sexta-feira, 16 de março de 2007

"DOUTORES" E "BURROS"


Diz o provérbio que "um burro carregado de livros é um doutor". Mas um burro é um burro e, carregado só com um livro, continua a ser um burro!

Numa das minhas últimas crónicas quinzenais no jornal "Público", intitulada "O Culto do Oculto", comentei o aparecimento da revista com o título de "Oculta" e o subtítulo "Abra a sua alma", mostrando que o oculto está cada vez mais a desocultar-se entre nós. Transcrevo o passo mais engraçado (julgo), onde conto como um tal Padre Fontes organizou um congresso em que junta "doutores" e "burros":

"Como tema de capa, há uma longa entrevista a um sacerdote da Igreja Católica, com paróquia em Vilar de Perdizes. Aqui mistura-se o culto e o oculto. Explica o Padre Fontes como deu um ar da sua “graça” ao juntar os “doutores” e os “burros”: “A Universidade Nova de Lisboa quis que eu fizesse isso [o Congresso de Vilar de Perdizes]. Nesse ano puseram-se os universitários a fazer palestras num lado e os populares noutro, ninguém gostou (...) Uns passaram por doutores e outros por burros, Os doutores iam lá para uma sala e os videntes e bruxos, que eram de segunda classe, iam lá para outro sítio. Ao separar os doutores dos não doutores as pessoas acharam que isto não tinha pés nem cabeça. E a graça que eu iniciei foi pôr o doutor da universidade ao lado do bruxo, do vidente, do exorcista, do padre.” Tem graça. Mas terá ele feito isso de graça?"

Há agora a notícia de um debate em Lisboa que me faz lembrar esse encontro nortenho entre "doutores" e "burros". Desta vez trata-se de juntar no mesmo plano, e sem qualquer distinção, evolução e criacionismo. Terá sido de novo uma graça do Padre Fontes?

22 comentários:

Joana disse...

Excelente posta! Este colóquio de doutores e burros merecia mesmo denúncias públicas vigorosas!

Muito obrigado professor Fiolhais! Pode ser que a si alguém ouça e tome medidas para evitar este achincalhamento da UL...

Joana disse...

Se o António Parente não acredita no criacionismo evangélico, completamente atrasado mental como qualquer biólogo lhe poderá explicar, como é que é capz de dizer:

« a excelente capacidade de argumentação do Jónatas Machado»????

A argumentação do Jónatas Machado é totalmente imbecil!

Convém é aos católicos fundamentalistas como o António Parente que as despesas dos primeiros embates criacionistas fiquem por conta dos evangélicos.

Quando a opinião pública, que não prima pelo conhecimento científico, estiver "madura" toca de enfiar o "evolucionismo" como defendeu o JP II: a evolução aplica-se a tudo menos ao Homem.

Não se esqueçam do retiro do B16 sobre evolucionismo e da defesa da IDiotia pelo cardeal de Viena e outros bispos e cardeais!

Joana disse...

António Parente aka centenas de outros nicks:

Deve julgar que todos sofrem do síndrome multi-nicks que o aflige.

O meu nome é Joana, só conheço a Rita das caixas de comentários do DA.

Aconselho-o também a ir ver o memória inventada. O Vasco Barreto já descascou as inanidades acéfalas do Jónatas Machado (gabo-lhe a pachorra, eu sou bióloga e não tinha paciência para responder a semelhante chorrilho de disparates).

http://memoria-inventada.weblog.com.pt/

Joana disse...

Uau! Fabuloso! Há mais que uma bióloga em Portugal! Estou abismada! Andei eu convencida que mais de 80% dos meus colegas de curso eram raparigas e afinal enganei-me...

E andaram os meus profs todos a enganar-me uma data de anos a ridicularizar o criacionismo e afinal vem o Parente esclarecer que estão todos errados e há excelentes argumentos em defesa do criacionismo!

Não sei bem quais são, pensava eu na minha ignorância que o criacionismo queria ser ciência porque uns iluminados pelo Espírito Santo não aguentam a realidade dos factos. Os únicos argumentos que arranjam para explicar os factos são milagres!

Exigem autoridade de ciência sem explicar nada nem admitirem os factos contraditórios. Quando são muito conhecidos ululam que são falsificações dos ateus cientistas ou então é a "vontade" divina!

Não admira que os criacionistas digam que as suas "teorias" nunca "falham"! Mas também não servem para nada! E ciência não são de certeza...

Joana disse...

Mas acho piada que o Parente que não é criacionista venha dizer inanidades como:

"Mas os cientistas pedem-nos o que nos pedem os sacerdotes: fé nas suas teses, nas suas experiências, nas suas explicações do Universo. No fundo, alguns cientistas querem ser os sacerdotes do futuro sendo a ciência a nova religião."

Pois, e não é criacionista nem é anti ciência! Imaginem se fosse!

PVICarmo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
PVICarmo disse...

Joana - "...estão todos errados e há excelentes argumentos em defesa do criacionismo!"

A ver...não me querendo intrometer (mas intrometendo-me), eu penso que o que o Antonio Parente quereria dizer, ao afirmar uma "excelente capacidade de argumentação do Jónatas Machado", e em todo o desenvolvimento posterior da sua linha argumentativa, quereria (corrijam-me se estiver equivocado) transmitir a ideia de que, independentemente da "equipa" pela qual se torça, se pode observar desde uma perspectiva (mais ou menos) neutra, a qualidade dos argumentos...observar, comentar e "qualificar" subjetivamente ditos argumentos!

O Antonio Parente (pelo que aqui li), não defende criacionismo, mas considera-se católico. Não vejo dicha aparente contradição como uma incompatibilidade. E uma vez mais, são opiniões subjetivas.

Se efectivamente existe uma "batalha crescente" em Portugal entre criacionistas e darwinistas, não duvido em nenhum momento que dita batalha será "ganha" pelos evolucionistas, mas se encontro alguma falha na argumentação destes, terei de dizer que é a sua (ocasional) exacerbada paixão, que os cega, e faz com que enveredem por linhas argumentativas já fora do contexto...origens dessa paixão? Na minha opinião, talvez um pouquito de falta de tolerância...

Digo eu, não sei...

Joana disse...

Caro Pedro Carmo:

Estará a advogar tolerância ao erro? Estará a sugerir que estou a ser intolerante quando corrijo a caseira da minha avó que acha que o cancro é um caranguejo e conta lendas urbanas lá da terrinha de gente que tinha um caranguejo na perna e o alimentava com toucinho e viveu feliz e sem problemas muitos anos?

E será finalmente que os profs que corrijem testes e dão zero a respostas erradas estão a ser intolerantes com as "opiniões subjectivas" dos alunos?

Pelas obras de divulgação científica e de filosofia que li dos autores deste blog então este é um blog do piorio em intolerância!

O próprio Manifesto do blog que diz que:

"Enfrentará a anti-ciência nas suas várias formas, sejam elas fraude, demagogia, pseudo-ciência, superstição ou simples erro."

devia ser utilizado como exemplo máximo de intolerância!

Joana disse...

Afinal a "fraude, demagogia, pseudo-ciência, superstição ou simples erro" são também "opiniões subjectivas" de muita gente. Infelizmente mesmo muita gente cá em Portugal!

PVICarmo disse...

Cara Joana: advogo tolerância a tudo! Porque sabe qual a consequência a qualquer tipo de intolerância? Uma bola de neve...intolerância gera mais intolerância, gera conflito, gera quezílias desmesuradas...

Haá que saber respeitar o outro lado da "barricada"...podemos não concordar (e afirmo sem receios que sou agnóstico empirista - whatever that means...) mas podemos admitir que os demais têm direito à sua opinião! Errada? Talvez...mas é para isso que debatemos...para tentar "fazer valer a nossa opinião sobre as demais"...mas a premissa que há que respeitar a todo o momento e "tolerar" o facto de que os demais tenham uma opinião contrária, tem/deve de ser mantida!

E de lado a lado, pelo que já observei em muitas comment boxs, principalmente de outros blogs, tal não tem acontecido... infelizmente...

Joana disse...

Caro Pedro Carmo:

sabe qual a consequência da tolerância a tudo? O fim da tolerância!

Não podemos ser tolerantes com aqueles que querem destruir a tolerância.

Os conflitos são inevitáveis porque há sempre uns donos da verdade que querem impor a sua verdade aos outros. E não somos (ou não devíamos ser) tolerantes com neo-nazis, racistas, misóginos, homofóbicos, pedófilos, etc..

Em relação a tolerar o erro, o tema do post, mal do mundo ( e da escola) se alguém seguisse a sua "opinião"!

Felizmente que é minoritária...

PVICarmo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
PVICarmo disse...

Ou seja - felizmente, a maioria é intolerante... felizmente existem querelas, para que possamos todos entrar em conflito, e viver happily ever after...

Nunca me senti tão contente por pertencer a uma minoria... :)

Joana disse...

Imagine se o Churchill partilhasse do seu conceito de tolerância...

Ou a UE! Viveríamos happily ever after se não existissem "intolerantes" a genocídios?

Se aparecesse alguém em Portugal que quisesse derrubar o governo democraticamente eleito e tomar o poder como Franco em Espanha? Seríamos intolerantes se não o aceitassemos?

Não diga disparates! Tem de haver limites à tolerância, não se pode tolerar intolerantes. Essa é uma máxima de Karl Popper, não é minha.

PVICarmo disse...

E agora sou eu que devo retorquir, incluso plagiar:

Caro António Parente:

"Agradeço-lhe ter clarificado o meu pensamento. Interpretou-o bem. Não é necessário acrescentar mais nada." (apesar de sim, acrescentar...;)

Para rematar: veja uma coisa Joana - eu e o Antonio Parente, aparentemente, divergimos em certas opiniões: ele é católico, eu agnóstico, e provavelmente em muitos outros assuntos divergiriamos se nos puséssemos a debater sobre os mesmos.

Todavia, em nenhum momento eu necessitei de me dirigir a ele, ou ele a mim, qualificando a sua opinião como "minoritária" (em sentido obviamente pejorativo), ou afirmando que a opinião contrária seria um "disparate" (e aqui, estou a plagiar a Joana)...e isto porquê?

Tolerância...

Paulo disse...

Num comentário anterior li: "Mas os cientistas pedem-nos o que nos pedem os sacerdotes: fé nas suas teses, nas suas experiências, nas suas explicações do Universo. No fundo, alguns cientistas querem ser os sacerdotes do futuro sendo a ciência a nova religião."
Isto é falso. Os cientistas aguardam que alguém conteste as suas teses, as suas experiências. Não querem que os outros acreditem. Demonstram. É exactamente o contrário da fé: aceitar sem contestação,sem demonstração e sem provas.
Ninguém acredita em deus pela demosntração ou porque a teoria divina conseguirá prever qualquer facto futuro: acredita porque tem fé.
Ninguém aceita a teoria atómica por fé. Aceita-a porque ela explica uma série de fenómenos e porque consegue prever uma série de outros.
A ciência explica, demonstra e prevê . A fé "explica", não demonstra e não prevê.
Não se misture fé com ciência e cientistas com sacerdotes.

""#$ disse...

"""Chamo-lhe a atenção para a excelente capacidade de argumentação do Jónatas Machado: vá à caixa de comentários do blogue ktreta.blogspot.com e veja como um criacionista consegue embaraçar um cientista..."""


Caro antónio parente e metendo a colherada.
O senhor Jonátas machado;se é o mesmo que eu penso que é, é licenciado em direito( neste momento até já deve ser douturado em direito.)
Mas se é a mesma pessoa que penso que é - de decente nada tem.

Tem é um longo treino de capacidade argumentativa, discursiva, e de atemorização sem regras e absolutamente feita de forma totalitária a alunos do primeiro ano de direito constitucional, nomeadamente na Universidade autónoma de Lisboa e creioq ue na clássíca.

Tem além disso ao longo da sua carrreira o respaldo do senhor Jorge Miranda que o tem guiado, e encaminhado.

Portanto é "natural" que o senhor parente se deslimbre e elogie uma pessoa que está a ser treinada há muitos anos para chegar aonde está a chegar.

Portanto é natural que uma pessoa de "area dura" tenha dificuldade em produzir um "discurso" apelativo face a uma pessoa das humanidades especificamente da area de direite que anda a treinar há 20 anos.

O que aliás explica porque já é douturado ao que sei perto dos 40 anos. Porque a fidelidade à defesa do criacionismo paga dividendos.

Agora meta a argumentar com os mesmos conhecimentos sobre o assunto sr desidério murcho que escreve aqui com o sr Jonatas machado e se calhar veremos é um filosofo a embaraçar um criacionista.

ou seja e para terminar: não confunda um peão de qualidade superior que está a ser treinado há 20 anos para tal com verdade ou correção.

Carlos Fiolhais disse...

Na impossibilidade de responder pormenorizadamente a todos, digo
só o seguinte:
A ciência, ou talvez melhor e mais em geral a racionalidade, consiste na maior abertura de espírito mas acompanhada sempre pela maior avaliação. Quando queremos aprender alguma coisa convém ter presente o que já sabemos bem.Como já alguém disse, convém ter a cabeça aberta, mas não tanto que os miolos caiam para fora!

David Cameira disse...

O q vos doi a vcs é q as patranhas mentirosas do evolucionismo estao a ser desacreditadas CIENTIFICAMENTE
E VÃO SELO CADA VEZ MAIS. pq a ruina de um modelo esgotado é o seu único destino lógico e racional

DEUS dé sabedoria ao Prof Doutor JÓNATAS MACHADO

" pq a sabedoria humana é loucura para DEUS e a Loucura de DEUS é mais sábia que toda a sabedoria humana "

Anónimo disse...

GARBAGE IN, GARBAGE OUT
NATURALISMO “IN”, EVOLUCIONISMO “OUT”
EVOLUCIONISMO “IN”, ANTIGUIDADE DA TERRA “OUT”

Homens como Lyell, Comte, Darwin, Mayr, Sagan, Lewontin, Gould, Dawkins, Pinker, Hawkins, etc., têm sustentado que toda a ciência tem necessariamente que ser naturalista, isto é, tem que excluir liminarmente qualquer possibilidade de causas sobrenaturais. Estes e outros cientistas decretaram que no Universo não há lugar para qualquer Deus. Para eles, o facto de essa ser a sua convicção filosófica e ideológica é razão mais do que suficiente para que todos aceitem essa determinação. A verdadeira ciência só pode ser naturalista.
Ora, se a possibilidade de uma criação sobrenatural é excluída à partida, então a única possibilidade admissível é a evolução cósmica e biológica aleatória. Só pode ser assim. Ou não? Isto, porque só o apelo a uma evolução cósmica e biológica aleatória permite rejeitar e manter afastada a possibilidade de um Criador racional e intencional, cumprindo assim as exigências do naturalismo. Isto significa que, de acordo com uma definição naturalista de ciência, a teoria da evolução tem que ser necessariamente verdadeira, mesmo antes de se começar com qualquer investigação no terreno.
Como se vê, a convicção acerca da verdade da teoria da evolução é uma consequência inescapável da filosofia naturalista que lhe serve de base, independentemente de qualquer investigação científica. Esta só serve para confirmar as premissas naturalistas e a teoria da evolução, na medida em que tem necessariamente que se conformar com elas. Ou seja, não é a investigação científica que demonstra a veracidade da teoria da evolução. Antes é a veracidade da evolução, decorrente do paradigma naturalista adoptado à partida, que vai condicionar toda a investigação científica, determinando quais os factos que devem ser dados como verdadeiros e quais os que devem ser considerados falsos. Vemos, assim, que, para quem parta de um modelo naturalista, que afasta a priori a possibilidade de design inteligente na natureza, a evolução cósmica e biológica aleatória é verdade mesmo antes de ser empiricamente testada.
Mas as coisas não se ficam por aqui. É que, se a evolução aleatória é a única possibilidade compatível com a ciência definida em termos estritamente naturalistas, segue-se automaticamente que a antiguidade da Terra é a única conclusão igualmente possível a priori. Isto, porque uma Terra recente nunca poderia ser razoavelmente compatibilizada com a evolução aleatória. Esta necessita de tempo – provavelmente, até, de muito mais tempo do que o que se encontra disponível no Universo. Na verdade, de acordo com as premissas naturalistas e com a teoria da evolução aleatória a que as mesmas necessariamente conduzem, a Terra tem necessariamente que ser suficientemente antiga para que milhões de espécies possam ter evoluído, dando origem a novas espécies.
Uma idade de 6 000 ou 10 000, por exemplo, seria necessariamente impossível de compatibilizar com a teoria da evolução. Isto, note-se, mesmo antes de se fazer qualquer medição dos níveis de C-14, dos níveis de decaimento de isótopos radioactivos, das taxas de erosão dos continentes ou de deposição de sódio ou e sedimentos nos oceanos ou da velocidade da recessão da Lua. Na verdade, antes mesmo de o cientista ligar a ignição do seu automóvel para se deslocar ao seu laboratório ou ao seu campo rochas sedimentares e fósseis, ele só pode esperar encontrar evidências de evolução aleatória e de uma Terra extremamente antiga, porque só isso é compatível com a ciência naturalista. Também aqui as conclusões precedem qualquer investigação científica, sendo que esta só pode confirmar essas conclusões, sob pena de deixar de ser científica.
Com efeito, se um cientista viesse a concluir que as observações apontam para uma Terra recente, ele iria inevitavelmente pôr em causa a possibilidade de evolução aleatória, o que, por sua vez, iria comprometer as premissas naturalistas que estruturam o método científico e, por conseguinte, iria colocar-se do lado de fora do domínio da ciência. Daí que ele tenha forçosamente que concluir que qualquer observação empírica que aponte para um design inteligente ou possa pôr em causa a extrema antiguidade da Terra só pode estar errada.
Como se vê, quem partir de premissas naturalistas tem forçosamente que concluir pela evolução cósmica e biológica aleatória e pela antiguidade da Terra. Isto significa que todas as evidências têm necessariamente que ser seleccionadas, interpretadas e organizadas de uma forma que corrobore a evolução aleatória e a extrema antiguidade da Terra. E se esta é extremamente antiga, então o sistema solar tem que ser ainda mais antigo, o mesmo acontecendo, sucessivamente, com a Via Láctea e as demais galáxias. Com efeito, se Terra é extremamente antiga, então o sistema solar, a Via Láctea e todo o Universo têm necessariamente que ser muito mais antigos, com pelo menos vários biliões de anos. Assim tem que ser necessariamente, de acordo com as premissas naturalistas, com a evolução cósmica e biológica aleatória e com a necessária antiguidade da Terra. É que só uma intervenção sobrenatural poderia determinar um estado de coisas diferente e essa intervenção sobrenatural está excluída à partida.
Tanto basta para afirmar que a evolução aleatória das espécies e a extrema antiguidade da Terra e do Universo não são o resultado de uma análise objectiva dos factos, imposta necessariamente pelas observações empíricas, antes são a consequência necessária e inelutável da adopção a priori de premissas naturalistas para definir os objectivos, os métodos e mesmo os resultados admissíveis da ciência. Assim, a evolução aleatória e a extrema antiguidade da Terra e do Universo, mais do que o produto da investigação científica, são corolários lógicos e inescapáveis da ideologia naturalista. Só os mais ingénuos, do ponto de vista epistemológico, é que ficam surpreendidos pelo facto de “ciência” confirmar sistematicamente essas premissas. Só pode o fazer, não é? Se não o fizer deixa de ser ciência, na medida em que introduz elementos não aleatórios ao processo, os quais remetem logicamente para uma inteligência sobrenatural.
Como se vê, as regras do jogo naturalista determinam não apenas o modo como ele é jogado, mas o próprio resultado do jogo. Os resultados da investigação científica já estão pré-determinados antes mesmo de essa investigação ter começado. Isto significa que não é necessária qualquer investigação científica para concluir pela teoria da evolução aleatória e pela antiguidade da Terra. Basta adoptar premissas naturalistas. As mesmas encarregam-se de conduzir inelutavelmente o cientista à conclusão de que a evolução aleatória e a antiguidade da Terra são correctas. O “verdadeiro cientista” naturalista não tem qualquer alternativa senão confirmar essas premissas e os “factos” que elas estabelecem.
Assim é, porque toda a evidência terá forçosamente que ser interpretada de acordo com essas premissas, sob pena de sair fora da ciência naturalisticamente definida. Isso, mesmo quando se trate de evidência possa, a primeira vista, atentar contra essas premissas. É o caso, por exemplo, da extrema complexidade do DNA, da impossibilidade física de o DNA surgir por acaso, da existência de C-14 rochas e fósseis datados de milhões de anos, da retenção de hélio nos cristais de rochas graníticas, da estatística populacional ou idade recentíssima das civilizações mais antigas.
Também todas essas evidências têm que ser interpretadas de acordo com o único modelo admissível – o da evolução naturalista ao longo de milhões de anos – porque só essa solução é considerada cientificamente correcta. Assim é, mesmo que isso obrigue a aceitar milagres matemático-probabilisticos, envolvendo probabilidades infinitesimais, como sejam os respeitantes ao surgimento casual de uma célula (probabilidade estimada de 1 em 1 x 10 ^ 57800) ou mesmo de uma simples proteína funcional (1 em 1x 10 ^ 191).
Eis a razão pela qual é impossível refutar cientificamente a evolução. Mesmo num debate entre 10 criacionistas e 1 evolucionista este acabaria sempre por vencer o debate, se e enquanto a ciência fosse definida em termos exclusivamente naturalistas. Mas, como bem se depreende, não o vencia por ter os melhores argumentos ou as evidências mais sólidas, mas apenas por causa do automatismo tautológico da regra “garbage in, garbage out”, naturalismo “in”, naturalismo “out”. Se a ciência é definida em termos naturalistas, então só a evolução aleatória e a extrema antiguidade da Terra são compatíveis com ela.
Assim sendo, os fósseis e as rochas têm que ser obrigatoriamente interpretados de acordo com a teoria da evolução aleatória. Se, por acaso, o registo fóssil não demonstrar evolução gradual, então isso significa que só pode ter havido evolução por saltos. A proliferação de fósseis vivos é vista como uma mera curiosidade, insusceptível de abalar a crença evolucionista. Do mesmo modo, as semelhanças e as diferenças entre animais só podem ser interpretadas de acordo com a evolução. Se existem semelhanças genéticas entre duas espécies, fala-se em homologia e “prova-se” dessa forma evolução. Se existem diferenças genéticas estruturais entre dois órgãos funcionalmente idênticos, fala-se em “evolução convergente” e “prova-se” também assim a evolução.
De uma forma e de outra “prova-se” sempre a evolução. Porquê? Porque a sua veracidade e indiscutibilidade é estabelecida a priori pelas premissas naturalistas Em todos os casos, como se vê, os dados observados nunca podem ser interpretados como pondo em causa a evolução, na medida em que isso iria contra as premissas naturalistas que definem o método científico e colocaria o observador fora do domínio da ciência.
Mesmo as mutações pontuais, que são consabidamente cumulativas e degenerativas, têm que ser forçosamente interpretadas de acordo com a evolução aleatória. Assim é, não tanto porque esteja demonstrado que as mesmas acrescentam informação complexa e especificada ao genoma ou que sejam maioritariamente benéficas para os indivíduos e para as populações, mas apenas porque as mesmas são aleatórias, tendo pelo menos isso em comum com a aleatoriedade que caracteriza o processo evolutivo.
O facto de as mutações serem maioritariamente deletérias é mascarado, pelo naturalismo, através do apelo a um processo de milhões de anos de mutações que ninguém pode observar. Pode facilmente inventar-se uma qualquer “história da carochinha” ou do “sapo que se transforma em príncipe” para tentar “demonstrar” que, ao longo de milhões de anos, uma sucessão de mutações maioritariamente deletérias acabou por construir, contra todas as probabilidades, um organismo inovador, pleno de complexidade especificada e integrada e capacidade de adaptação ao meio. Felizmente para os naturalistas, ninguém pode refutar isso. Em primeiro lugar, porque ninguém estava lá para ver se isso aconteceu ou não. Em segundo lugar, porque se o tentasse fazer estaria a por em causa em causa o dogma naturalista da evolução aleatória, colocando-se, ipso facto, fora do “cientificamente correcto”.
Também a especiação, alopátrica ou simpátrica, e a selecção natural têm forçosamente que ser interpretadas e integradas de acordo com o modelo evolutivo. Isto, apesar de em caso algum criarem informação genética nova, que codifique novas estruturas e funções, limitando-se a operar sobre informação genética pré-existente, a qual vai ficando cada vez mais especializada. Mas qual era realmente a alternativa? Se o único modelo compatível com as premissas naturalistas adoptadas à partida é a evolução cósmica e biológica aleatória (porque exclui a criação sobrenatural) e se a extrema antiguidade da Terra é necessária para conferir alguma credibilidade a esse processo, segue-se que todos os fenómenos naturais têm que ser interpretados em conformidade com esse modelo pré-estabelecido, na medida em que é o único cientificamente admissível.
Assim tem que ser, mesmo que permaneçam sérias dúvidas sobre se as mutações aleatórias e a selecção natural realmente criam informação nova no genoma, capaz de codificar estruturas e funções completamente inovadoras e mais complexas. Mais uma vez, o apelo a hipotéticos milhões de anos não observados por ninguém serve para tranquilizar essas dúvidas. O tempo surge assim como uma espécie de tapete para debaixo do qual são remetidas todas as dúvidas. O tempo e o acaso são dotados, pelo pensamento naturalista, de propriedades milagrosas, com base nas quais tudo passa a ser possível, mesmo que seja manifestamente contrário às leis da física e da biologia. Mesmo eventos que tenham como único fundamento probabilidades infinitesimais, passam a ser não apenas possíveis, ou certos, mas até necessários. Naturalismo oblige.
Como se vê, todo o edifício aparentemente sólido da ciência evolucionista mais não é do que um resultado circular e tautológico da adesão a uma mundividência naturalista que, a priori, a qual determina os objectos, os métodos e até os resultados cientificamente correctos antes mesmo de o trabalho científico iniciar. Esta realidade tem importantes implicações, entre as quais destacamos.
Em primeiro lugar, como têm afirmado os criacionistas, todo o conhecimento científico é fortemente condicionado por pressupostos mundividenciais, mais ou menos conscientemente interiorizados, particularmente quando trata das origens não observadas do Universo, da Vida e do Homem. A teoria da evolução é essencialmente mundividência e não ciência.
Em segundo lugar, a menos que se abandonem as premissas naturalistas, não é possível refutar a teoria da evolução cósmica e biológica aleatória e o seu corolário obrigatório da antiguidade da Terra e do Universo.
Em terceiro lugar, se alguém quiser discernir a obra de Deus na natureza tem forçosamente que aceitar, a priori, a possibilidade da existência de Deus e da sua obra na natureza.
Em quarto lugar, qualquer crente em Deus que quiser descobrir a resposta para a origem, o sentido e o destino do Universo e da Vida, não tem outra alternativa se não aceitar, pela fé, a autoridade última da Sua Palavra e deixar-se conduzir por ela na análise dos dados empíricos.
É por isso que a Bíblia diz que o reconhecimento de Deus é o princípio de toda a ciência.

Jónatas Machado

Fernando Martins disse...

Podem apagar o lixo anterior...?

Anónimo disse...

Interessante argumentação, de facto, e que me leva de novo a recordar aquilo que Einstein disse a Heisenberg, em 1926, e que este relata no seu livro " Encounters with Einstein":

...it may be heuristically useful to keep in mind what one has actually observed. But on principle, it is quite wrong to try founding a theory on observable magnitudes alone. In reality the very opposite happens. It is the theory which decides what we can observe.

Muito interessante de facto, em especial quando podemos interpretar o universo segundo dois pontos de vista diametralmente opostos: ou o realismo materialista ainda vigente ou o idealismo monista de novo emergente.

É a consciência que precede a matéria ou é da matéria que deriva a consciência?!

De novo, o enigma do ovo e da galinha...

Rui leprechaun

(...que importa? vai tudo prà barriguinha! :))

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