segunda-feira, 7 de maio de 2007

And now for something completely different!


Num blog dedicado a De Rerum Natura, vou cometer uma heresia: citar como exemplo um Intelligent Designer!

Podemos enquanto seres humanos concordar ou discordar, racional ou irracionalmente, civilizada ou incivilizadamente. Mas confesso a minha admiração por ver muitas vezes confundido, em debates que se pretendem racionais, o respeito pelos argumentos com a concordância com as conclusões.

Os argumentos podem ser interessantes, profundos, e mesmo válidos, não se seguindo necessariamente as conclusões. Há imensas razões lógicas para isso poder ocorrer (pergunte-se ao especialista residente em Lógica, Desidério Murcho). O que também não implica necessariamente que os argumentos estejam liminarmente errados ou sejam triviais.

Há tempos alguém classificava Richard Dawkins como panfletário. Pessoalmente, acho que Dawkins é bastante extremista nas suas posições sobre religião - mas os seus argumentos estão longe de ser triviais. Na verdade, ele é extremamente profundo nas suas opiniões, que em geral têm raízes na Ciência que ajudou a criar. Quem leu O Gene Egoísta, Unweaving the Rainbow ou Climbing Mount Improbable sabe bem que o recente The God Delusion não é uma colagem de opiniões. Tem por trás ideias sedimentadas por décadas de investigação por um dos maiores nomes da biologia mundial. Podemos não concordar com elas. Mas os argumentos de Dawkins estão muito, muito longe de triviais. The God Delusion foi mesmo, para mim, o livro mais importante de 2006.

Richard Dawkins acabou de ser eleito como uma das 100 pessoas mais influentes do Mundo pela revista Time. É interessantíssimo ler o que, a respeito de Dawkins, tem a dizer Michael Behe, uma das grandes figuras mundiais do Intelligent Design e portanto adversário de Dawkins (que, como se sabe, não é conhecido por ser meigo ou sequer particularmente tolerante para com os adversários) . É um exemplo de inteligência, respeito e tolerância que provavelmente todos, cientistas ou não, ganharíamos em seguir. Passo a citar.

Richard Dawkins

Of Richard Dawkins' nine books, none caused as much controversy or sold as well as last year's The God Delusion. The central idea—popular among readers and deeply unsettling among proponents of intelligent design like myself—is that religion is a so-called virus of the mind, a simple artifact of cultural evolution, no more or less meaningful than eye color or height.

It is a measure of the artful way Dawkins, 66, an evolutionary biologist at the University of Oxford, tells a tale and the rigor he brings to his thinking that even those of us who profoundly disagree with what he has to say can tip our hats to the way he has invigorated the larger debate.

Dawkins had a mild Anglican youth but at 16 discovered Charles Darwin and believed he'd found a pearl of great price. I believe his new book follows much less from his data than from his premises, and yet I admire his determination. Concerning the big questions, the Bible advises us to be hot or cold but not lukewarm. Whatever the merit of his ideas, Richard Dawkins is not lukewarm.

Behe is the author of the upcoming The Edge of Evolution

13 comentários:

Manuel disse...

Já Epicuro dizia o mesmo, mas de outra maneira...

E com calminha, para não o mandarem matar por sacrilégio.

Dizia o grego de Samos que tanto fazia os deuses existirem ou não. Mas o mais importante era não perdemos tempo a pensarmos neles, e sobretudo não termos MEDO deles.

Pelos vistos, Dawkins segue o soncelho de Epicuro e não tem MEDO de Deus.

Gostei do blogue e voltarei.

Abraço.

Alef disse...

Muito bem, em «dia de heresias» (ou indulgência plenária?), aproveito para propor um «pequeno» desafio.

Depois de este blogue ter dado tanto destaque ao livro de The God Delusion, que, afinal, escreve sobre questões que vão muito para lá do estrito campo da ciência, proponho que levem o mesmo exercício intelectual ao seu termo, registando, lendo, comentando e dando o devido destaque (oops!) ao livro-resposta, The Dawkins Delusion?, de Alister McGrath (et al.).

Alister McGrath também tem formação científica (doutoramento em biofísica molecular). O livro trata de analisar a argumentação de Dawkins, prestando especial atenção ao «retrato» que Dawkins faz da religião: imagem rigorosa ou caricatura? Em que aspectos tem ou não tem razão? Serão as dicotomias de Dawkins válidas?

Pode-se começar por uma recensão, aqui (inglês) ou ali (espanhol).

Estou certo de que vão ler o livro. Sem pressupostos, como garante o Desidério. ;-)

Valete, fratres!

Alef

Anónimo disse...

Juro que não entendo este Buescu! Desanca quem não deve e faz elogios a IDiotas. O fanático católico da caixa preta e seus acólitos devem estar muito contente com a publicidade que o Buescu lhe está a dar. Basta ver o Alef que aproveitou logo a deixa!

João Vasco disse...

Também gosto muito de ler Dawkins, embora não tenha dado mais que uma espreitadela no último livro dele.

O meu gosto pelos argumentos e ideias do Dawkins (sobre vários assuntos, mas também sobre religião) é a maior divergência que até agora encontrei com o Desidério, com quem tenho vindo a concordar a respeito das diferentes coisas que vai escrevendo.

David Cameira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
David Cameira disse...

Ao menos este deveria ter tradução portuguesa.

E sempre importante estar a par das evoluçoes da cultura e da divulgação de uma arejada e LIVRE mentalidade de investigação cientifica, sem preconceitos nem pressupostos " a priori "

Merece ser lido e debatido nos foruns da ciencia

Anónimo disse...

Richard Dawkins tem razão numa coisa. As afirmações científicas têm implicações religiosas e as afirmações religiosas têm implicações científicas. A religião e a ciência não são realmente campos separados.

Apesar de Richard Dawkins reconhecer que a aparência de design na natureza é esmagadora, prefere apostar na escalada gradual de um monte improvável sem qualquer evidência histórica ou geológica.

O problema é que o monte de que ele fala é um monte impossível. Os próprios paleontologistas consideram o cenário gradualista de Dawkins irreal. Só em simulações computacionais é que a e evolução é possível (quando se pré-programa o computador para o efeito!).

O seu naturalismo de princípio impede-o de reconhecer a existência de um designer, apesar da esmagadora evidência de design.

Quem adopta uma visão do mundo naturalista só pode concluir que Deus é uma ilusão.

Como bem refere Michael Behe, não é a ciência que conduz Dawkins às conclusões a que chega, mas sim as premissas naturalistas de que ele parte.

Em todo o caso, o ódio que Dawkins manifesta contra o Deus de Abraão, Isaque e Jacó é qualquer coisa espiritual, que transcende em muito a discussão serena e racional.

O mesmo manifesta, além do mais, uma grande frustração por não poder testar cientificamente a existência de Deus, por não poder submeter Deus a experimentação ou validação de acordo com as leis da física.

Richard Dawkins quer submeter Deus à sua razão, em vez de submeter a sua razão a Deus. Esse é, no essencial, o seu erro.

Richard Dawkins não está realmente disposto a deixar Deus ser Deus.

Ele não quer reconhecer que não se aplicam a Deus as observações científicas. Isto, embora as mesmas possam corroborar inteiramente a Sua existência.

Richard Dawkins não tem nada a dizer sobre a causa do hipotético Big Bang ou sobre a origem da vida. Por seu lado, o mecanismo evolutivo gradualista tem sido questionado por evolucionistas como Stephen Jay Gould ou Niles Eldregde, entre muitos outros.

Sem o fundamento empírico para as suas premissas, torna-se cada vez mais evidente que a visão do mundo de Dawkins não passa de uma crença sem qualquer base.

Richard Dawkins gosta de dizer que "tem quase a certeza de que Deus não existe".

Também aqui o problema está justamente no "quase".

Anónimo disse...

Realmente é estranho.

Dawkins recusa liminarmente investigar qualquer indício de design na natureza como evidência da existência de Deus, para depois concluir que Deus é uma ilusão.

Que tudo não passa de uma crença sem fundamento é, curiosamente, reconhecido pelo próprio Richard Dawkins quando recentemente afirmou:

‘I believe, but I cannot prove, that all life, all intelligence, all creativity and all “design” anywhere in the universe is the direct or indirect product of Darwinian natural selection.’


Voilá! Para Dawkins, o Universo está cheio de "inteligência", "criatividade" e "design". Mas Deus é uma ilusão!

Anónimo disse...

Oh Jónatas, perca lá a vergonha e assine com o nome que os seus pais lhe deram.

Anónimo disse...

Pois é. Quando um IDiota, escreve esta patacoada: "O problema é que o monte de que ele fala é um monte impossível. Os próprios paleontologistas consideram o cenário gradualista de Dawkins irreal. Só em simulações computacionais é que a e evolução é possível (quando se pré-programa o computador para o efeito!)". Só pode estar a tentar provar que não tem bases para a sua crença.
Em qualquer simulação informática de uma evolução, se considerar todos os factores estáticos, efectivamente não vai haver evolução nenhuma. Isto é lógica de jurista, advogado, e afins. Numa simulação natural, tem de introduzir sempre um factor de mudança a ser avaliado, para testar a sua viabilidade. E as mutações a ser avaliadas, existem mesmo contra a vontade dos IDiotas. Veja-se os cães, que têm origem no mesmo antepassado, mas, que por imposição selectiva humana foram dar em todas as raças hoje conhecidas. O mesmo se passa na natureza, com uma população de um qualquer ser vivo. Por mutação genética, um filho nasce com uma caracteristica diferente, por exemplo, menos 2 molares. O espaço para acomodar o cérebro aumenta. Se ele for carnivoro, desenvolve uma maior inteligencia que lhe garante mais 0.1% de taxa de sobrevivência, o que ao fim de várias gerações, se traduz na predominância nessa população dessa caracteristica herdada de um ancestral comum, mas, se a caracteristica surgir num herbivoro, essa mesma caracteristica implica não haver energia suficiente para alimentar esse crescimento cerebral, que agravado pelo tempo extra necessário para mastigar, para compensar a ausencia desses molares significa menos 0.1% de probabilidade de sobrevivência. Estatisticamente, ao fim de algumas gerações, ou essa linhagem se extinguiu, ou se tornou recessiva, e fica latente.
Podem ignorar os mecanismos estatisticos e aleatórios por detrás da evolução, mas, isso não prova a inexistência da mesma. Prova é a vossa falta de inteligência, o que é grave em quem quer apontar a um design inteligente na origem de tudo. Talvez vocês não tenham sido contemplados pelo design que advogam. Além da vossa mui clara tendência para rebanharem. Talvez com base nesta saida do Behe, já vi um dos esbirros a tentar passar manteiga num ateu, a reconhecer-lhe capacidades.

Anónimo disse...

Já o escrevi anteriormente. Parece-me bizarro que o grau de consciência absolutamente gigantesco que nos separa dos restantes seres seja atribuído com ligeireza a um processo evolutivo errante. Serei, provavelmente, para os notáveis frequentadores deste blog um impertinente pateta. Mas, permitam-me, um pateta que quer muito salvar a sua alma...

Anónimo disse...

Pergunta de pessoa verdinha:
IDiota = idiota
ou as duas letras em maísculas tem algum significado especial?

:-)

Rui leprechaun disse...

Olá, Verdinho... eu também sou um Gnominho!!! :)

Sim, é uma forma pouco gentil, digamos, de qualificar os defensores do Intelligent Design (ID)... ora vê!

Para uma introdução geral ao tema, o artigo da Wikipedia, com os seus muitos links, chega e sobra... investiga esta obra:

http://en.wikipedia.org/wiki/Inteligent_design

Pessoalmente, interessam-me pouco os pormenores e basta-me saber que a consciência está presente em tudo o que existe, e já desde o início... e antes ainda!... do universo material.

Quanto a ambos os personagens focados, Behe e Dawkins, apenas posso dizer que tenho gostado do que até agora li de ambos. E nem vejo assim que Richard Dawkins seja tão feroz nas suas críticas à religião como o pintam. Pelo menos, no que se refere à religião organizada, tendo até a concordar com os seus pontos de vista, no geral. Deveras, agrada-me a maneira honesta e frontal como ele os expõe, a tal questão da virulência parece-me secundária. (Ah, caso contrário eu também não lia a Palmira... e siga o vira! :)) Como afirma Behe, o biólogo britânico é apenas quente e entusiástico, e tal parece-me uma belíssima virtude.

Eis uma citação com a qual concordo, se aplicada ao carácter mais fundamentalista, irredutível e separatista, que, infelizmente, é ainda existente nalguns influentes sectores religiosos:

Revealed faith is not harmless nonsense, it can be lethally dangerous nonsense. Dangerous because it gives people unshakeable confidence in their own righteousness. Dangerous because it gives them false courage to kill themselves, which automatically removes normal barriers to killing others. Dangerous because it teaches enmity to others labelled only by a difference of inherited tradition.

Richard Dawkins, in "The Guardian" (11-10-2001)

Although there really is much more to religion or spirituality...

Rui leprechaun

(...and that IS the evolutionary key!!! :))

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