quarta-feira, 28 de setembro de 2022

"A ESCOLA: LUGAR DE SIGNIFICADO E COMPROMISSO"

"As oportunidades de aprendizagem estão amplamente disponíveis
de forma "gratuita", marcando o declínio das estruturas curriculares 
estabelecidas e desmantelamento do sistema escolar." 
OCDE, 2022, 4.

As grandes corporações supranacionais que fazem reiteradas "recomendações" para os sistemas de ensino, os grupos de interesse da mais diversa natureza que se infiltram neles para benefício próprio, os decisores políticos que legitimam o que uns e outros "sugerem", não são os únicos, mas, por certo, os principais instigadores de uma "mudança", de uma "transformação" da educação escolar pública à escala global que passa, nada mais, nada menos, do que pelo seu aniquilamento.

Talvez desconheçam, talvez menosprezem o trabalho de investigação muito sério que, em paralelo, está a ser realizado em diversos países com o objectivo de evidenciar isso mesmo e de explicar a importância dessa educação. É o caso do artigo ao lado e abaixo identificado que, por isso mesmo, deve ser lido com a máxima atenção.
O artigo tem por objectivo defender que a transmissão cultural que tem lugar na escola desempenha um papel fundamental nos processos de humanização e construção da identidade, necessários para garantir a vida em democracia; e que, portanto, as escolas e os professores, através da reflexão teleológica, devem resistir às pressões que tentam fazer crer que a transmissão constitui um elemento educativo obsoleto, em vez de terem um lugar central na acção escolar. Para isso, exploram-se as pressões que se fazem sentir hoje na escola para abdicar da sua missão, assim como os riscos de ceder a elas. Em continuação, examina-se o modo como a transmissão cultural através da criação de significados pessoais e comuns é criadora de sentido e favorece a vida em comunidade.
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- Ibáñez Ayuso, M.ª J., Limón Mendizábal, M.ª R., y Ruiz-Alberdi, C. M.ª (2023). La escuela: lugar de significado y compromiso. Teoría de la Educación. Revista Interuniversitaria, 35(1), acceso anticipado. https://doi.org/10.14201/teri.27858 

- OCDE (2022). Trends shaping education 2022. Paris: OECD Publishing. https://doi.org/10.1787/6ae8771a-en

4 comentários:

Anónimo disse...

Admitamos então que as aprendizagens amplamente disponíveis e "gratuitas" conduzirão inevitavelmente ao aniquilamento da escola. Os professores do ensino secundário estão longe de serem os principais responsáveis por esta tragédia educativa. Os políticos, nomeadamente os da área da educação, deviam assumir por inteiro as suas opções e acabar com a escola clássica e os seus professores, em vez de infernizarem a vida dos docentes com a aplicação de métodos e estratégias de ensino delirantes, inexequíveis e fraudulentos. Se é para acabar, acabe-se já!
A combinação de filosofia ubuntu com práticas infernais, em contexto de sala de aula, só pode acabar em desastre!

Helena Damião disse...

Caro Leitor não sei há políticos das Ciências da Educação em número significativo nos muitos países que acolhem as recomendações supranacionais para a "escolaridade", nunca fiz essa análise. Admito que os grandes grupos que referi possam incluir pessoas com formação em Educação e Pedagogia. O que eu queria dizer com este apontamento é que precisamos de conhecer e de perceber o que está em causa nas reformas curriculares em curso e, como professores, ter o discernimento e a coragem de recusar o que contribui para a destruição dos sistemas de ensino e da escola, como instituição milenar. Este trabalho de esclarecimento está a ser feito sobretudo por pessoas das Ciências da Educação. As autoras do artigo mencionado são das Ciências da Educação. Se leu o artigo, entenderá que o trabalho apresentando não se destina a infernizar a vida dos professores; destina-se a consciencializar os professores e a sociedade em geral.
Cordialmente, MHDamião

Anónimo disse...

Cara Helena Damião,

Eu refiro-me às políticas educativas que têm como uma das grandes bandeiras, nos últimos anos, a promoção do chamado ensino profissional, de "caráter eminentemente formativo", que mais não é, na prática, do que uma farsa e uma fraude. As reformas curriculares "benévolas" já lá estão todas há muitos anos. O remate final consiste em alargar a "filosofia" do profissional a todo o ensino secundário e politécnico.
Para si, a filosofia ubuntu deve ter lugar de destaque na reforma curricular em curso?
Cordialmente.

Helena Damião disse...

Caro Leitor, as políticas educativas (transnacionais e nacionais) para os sistemas públicos (desde o início do ensino básico até ao final do ensino superior) são direccionadas para a preparação profissional. Importa responder ao mercado de trabalho, segundo as suas necessidades e nos seus moldes. Esta orientação (envolta numa retórica pseudo-humanista) é regra nos documentos de abrangência global, nacional e, também, escolar. Se concordo com esta orientação? Não concordo. E, como eu, são muitas as pessoas das Ciências da Educação que não concordam e explicam porquê a uma sociedade que parece estar adormecida em relação ao "desmantelamento" desses sistemas. Quanto à "filosofia" ubuntu, a minha resposta é simples: no currículo tem de constar o que é especificamente escolar. Não deveria ser possível retirar isso para integrar a última proposta disto ou daquilo. Noto que o ubuntu, não obstante a parceria com a DGE, é opção das escolas, não das Ciências da Educação, campo que, de resto, nem foi o seu berço. Cumprimentos, MHDamião

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