quarta-feira, 25 de março de 2020

O corredor da morte

Crónica de Santana-Maia Leonardo no jornal As Beiras de hoje:

Já estive, por duas vezes, no corredor da morte e, por duas vezes, a Vida foi condescendente comigo, ao contrário do que sucedeu com a minha sobrinha por quem não teve qualquer misericórdia, apesar de ser bastante mais nova do que eu. Tudo isto para dizer que, fazendo eu parte do grupo de risco à COVID-19, não me posso queixar se a Vida não me amnistiar de novo.

 Devo confessar, no entanto, desde já, a minha absoluta ignorância relativamente a uma matéria sobre a qual a esmagadora maioria dos portugueses evidencia sinais de enorme sabedoria, a fazer fé na convicção com que se expressa nas redes sociais, ainda que com muitos erros de ortografia e de gramática.

Aristóteles, Edmund Burke, Einstein e Karl Popper, meus professores à distância, ensinaram-me que o ignorante tem certezas onde o sábio tem dúvidas. Por isso, é sempre bom ouvir os conselhos dos ignorantes que são os únicos que verdadeiramente sabem de tudo e mais alguma coisa. E é isso precisamente que eu faço, ainda que, por espírito de contradição, nunca siga os seus conselhos.

Aliás, em qualquer circunstância (boa ou má), tenho sempre presente a parábola do Mestre Zen. Quando alguém o procurava para lhe dar conta da sua alegria (“Mestre, veja a sorte que eu tive! O meu filho fez anos e deram-lhe um cavalo!”) ou de uma desgraça (“Mestre, veja a grande desgraça que me aconteceu! O meu fi lho caiu do cavalo e partiu uma perna!”), o Mestre Zen, na sua imensa sabedoria, a todos respondia: “Veremos!”.

Ora, como ensina o mestre Zen, muitas vezes são os acontecimentos, as circunstâncias e as decisões que aparentemente parecem ser as piores, como é o caso da queda do cavalo, que acabam, a curto ou médio prazo, por se revelarem excelentes (por ter partido a perna, o filho já não foi chamado para a guerra que, entretanto, rebentara) e vice-versa.

 E há uma regra que me habituei a seguir que raramente falha: quando a maioria dos portugueses, hoje tão bem representada por Marcelo Rebelo de Sousa, defende convictamente uma solução, eu desconfi o dela... (“Veremos!”, como diz o Mestre Zen). No entanto, em situações de “alerta vermelho”, como é o caso, respeito sempre a cadeia de comando, como aprendi no serviço militar, apesar de saber que o “espírito de corpo” é um conceito desconhecido por estes lados.

1 comentário:

Iris Zoom disse...

Tirando dúvidas: O COVID 19 não tem cura - não há vacina e não há tratamento. Cada qual com o vaso que tem, mais a respetiva capacidade de imunidade. Espero ter um corpo cientificamente sábio cheio de placebo curador se ou quando me tornar viral.
O "veremos" é o conceito mais lógico para responder à imprevisibilidade, pois em situações de extrema gravidade caótica, prefiro um ignorante a responder "não sei" (fundamento do "veremos" Zen) do que um sábio a dizer o que não é, é, ou nem é e depois desmentir as três versões.
Os medicamentos ministrados são os anti-malária, sendo que o vírus não é o da malária, nem temos esses medicamentos. Paracetamois e antibióticos também não servem. Resta-nos os tubos paliativos que não há em número suficiente e parece que a escolha vai para os mais novos, com médicos infetados na viragem do frango, 13 a 16 vezes por dia.
Se não for isto, há de ser o vírus da economia que todos iremos contrair por muitos e longos anos, de bolsos vazios, empresas fechadas e casas devolutas.
Sei lá! Talvez o amor.

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