quinta-feira, 29 de março de 2007

O NASCIMENTO DA QUÍMICA


O ano de 1789 foi o ano da Revolução Francesa e o primeiro do novo calendário francês. Foi também o ano um de uma nova disciplina. Com efeito, foi nesse mesmo ano que o francês Antoine-Laurent Lavoisier, então com 51 anos, publicou o Traité Élementaire de Chimie, o livro fundador da Química. Mas a Revolução que viu nascer a Química conduziu à morte do pai dessa ciência. No dia 8 de Maio de 1794 rolava em Paris, na Place de la Révolution, a cabeça mais famosa que a invenção do Dr. Guillotin vitimou.

A Física conheceu um grande desenvolvimento no século XVII, sob a égide de Newton, unindo a matemática com a observação experimental dos movimentos dos corpos. Por sua vez a Química nasceu, sob a égide de Lavoiser, unindo a matemática com a observação experimental da transformação da matéria. O uso de instrumentos de medida e a indução de leis a partir dos dados empíricos foi, em ambos os casos, essencial para o nascimento de uma nova ciência.

Os conteúdos essenciais do Traité tinham surgido vários anos antes. Em 1772 o jovem Lavoisier interrogava-se sobre a razão de um metal calcinado pesar mais, no fim da reacção, apesar de ter perdido, segundo a teoria da época, uma substância a que se chamava “flogisto”. Uma série de pesagens precisas levaram-no a crer que o ar ou uma parte dele se combinava com o metal. E confiou essa descoberta à Academia das Ciências sob a forma de um pli cacheté, um documento selado que permitia mais tarde reclamar a prioridade. Em 1773 refere, no seu caderno de laboratório, uma revolução na física e na química. E permite a abertura da nota escondida. De facto, sabemos hoje que não há nenhum flogisto e que a parte do ar responsável pelas combustões é o oxigénio, uma substância então desconhecida, mas que era elementar ao contrário do ar. O sábio francês com essas e outras experiências concluiu que nas reacções químicas havia conservação da massa.

Mas do lado de lá da Mancha também emergia a ciência química. No ano de 1772, em Inglaterra, um clérigo dissidente, Joseph Priestley, escrevia um artigo intitulado Impregnating water with fixed air baseado nas suas observações do processo de fabrico da cerveja em Leeds. O “ar fixo” é o que chamamos hoje dióxido de carbono e a “água impregnada” é o que hoje chamamos água gaseificada. Ao contrário do oxigénio, o dióxido de carbono consegue apagar uma chama. Em 1774 o mesmo Priestley, desconhecedor de que a descoberta tinha sido feita um pouco antes pelo farmacêutico sueco Carl Scheele, encontrava o oxigénio. Ao aquecer óxido de mercúrio com a luz solar focada por uma lente verificou que se saía um gás que avivava uma chama - precisamente o oxigénio. Em 1775 anunciou essa nova em Experiments and observations on different kinds of air.

Um português “estrangeirado”, João Jacinto Magalhães, eleito membro da Royal Society de Londres em 1774, desempenhou um papel charneira ao transmitir de Inglaterra para França as ideias priestleyanas. Em 1772 enviou para Paris o artigo do “ar fixo” de Priestley, que Lavoisier leu na Academia das Ciências, em 1773 conheceu Lavoisier pessoalmente, e em 1774 apresentou Priestley a Lavoisier em Paris.

A descoberta quase simultânea do oxigénio por Scheele e Priestley haveria de ser confirmada por Lavoisier (uma peça de teatro moderna – Oxigénio - glosa estas peripécias). Mais: ele identificou o oxigénio (cujo nome ele próprio introduziu) como um agente activo de todas as combustões. E verificou que as plantas, ao contrário dos animais, no processo de respiração, absorvem durante o dia dióxido de carbono libertando oxigénio. A combustão de hidrogénio com oxigénio dá origem a água, uma experiência de síntese que Lavoisier realizou com cuidado em 1783: eram precisas duas partes de hidrogénio para uma de oxigénio de modo a formar água. Tal como o ar, também a água – esse outro “elemento” dos antigos gregos – não era elementar. E o oxigénio fazia parte tanto do ar como da água...

Em Portugal 1772 foi o ano da Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra. Depois de ter mudado a cidade de Lisboa, o poderoso ministro de D. José reformou a Universidade de Coimbra, criando a Faculdade de Matemática e a de Filosofia. Estabeleceu uma cadeira de Química, para a qual chamou um professor italiano, Domingos Vandelli. Para dar aulas práticas dessa cadeira mandou erguer um novo edifício, o Laboratório Chimico, hoje magnificamente reconstruído para dar lugar ao Museu da Ciência da Universidade de Coimbra. A construção começou em 1773, tendo a obra ficado praticamente concluída em 1775. É claro do que ficou dito que o edifício foi construído enquanto se construía a própria química. Não admira, por isso, que seja o mais antigo edifício do mundo construído para o ensino experimental da química.

Hoje o visitante do Museu encontra réplicas de duas famosas experiências dos primórdios da química: a descoberta do oxigénio por Priestley e a síntese da água por Lavoisier. E encontra também o livro de um discípulo de Vandelli – Vicente Seabra – os Elementos de Chimica cujo primeiro volume antecipa de um ano a obra maior de Lavoisier. Tanto para Seabra como para Lavoisier – crentes na “idade da razão” – a experiência é que dizia quem tinha razão...

12 comentários:

Anónimo disse...

Que bom ouvir falar no João Jacinto de Magalhães! A única obra que conheço sobre JJM é uma biografia publicada pela Universidade de Aveiro.

Ele bem dizia que a comunicação rápida das descobertas só favorecia a Ciência.

Luís Bonifácio disse...

A República não precisa de sábios

Carlos Fiolhais disse...

A República precisa de sábios mesmo
que diga que não precisa.
O francês Legendre no dia
seguinte à execução de Lavoisier,
que conhecia bem Lavoisier afirmou:
"A sua cabeça demorou um segundo a
cair, mas vão ser precisos cem anos
para surgir outra igual". Um sábio!

Unknown disse...

reyjana esse nome é verdadeiro?

Anónimo disse...

a quemica e um bicho de sete cabeça

Anónimo disse...

meu nome e aline Borges da silva sou estudante do ensino medio estou cursando o 3 ano, e eu acho muito importante a forma de responderem nossas perguntas, e e ate melhor para dar mais capacidades de conhecimentos a nos que somos alunos, continuem assim cada vez mais esclarecendo nossas perguntas

Anónimo disse...

essas eexplicaçoes foram complementares para eu fazer meu trbalho
muito obrigado!!!

nayara alexandre disse...

acho muito importante esclarecer muito bem, como a química nasceu pq até nesse momento eu não sabia quem era vamos dizer assim o PAI da QUÍMICA. continuem sempre esclarecendo todas as duvidas.abração

Anónimo disse...

muito massa

Anónimo disse...

quimica e muito chato.

Anónimo disse...

a pior materia e de fisica!!!!

Cláudia S. Tomazi disse...

Bom, se ninguém teve a pachorra de dizer, digo eu: professor Carlos Fiolhais o senhor é um génio.

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