que para efeitos meramente estatísticos que coloquem Portugal a par dos índices de licenciados dos outros países europeus que levaram décadas a lá chegar num caldear honesto de quantidade “versus” qualidade - , o ensino superior não pode continuar a ser o escoador sem qualquer ralo de todos os indivíduos saídos do ensino secundário, vitimados ou favorecidos por factores que variam de região para região, de cidade para cidade, de vila para vila e de escola para escola com corpos docentes com níveis de exigência abissalmente díspares. Assim, torna-se cada vez mais imperiosa uma correcta e justa avaliação dos candidatos ao exigente ensino universitário oficial a fim de não transformar o respectivo acesso numa farinha de má qualidade para laboração de uma espécie de padaria em que saem fornadas e fornadas de pão de má qualidade.

Em tempos idos, havia o exame de aptidão ao ensino superior em que, por exemplo, a entrada do aluno que quisesse ingressar em Medicina ficava a cargo das respectivas faculdades e das exigências por si tidas. Hoje, um aluno que, em primeira escolha, em declarada vocação, senhor de apreciáveis níveis culturais e humanos, mas sem as elevadíssimas classificações que lhe roubam os prazeres de uma juventude saudável e vivida em plenitude, queira ingressar na profissão de Esculápio, apenas por uma décima de valor, encontra como solução de recurso um outro curso universitário ou politécnico para o qual não está minimamente vocacionado” (Público, 05/09/2005).
Pouco depois, deparei-me com a análise de António de Sousa Pereira, presidente do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade do Porto, a “um método de seriação incorrecto”. Escreveu ele:
[Nem todos os alunos que entram no curso] “correspondem ao padrão que esperamos, dadas as provas que prestaram para entrar, e apresentam altíssimas taxas de insucesso. E, se alguns encontram o seu caminho, outros não, o que deixa a sensação que outros mais vocacionados terão ficado de fora” (Diário de Notícias, 19/09/2005).
Por isso, comungo da opinião de Pedro Lynce quando diz que deve competir a cada Universidade seleccionar os alunos que lhe pareça reunir condições para a sua frequência sem estar dependente, unicamente, da classificação do diploma do ensino secundário e do respectivo exame nacional que, por vezes, pouco diz sobre a verdade, ao deturpar a realidade dos factos. Pena é que essa medida não tenha sido implementada por si no exercício dos cargos de secretário de Estado e de ministro da Ciência e do Ensino Superior. Enfim… ”o ter consciência sobre as coisas não me obriga a ter teorias sobre as coisas” (Alberto Caeiro).

9 comentários:

Bem Colocado disse...

Acho muito bem.

Assim já vou poder exercer as cunhas que tenho e colocar os meus filhos burros e preguiçosos nos meus cursos e da minha mulher em vez de gastar milhares de euros a colocá-los a estudar na República Checa.


Era o que faltava, filhos de borra-botas que trabalham e foram melhores do que os meus filhos irem colher os louros do seu trabalho.

Isto não é para quem quer, é para quem pode e é uma questão de nascimento.

Gentalha da povalha devia ser proibida de frequentar certos cursos sob pena do nível cultural dos mesmos descer a níveis inaceitaveis.

Vou já começar a mexer os cordelinhos que tenho no mundo da política de modo a aprovarem isto.

Anónimo disse...

Concordo, plenamente, com as declarações do Eng. Pedro Lynce.

1) As Escola Secuundárias formam alunos e preparam-nos para a via universitária ou profissional. Terminam um ciclo.

2) As Universidades irão ser responsáveis pelo alunos que receberem. Quando um aluno concluir é, por exemplo, licenciado por... e não que fez o Secundário na escola de...

3) Não é possível colocar alunos nas mesmas condições a candidatarem-se, baseados em percentagens de aproveitamento que assentem em factores variáveis.

João Moreira

Anónimo disse...

Concordo plenamente com o post, mas o sr. Bem Colocado tem alguma razão naquilo que diz. Se os critérios de admissão forem homogéneos existe o perigo de as diferenças no backgroud familiar dos alunos terem impactos importantes no acesso ao ensino superior. Não por cunhas ou coisa parecida, mas porque existe uma componente social no aproveitamento escolar. A existência dos tais critérios homogéneos como exames nacionais e exames de acesso às faculdades tem de ser complementado com um ensino básico e secundário capaz de compensar as diferenças sócio-culturais entre os alunos. Só assim o acesso ao ensino superior pode ser equitativo.

luis

Anónimo disse...

Será que o dererumnatura não é capaz de arranjar uns posts sobre o ensino mais interessantes do que estas tretas requentadas do rui baptista, feitas de retalhos de artigos passados e de citações descontextualizadas, mais umas pitadas de ancien régime?

Mal colocado disse...

"existe o perigo de as diferenças no backgroud familiar dos alunos terem impactos importantes no acesso ao ensino superior. Não por cunhas ou coisa parecida"



Claro que não por cunhas até porque as decisões serão obviamente tomadas sem conhecer quem é o candidato. Como os exames são corrigidos. É atribuido um número e que corrige não sabe de quem é. O entrevistador nunca vai saber quem é o entrevistado.

Cunhas nem pensar!

Agora tenho de ir porque a vou ser pai pela primeira vez e estou a espera da cegonha de Paris.

Tóchã disse...

pessima abordagem ao sistema educativo (é essa a problematica que aflora) portugues. nao tenho a soluçao, mas consigo inferir perfeitamente que a nossa sociedade nao esta devidamente educada para fazer a tal seriaçao de que fala (sim, as universidades). Tem de matutar outro sistema, que sendo gradual, consiga educar bem as pessoas que um dia seriam responsaveis por essa seleccao.

Ja conheço tantas pessoas que entram em medecina por cunha com este sistema que nem quero imaginar o cilindrar dos que abdicam da sua juventude plena com o seu sistema a entrar no imediato

Rui Baptista disse...

“tóchã”: Ou foi o tóchã que não compreendeu o que escrevi ou fui eu que não me expressei bem."In dubio", opto por esta segunda hipótese,

O que eu quis dizer (ou escrever) é que se torna menos fiável o sistema em que o aluno tem a sorte de frequentar escolas oficiais ou particulares tidas por atribuirem melhores classificações do que aquele em que lhe sai, em triste fado, escolas bem mais exigentes. Este facto, coloca estes dois alunos em situações diferentes em que a sorte ou o azar se assumem como um factor importante.

Por outro lado, entendo que às faculdades de Medicina (onde o respectivo acesso se assume muito difícil pelas elevadíssimas classificações exigidas, na casa dos 18 ou mais valores ) deve ser dada a possibilidade de fazer a selecção dos respectivos candidatos em função daquilo que entendem ser mais conveniente para as matérias universitárias com que se virão a defrontar. Acresce que se todos os candidatos forem sujeitos aos mesmos exames de aptidão serão postos em situação de igualdade absoluta e de confidencialidade.As classificações atribuídas num sistema de avaliação contínua são susceptíveis de serem influenciadas pela empatia criada entre o professor que avalia e o aluno que é avaliado.

Seja como for, tudo que dependa de uma solução humana torna-se susceptível de erro porque errar é humano. Procurar uma solução óptima para este problema é quase como procurar agulha em palheiro. O que não deve ser impeditvo de ser procurada uma solução em busca, apenas, do bom porque o óptimo é inimigo do bom.

Anónimo disse...

Entendo que selecção dos candidatos deveria ter em conta as cadeiras universitárias e, não menos importante, a realidade da profissão: um Médico é diferente de um licenciado em Medicina.

Rui Baptista disse...

Anónimo (22:35): De acordo.Para se ser médico deve ser exigido mais do que a simples licenciatura em Medicina. Bem sei que a figura humana de João Semana de Júlio Diniz (aliás, formado em Medicina) está ultrapassada por aqueles candidatos à profissão de médico que vêem nela uma maneira de serem bem remunerados.

Há que, portanto, criar mecanismos para que uma simples décima da nota de acesso não possa deixar de fora quem tem vocação para médico e deixar entrar os mercenários de uma profissão nobre. Entevistas nesse sentido? Exames psicoténicos no caso dos cirurgiões? Tudo é preferível a deixar essa entrada a jogos de azar e de fortuna.

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