quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Conformidade ou conformismo?

Na década de 50, Solomon Asch do Swarthmore College na Pensilvânia publicou uma série de artigos que realçavam o poder da conformidade na determinação de comportamentos individuais em grupos, algo que ficou conhecido como o «Paradigma de Asch». Asch mostrou que muitos tendem a mudar de opinião em relação a factos objectivos - nas suas experiências, as dimensões de uma linha desenhada num papel - para se conformarem às opiniões do grupo, mesmo quando este está obviamente errado.

Nas experiências de Asch participavam um «sujeito ingénuo» e um grupo previamente instruído para responder erradamente às questões colocadas. Após várias experiências, Asch chegou à conclusão de que, se isoladamente interrogados, os «sujeitos ingénuos» responderam correctamente 99% das vezes. No entanto, quando em grupo e respondendo depois dos restantes, 37% dos ingénuos seguiram a opinião errada dos outros membros do grupo. Asch comentou a propósito que: «Este resultado levanta questões sobre o modo como somos educados e sobre os valores que guiam a nossa conduta».

Desde então, vários investigadores têm sugerido que a conformidade ajuda as pessoas a ganhar aceitação social e a sentir confiança em que as suas percepções ou opiniões estão correctas. De facto, outras experiências têm indicado que levantar uma voz discordante causa ansiedade e confusão.

Um artigo recente na Neuron, sugere um papel para o nosso «brain's reinforcement learning system» na determinação do comportamento de rebanho. No artigo «Reinforcement Learning Signal Predicts Social Conformity», Vasily Klucharev, um neurocientista social da Radboud University na Holanda, confirma estudos prévios que indicavam que determinadas zonas do cérebro, áreas que se pensa fazerem parte do nosso sistema de aprendizagem, se activam quando as pessoas fazem previsões erradas em jogos e despoletam uma alteração de estratégia. Klucharev e colegas mostraram que as mesmas áreas são activadas quando a escolha de um indivíduo não se conforma à opinião do grupo.

Vale a pena ler o que o Mundo da Ciência tem a dizer sobre o trabalho de Klucharev:
Although a grammatically chal­lenged ad­vert­ise­ment ex­horts us to “think dif­fer­ent,” most of us tend to look to group op­in­ion to guide our own ideas and act­ions. This tend­ency is called con­form­ity. Now, sci­en­tists say they have found the brain ac­ti­vity un­der­ly­ing this sort of herd men­tal­ity.

“We of­ten au­to­mat­ic­ally ad­just our opin­ion in line with the ma­jor­ity opin­ion,” ob­served Va­sily Klu­char­ev of the F.C. Don­ders Cen­ter for Cog­ni­tive Neu­roimag­ing in The Neth­er­lands, lead au­thor of the study pub­lished in the Jan. 15 is­sue of the re­search jour­nal Neu­ron.

Klucharev and col­leagues scanned brain ac­ti­vity in peo­ple whose in­i­tial judg­ments of the attrac­tiveness of faces were open to in­flu­ence by group opin­ion. They ex­am­ined two brain ar­eas called the the ros­tral cin­gu­late zone and the nu­cle­us ac­cum­bens. The first is thought to play a role in mon­i­tor­ing be­hav­ior­al out­co­mes, the sec­ond in the an­ti­cipa­t­ion and pro­cess­ing of re­wards and in so­cial learn­ing.

The study au­thors found that a con­flict with the group opin­ion led sub­jects to change their own rat­ing of a face. The con­flict al­so elicited a re­sponse in the brain si­m­i­lar to one found in pre­vi­ous stud­ies, and known as “pre­dic­tion er­ror” sig­nal. It comes from a dif­fer­ence be­tween ex­pected and ob­tained out­co­mes and is thought to point an or­gan­ism to a need for a be­hav­ior­al change.

Fur­ther, the mag­ni­tude of the in­di­vid­ual con­flict-related sig­nal in the nu­cle­us ac­cum­bens cor­re­lat­ed with dif­fer­ences in con­forming be­hav­ior, the group found. The re­search­ers em­ployed the widely used brain-scanning tech­nique func­tion­al mag­net­ic res­o­nance im­ag­ing.

“Our re­sults al­so show that so­cial con­form­ity is based on mech­a­nisms that comply with re­in­force­ment learn­ing,” Klu­char­ev said. Conformity “is re­in­forced by the neu­ral error-mon­i­tor­ing ac­ti­vity which sig­nals what is prob­ab­ly the most fun­da­men­tal so­cial mis­take—that of be­ing too dif­fer­ent from oth­ers.”

3 comentários:

Fernando Dias disse...

As acções e os comportamentos que dependem da vontade e dos desejos estão relacionadas com o normal funcionamento de certas áreas do cérebro e da acção desinibidora de áreas homólogas do hemisfério contralateral. Em pacientes estudados com lesões dessas áreas, eles executam acções que escapam à sua vontade, tendo consciência disso. Um dos exemplos é o paciente imitar os gestos do examinador sem querer, mesmo quando o examinador lhes diz para apenas verem os gestos mas não os imitar. Há um mecanismo de “affordance” (influência de padrões do meio através da visão) que se sobrepõem aos circuitos da vontade que não funcionam normalmente.

A partir destes casos tem-se tentado derivar a compreensão dos mecanismos de reforço externo destes mecanismos através de exercícios experimentais de persuasão, simulando o que se passa com o processo educativo espontâneo das crianças na vida quotidiana. Estas acções conseguem modificar e modelar as conexões sinápticas dos circuitos das áres referidas, demonstrado por imagens de ressonância magnética funcional.

O facto de o nosso sistema da vontade, nestes casos, escapar à consciência, a ponto de não sermos capazes de detectar certos erros até um determinado limiar, que varia de pessoa para pessoa, deve-se provavelmente a razões de parcimónia do sistema neuronal envolvido. Para estarmos certos de tudo, o cérebro tinha de dispender uma enorme quantidade de energia, e mesmo assim para fazer a correcção de todos os pequenos erros, seria inundado por uma enorme quantidade de informação impraticável de processar. Esta inundação de informação levaria a uma consequente lentificação, o que acabaria por provocar um bloqueio.

Anónimo disse...

"factos objectivos"

O que é isto?

Anónimo disse...

A escola serve essa formatação - é o apregoado "saber estar". As crianças que opinam, que defendem pontos de vista diferentes da maioria são rapidamente rotuladas de insolentes ou teimosas ou rebeldes.E das duas uma - ou não se perturbam com o rótulo, vão levando na cabeça e ganhando robustez para seguir em frente ou adotam o formato que lhes é imposto para não terem problemas.

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