Dei recentemente uma entrevista a uma aluna de doutoramento que está a estudar a colecção Ciência Aberta, da Gradiva. Porque pode interessar aos leitores, habituais ou novos, dessa colecção, publico aqui uma pequena parte:
IN- Coloco
agora questões relacionadas com a sua condição de editor da colecção Ciência
Aberta desde 2012. Desde que é editor da colecção, alterou alguma política?
CF-
A partir do número 200, quando tomei conta da colecção, aumentou bastante o
número de autores portugueses: procurei não só aumentar a variedade de temas
disciplinares, mas também a variedade da origem dos autores, incluindo embora
de inicio de uma forma muito tímida, os portugueses. Estão até agora editados
234, o último é O Homem de Neanderthal, de Svante Pääbo, portanto 34
livros. Destes 14 (41%) são de autores portugueses. Para comparação, nos 200
primeiros títulos houve 36 títulos de autores portugueses (13%), isto é, a
percentagem de autores nacionais passou em relativamente pouco tempo para o
triplo. Mantendo autores tradicionais (dos estrangeiros, destaco Hubert Reeves,
Stephen Hawking, Richard Feynman e Richard Dawkins – neste caso em reedição
numa subcolecção chamada Grandes Clássicos, – Martins Rees e Peter
Atkins e Neil Tyson, e, dos portugueses, Manuel Paiva, Jorge Buescu e Jorge
Dias de Deus), procurei lançar novos autores, tanto estrangeiros como
nacionais: destaco nos primeiros David Deutsch, Sean Carroll, Lawrence Krauss e
Svante Pääbo e, nos segundos, José Tito de Mendonça, Alexandre Aibéo e João
Paulo André.
Tentei também lançar alguns livros “fora da caixa” como Os
Marcianos Somos Nós, sobre ficção científica do jornalista Nuno Galopim, ou
Tecnologia versus Humanidade, sobre a moderna sociedade dominada pelas
tecnologias do futurólogo Gerd Leonardt.
Há também algumas abordagens
originais, como Zombies e Cálculo, do matemático Colin Adams, uma
abordagem zombie à matemática que estava inicialmente prevista para a colecção O
Prazer da Matemática, e O Cálculo da Felicidade – Como uma abordagem matemática
da vida, da saúde, dinheiro e amor, que pelo título mais parece um livro de
autoajuda mas que tem, ao contrário destes, muito de ciência matemática. Estes dois últimos títulos e também um título dos
Grandes Clássicos - Simetria
de Hermann Weyl – mostram que não receamos a matemática (no caso de Weyl a
matemática é mais difícil, admito).
Outra inovação, para além da criação da subsérie Grandes Clássicos,
houve um acordo com a Fundação Francisco Manuel dos Santos, que tem permitido
trazer alguns autores a Portugal para proferir conferências e lançar os seus
livros: Foi o caso do psicólogo social Philip Tetlock, um autor da área das
ciências sociais e humanas que não tem sido muito contemplada na colecção, Martin
Rees, Peter Atkins e Svante Pääbo, todos eles grandes nomes das suas áreas,
respectivamente a astronomia, a química e a paleogenética.
Um sinal dos tempos
foi termos publicado A Paixão da Física
do professor de Física americano Walter Lewin (sendo coautor Warren Goodstein): é
uma espécie de guião das aulas muito populares que ele deu no MIT e que estão
acessíveis no YouTube. No Cosmos
de Sagan o meio era a televisão, agora o meio é também a Internet.
IN-
Como são seleccionados os livros que publicam na Ciência Aberta? Existirá alguma área científica
preferencial para publicar, atendendo ao mercado?
CF- Procuramos
escolher bons autores e bons livros, estando atentos á actualidade da ciência e
do mundo. Não há critérios absolutamente objectivos, pois há sempre alguma
subjectividade. Dependemos da oferta que vem de fora e de dentro, havendo que
seleccionar, no que vem de fora, entre uma grande quantidade de autores e de
títulos. Por vezes, há restrições próprias do comércio livreiro: direitos
demasiado caros, ou comprados por outros.
Quanto a temas, há temas que têm sempre procura como o da astronomia,
astrofísica e astronáutica. Conto 12 títulos (35%) na Ciência Aberta desde o n.º 200. A biologia e a medicina
tiveram 5 títulos. A matemática, até por ter terminado a colecção O Prazer
da Matemática, que foi dirigida pelo Jorge Buescu, tem 5 livros. A física,
sem a astrofísica, tem 4 títulos (destaco Uma Biografia da Luz,
publicada no quadro do 2015 - Ano Internacional da Luz, que teve edição no Brasil).
A química tem 2. Saliento, a propósito da química, a atenção que temos dado ao
tema das “duas culturas” de C. P. Snow, isto é, a cultura científico-tecnológica
e a cultura humanística: destaco o livro do químico Sérgio Rodrigues sobre a
relação da química com a literatura Jardins de Cristais – Química e Cultura
e o livro de um outro químico, o João Paulo André, Poções e Paixões – Química e Ópera.
Se me é permitida uma
autocitação, tenho com o David Marçal um título sobre um tema muito actual, que
é o dos ataques à ciência, A Ciência e os seus Inimigos, que tem vendido
bem. Teve impacto nos media e suscitou algum debate.
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