quinta-feira, 26 de março de 2020

A polémica sobre os computadores nas escolas

Breve introdução: Numa altura de ondas alterosas da actual pandemia virótica, assiste-se a pessoas a surfar em ondas alterosas para chegarem à praia de um ensino não presencial justificável em tempos de crise de contágio pelo coronavírus. O meu receio reside em que, descida a ponte levadiça da crise, venham elas a tentar aproveitarem-se desta situação anómala. A bem do ensino, farei tudo que estiver ao meu alcance, habituado que estou a pugnas desportivas, para que esta discussão decorra com “fair-play” e elevado espírito crítico que  alunos, pais e  possíveis leitores merecem.

“Alea jacta est”, transcrevo este meu post publicado neste blogue, com o título em epígrafe (21/10/2008), que transcrevo: A polémica sobre o “Magalhães” está longe de ter chegado ao fim. Todos os dias são publicados estudos sobre a utilização dos computadores na escola. No meu último post, “Magalhães e obesidade” debrucei-me, apenas, sobre o uso desta tecnologia em crianças do 1.º ciclo do ensino básico (antiga instrução primária), tendo apresentado estudos nacionais e estrangeiros que suportam os seus malefícios no desencadear e agravamento da obesidade.

Num dos comentários ao meu texto, foi levantada a seguinte questão: “Estou a perder dotes de ortografia com os correctores automáticos (…)”. Pelo seu interesse, mereceu-me a seguinte resposta: ”Falemos, então, do corrector de texto. Numa perspectiva hedonística de ensino tem vantagem evidente sobre os maçadores ditados do meu tempo de escola primária. Mas como é hábito dizer-se, o que arde cura. Fazendo a transferência para a aprendizagem quando ela é feita com esforço perdura; o que se aprende facilmente entra por um ouvido e sai pelo outro”.

Neste mesmo blogue perspectivei outras questões, de natureza cognitiva, num post intitulado “A entrega de portáteis nas escolas”. Nessa altura, não se tratava da “oferta” de “Magalhães” a alunos 1.º ciclo do ensino básico, mas de computadores mais sofisticados a estudantes do ensino secundário a preço de saldo e com idêntica pompa e circunstância da presença do “staff” governamental. Sobre o perigo do uso dos computadores, escrevi o seguinte: “Pesquisar na Net pode ser uma arma de dois gumes: pode pesquisar-se o que se deve e o que não se deve, pondo nas mãos dos jovens essa triagem e essa responsabilidade num período da vida escolar deveras perigoso porque marca a transição de um ensino básico permissivo para um ensino secundário que se tem sabido manter firme no seu exigente papel de antecâmara do ensino superior”.

Numa notícia da Agência Lusa, de 17 de Outubro deste ano, foi divulgado um estudo que envolveu mais de 500 crianças e encarregados de educação de escolas da Grande Lisboa, apresentado na “II Conferência Anual da Entidade Reguladora Para a Comunicação Social”, decorrida em Lisboa. Segundo ele: “11,1% dos jovens inquiridos confessaram que usam a Internet para visitar sites pornográficos”. Entretanto, também aí é acrescentado que “84,1% dos pais acredita que os filhos o fazem para procurar informação”.Os resultados deste estudo são reforçados por um outro, revelado em Setembro deste ano, e intitulado “Projecto Kids Online”, que informa que “Portugal, é a par da Polónia, o único em 21 países europeus onde os pais portugueses menos conhecem o que os seus filhos fazem on-line”.

Mas há mais. Assim, recordo o que escrevi sobre a entrega de portáteis na escola: “As horas que deviam ser dedicadas ao estudo correm o risco de se transformarem em ‘conversas da treta, com os colegas”. Confirma-nos agora o último estudo: “Na utilização da Internet, as crianças respondem que o fazem para conversar e ouvir música.
 
Penso que ambos, os estudos da Grande Lisboa e o do “Projecto Kids Online”, podem servir de tira-teimas à acalorada polémica sobre computadores no ensino, ainda que eu deduza que  a procissão ainda vai no adro da igreja.”

Confirma-se, assim, que ainda há-de correr muita água debaixo da ponte até que se chegue a um consenso acerca desta matéria que deve ser discutida na paz do Senhor, nunca em época em que o ensino se tem de adaptar ao indesmentível facto de as vidas humanas estarem em grande perigo, quer sejam letradas, assim-assim ou iletradas.

Como aprendi, em meus tempos de serviço militar, não se limpam armas em  tempo de guerra. Agora a guerra é contra um inimigo que se chama pandemia e que ceifa vidas sem arvorar a bandeira branca da rendição.

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