quarta-feira, 18 de março de 2020

A pandemia do medo

Gosto de ler as crónicas do Santana-Maia Leonardo, advogado. Eis a última crónica dele no jornal As Beiras , chamando a atenção para a epidemia do medo, que mata também é viral e mata mais do que a epidemia do vírus:, e para a grava e questão do agravamento das desigualdades


"Quando ouço e leio hoje cronistas, comentadores e gente anónima falar em guerra mundial quando pronunciam o nome da COVID-19, ao mesmo tempo que correm a fechar-se em casa e a esconder-se debaixo das mantas...

Na II Guerra Mundial, recordo, centenas de milhares de pais americanos enviaram os seus jovens filhos saudáveis para a frente de batalha na Europa, sacrificando as suas vidas, para enfrentar o vírus do nazismo. Isto é que é estar em guerra.

Agora existe o risco de pessoas como eu ou os mais idosos poderem morrer... Se isso me acontecer, não é agradável nem para mim, nem para aqueles (poucos, muito poucos) que me estão próximos, mas não tem comparação com a morte em massa de jovens saudáveis como aconteceu na I e II Guerras Mundiais.

 Temos, obviamente, de ter alguns cuidados e procurar cumprir as indicações de quem tem essa responsabilidade. Mas todos nós também conhecemos a história da Bela Adormecida: apesar de viver encerrada no castelo, quando ia fazer 16 anos, e os pais terem mandado cortar todos os picos do reino para evitar de se picar, isso não evitou que se picasse.

 E, apesar da esmagadora maioria dos portugueses ser pensionista, funcionário público ou receber prestações sociais, temos todos de ter também consciência que não é possível um país inteiro sobreviver fechado em casa em regime de bar aberto, meses a fio, até porque o dinheiro só é importante se se puder comprar alguma coisa com ele.

E, se toda a gente ficar fechada em casa, rapidamente deixa de haver o que comprar e o que comer, para já não falar nos cuidados de saúde que, para serem prestados, exigem a mobilização de centenas de milhares de pessoas que também têm fi lhos e família (médicos, enfermeiros, farmacêuticos, fornecedores, funcionários, bombeiros, seguranças, autoridades, transportadoras, empresários, operários, etc. etc.)..."

Ou vamos dividir os portugueses em brancos e pretos: uns ficam em casa com salário garantido e direito a férias, quando o vírus permitir; e os outros vão trabalhar para garantir que não falte nada àqueles que ficam fechados em casa."

Santa-Maia Leonardo

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