sábado, 14 de março de 2020

RUI ZINK SOBRE A ESCOLA E OS PROFESSORES


O professor e escritor Rui Zink foi entrevistado pelo Ensino Magazine (fev/2020), n.º 264. Diz o seguinte sobre a escola e os professores:

Foi professor de liceu e acumula muitos anos como professor universitário. Como carateriza o sistema de ensino em Portugal, em termos das suas principais debilidades?
Ao nível do liceu, tenho a perceção que há uma excessiva burocratização e desautorização do professor. A ferida aberta pela ex-ministra, Maria de Lurdes Rodrigues, ainda não foi fechada. Há uma arrogância e uma petulância que contribuiu para o esvaziamento do poder e bem estar dos professores. Fui professor de liceu durante quatro anos e adotava estratégias didáticas que hoje seriam inaceitáveis. Não sou saudoso do tempo em que o professor podia dar reguadas nos alunos, mas convém que a figura do professor tenha instrumentos de autoridade. O que eu vejo é que neste momento existe um esvaziamento da função do professor.

O professor está desamparado na sua retaguarda?
É importante que exista um Conselho Diretivo forte, que esteja entrosado e do lado dos professores. Se não houver, os professores sentem-se abandonados, com uma sensação de medo e depressão. Se o professor não estiver bem, a aula não funciona.

Os recentes casos de violência contra docentes são sinais do mau estar?
A epidemia de violência contra os professores tem de acabar. E para isso é preciso punir. Um pai que agrida um professor deve passar dois dias no calabouço. E perante um professor abandonado e um grupo de adolescentes com demasiado poder, não é de estranhar que tenhamos comportamentos fascistas. Em bando, todos nós podemos virar matilha.

A escola pública tem vindo a perder peso e prestígio para a escola privada?
Eu parto desta premissa: «diz-me onde o ministro põe os seus filhos a estudar e dir-te-ei quem és.» O esvaziamento do ensino numa era democrática beneficia quem tem dinheiro para colocar os filhos a estudar noutros estabelecimentos. Eu possibilitei aos meus filhos estudarem no estrangeiro porque o maior benefício que lhes podia dar era eles serem cosmopolitas e terem mundo. Custou dinheiro? Sim, mas eu não sou ministro da educação. Não pense que estou de má fé, mas em teoria já viu que a melhor forma de eu facilitar a vida dos meus filhos é baixar a qualidade de ensino dos seus futuros concorrentes, para os meus filhos serem os únicos a ter 18 valores? Se eu puder ser ministro de um governo que tem muito amor pela educação, então eu tenho a «arma» certa. Nos meus momentos mais tristes, suspeito que há um complô interpartidário - ou intercasta - para baixar o nível do ensino e para deprimir os professores. E professores deprimidos não podem ser bons.

Quem é que protagoniza esse «complô interpartidário»?
É uma espécie de Maçonaria ou Opus Dei secreta.

Diz mais coisas. Ler o resto aqui:
http://www.ensino.eu/ensino-magazine/fevereiro-2020/entrevista/existeumesvaziamentodafuncaodoprofessor.aspx

3 comentários:

Anónimo disse...

"Disse-lhe Pilatos: O que é a verdade? E tendo dito isto, saiu outra vez para os judeus, e lhes disse: Eu não acho nele nenhum delito" (João 18:38).

Exemplo de três verdades puras e cristalinas, segundo Rui Zink:


“Ao nível do liceu, tenho a perceção que há uma excessiva burocratização e desautorização do professor.”


“A epidemia de violência contra os professores tem de acabar. E para isso é preciso punir. Um pai que agrida um professor deve passar dois dias no calabouço. E perante um professor abandonado e um grupo de adolescentes com demasiado poder, não é de estranhar que tenhamos comportamentos fascistas. Em bando, todos nós podemos virar matilha.”


“O esvaziamento do ensino numa era democrática beneficia quem tem dinheiro para colocar os filhos a estudar noutros estabelecimentos.”

Com estes pressupostos facilmente verificáveis todos os dias no terreno, a escola, que deveria ser o lugar por excelência do ensino/ aprendizagem, como bem disse Tiago Brandão Rodrigues na televisão, é uma utopia.
Com a escola pública que temos na realidade, indisciplinada, burocratizada e disfuncional, a interrupção das atividades letivas “e não letivas”, ordenada pelo Governo da República Portuguesa, é como um daqueles males que vêm por bem, pois se, por um lado, pouco ou nada prejudica as reduzidas “aprendizagens essenciais”, que já são muito menores do que os antigos objetivos mínimos, e contribui para retardar a disseminação do coronavírus pela população, por outro lado, vem libertar muitos professores e alunos de um ambiente esquizofrénico, como é o das escolas onde os professores devem cumprir burocracias, em vez de ensinar, e os alunos devem ter boas notas, em vez de aprender!

Anónimo disse...

Só não concordo com a culpa que Rui Zink atribui a Maria de Lurdes Rodrigues porque tem sido uma situação que se tem arrastado desde há muito tempo. Foi cruel e injusto com a ex ministra.No respeitante à queda de qualidade da escola em que os ricos procuram alternativas pode-se culpar mais a esquerda do que a direita disso.

Anónimo disse...

A Professora Doutora Maria de Lurdes Rodrigues é de extrema-esquerda. Se tivesse estado mais dois ou três anos no poleiro, ela, que sabia como ninguém o que "é bom para eles (professores)", teria feito, de todos os velhinhos educadores de Infância e primários, professores titulares, que haveriam de pôr nos píncaros da lua o ensino e a "melhoria das aprendizagens" .

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