quinta-feira, 7 de abril de 2011
A Pedagogia é uma Ciência?
Com o intuito de suscitar uma saudável discussão, deixo a pergunta e a resposta dada pelo espanhol Ricardo Moreno Castillo, o autor do "Panfleto Antipedagógico": aqui. Pela minha parte, acho que é uma ciência, embora alguns "cientistas da educação" insistam em dar provas do contrário.
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13 comentários:
Obrigado por este maravilhoso artigo.
Meu Caro Fiolhais:
Estudar os mecanismos da aprendizagem é Ciência.
Mas vejamos o que se passa com o Eduquês em Portugal? Trata-se de um sistema normativo, porque não diz o que é mas como deve ser. Isso não é Ciência. Dizem-nos como se deve ensinar, que métodos a seguir, como se deve aprender, como se devem tornar as crianças felizes, como se deve proceder para evitar traumatizá-las para toda a vida. Não é Ciência, embora se possa argumentar que se baseiam na Ciência (psicologia...) para deduzirem regras como as regras de moral. Ora muitos discordam dos métodos que eles preconizam mas o professor não é livre para pôr em prática os métodos em que acredita. Porque os inventores da nova moral têm muita força política. Quem não obedece é mau professor e prejudica-se. Já assisti a cenas de imposição (sem admitir réplica...) a estagiários de métodos considerados correctos (do ponto de vista do eduquês) e de que o estagiário discorda. Mas coitado tem de concordar senão chumba. E o que se passa com a avaliação? Meu Deus...
Bom artigo para suscitar a discussão, acho que ilustra bem a confusão que se vive nesta matéria.
O próprio artigo tem muito pouco de científico. Para demonstrar que a pedagogia não é uma ciência era preciso muito mais do que duas dezenas de páginas de reflexões, observações e alguns exemplos, por mais razão que o autor tenha, e que acho que tem em muitos casos.
Não vejo porque não se possa considerar a pedagogia uma ciência, já quanto à sua prática era interessante ter um estudo realmente científico sobre o assunto.
Será que toda esta confusão é porque se passou do modelo antigo do professor que sabe tudo e o aluno tudo memoriza sem questionar, para o oposto completo em que o professor é sub-valorizado e o importante é dar liberdade à criatividade do aluno mesmo que sem bases para tal? Foi a primeira vez que tal aconteceu e atingimos novamente o ponto de viragem no sentido contrário? Assistimos a muitas outras revoluções na sociedade no século passado e sempre houve exageros na mudança. Talvez seja assim mesmo para se atingir um equilíbrio.
Caro anónimo: de facto isso é mais filosofia ou religião. Também já passei por dificuldades por ter outras ideias sobre a felicidade das crianças, dos pais e até dos professores. Concluí que para zelar pela minha felicidade (coisa a que professores não têm direito) o melhor era fazer de conta que concordava com tudo.
Joana de Sousa (pseudónimo, claro)
Eu gostava de dar aulas um dia. Ainda apanhei um liceu decente (nos anos 80) mas uma universidade (privada) abaixo de medíocre (nos anos 90). Não fazia ideia na altura do que ainda estava para vir no que diz respeito ao que os professores do ensino público têm passado. É preciso ter muito espírito de sacrifício ou ser muito ingénuo para se querer ser professor do ensino público nos tempos que correm...
Ainda não li o livro proposto, mas embora concorde com o facto de a Pedagogia ser uma ciência,para Sebastião da Gama era mais uma arte do que uma ciência...
Querem tornar uma criança feliz? Passem-lhe uma bola para as mãos...
O problema do eduquês é que infelizmente continua-se a dar receitas em vez de fazer compreender. Continua-se a levar a memorizar em vez de fazer raciocinar. Continua a dar-se importância ao ler-escrever-contar do que às áreas de expressão - criança que não sabe correr é criança que não sabe pegar num lápis!
Concluir que para zelar pela minha felicidade (coisa a que professores não têm direito) o melhor era fazer de conta que concordava com tudo, é uma falácia. Sou professor há 30 anos, gozo a minha felicidade mas denuncio e não me submeto! Claro que isso tem um preço, mas a dignidade não tem preço.
Por isso mesmo, não assino com pseudónimo!
"Claro que isso tem um preço, mas a dignidade não tem preço." Essa é boa (ou má). Nestas coisas só com pseudónimo...passar fome custa. Salvo para o que disto só ouviram falar.
Joana de Sousa (candidata a heroína (vou pensar)).
«A pior das atitudes é a indiferença» (Stéphane Hessel, "Indignai-vos!", 2011, Objectiva, p. 26), e eu diria que, pela sua objectividade e pela possibilidade de o observarmos, o pior dos comportamentos é a indiferença.
E a diferença reside na realidade entre os que são indiferentes, os submissos, os subservientes, e aqueles que resistem, que denunciam, que actuam - os que se indignam e manifestam a sua indignação (mesmo com fome no estomâgo, mas sem fome no cérebro!).
A acomodação, mesmo com pseudónimo, não leva a lado nenhum...
Claro que passar fome custa... mas refugiarmo-nos no fazer de conta que se concorda com tudo foi o que nos levou ao actual estado do nosso país! Por causa disso ainda iremos passar mais fome...
Cumprimentos à Joana.
"o pior dos comportamentos é a indiferença. ". Errado. Pior ainda é colaborar com o inimigo.
Fingir acomodação mesmo com pseudónimo não leva a lugar nenhum? Olhe que não, olhe que não. Muitas vezes leva.
J. S.
De facto, os últimos comentários (anónimos ou com pseudónimo) são reveladores da actualidade do nosso país e da mentalidade do portuguesinho que prefere uma solução de remendo a uma reconstrução total. Do portuguesinho que tem medo de dar a cara para não sofrer represálias... Do portuguesinho que teme assumir as suas responsabilidades (porque se sente inseguro em relação às posições que defende!). Ou do portuguesinho que se diverte a lançar "bitaites" sem saber em que se fundamenta ou sem ter conhecimento de causa...
Deixo-vos com o post "O LACAIO" do blog de Luís Sérgio em http://nocoraodaescola.blogspot.com/:
“A síndrome do lacaio é uma doença do século XXI, que explica o embrutecimento das multidões, a inércia face ao aumento das injustiças e a generalização do egoísmo social.
O lacaio tem um comportamento patológico que o faz defender sempre as classes mais favorecidas, com prejuízo daquela a que pertence. Não tem consciência política e age sempre a favor dos que o exploram, na esperança de atrair benevolência.
O lacaio não escolhe gostar dos ricos (gosta deles precisamente porque é lacaio) e considera que o dinheiro que lhe faz falta é muito mais útil nos cofres de quem os tem já cheios.
O lacaio ou herda a sua condição (depois de tantos séculos de escravatura e de feudalismo, pode ser que exista já uma transmissão genética...) ou sofre de uma patologia que se desenvolve desde a infância mas se agrava quando o sujeito toma consciência da mediocridade da sua condição.
O lacaio desenvolve estratégias inconscientes para estabelecer um equilíbrio cognitivo que ajude a justificar a aceitação da subordinação e a sublimar a desilusão.
O lacaio tem um vago sentimento de injustiça, mas convence-se que está do lado correcto da barricada e encaixa maravilhosamente medidas de austeridade ou restrições de liberdades. É a favor da existência de câmaras de vigilância, mesmo que estas não o protejam do que quer que seja.
O lacaio sente-se perfeitamente seguro pela pertença a uma classe social a que é perfeitamente estranho e considera-se integrado no conjunto de 1% dos cidadãos privilegiados do seu país – tal como 20% dos seus compatriotas, lacaios como ele.”
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite,
já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Eduardo Alves da Costa
in “No caminho com Maiakóvski”,
São Paulo, Ed. Círculo do Livro, 1988.
PARA OS ANÓNMOS, PARA AQUELES QUE NÃO GOSTAM DE DAR A CARA, AQUELES QUE REFUGIAM EM PSEUDÓNIMOS, OU QUE NÃO QUEREM ASSUNIR A RESPONSABILIDADE PELO QUE ESCREVEM, OU AINDA QUE TÊM MEDO DE REPRESÁLIAS, aqui fica este simples poema de Sidónio Muralha:
"Parar. Parar não paro.
Esquecer. Esquecer não esqueço.
Se carácter custa caro
pago o preço."
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