terça-feira, 24 de março de 2020

Uma foto. Uma rede social. Uma hashtag

A notícia é do jornal Público online, não é da sua antítese, o Inimigo Público (os destaques são meus).
Ministério da Educação quer ver fotografias [dos] alunos a partilharem fotos dos ambientes de estudo em casa.
O desafio, explica o jornalista, Daniel Dias, integra-se nas celebrações do Dia Nacional do Estudante, que é hoje, 24 de Março.
... o Governo lança-lhes o desafio: partilharem nas redes sociais, com a etiqueta #EstudoEmCasa, uma fotografia no seu novo e provisório ambiente de estudo.
A ideia é criar "um movimento nacional de motivação” 






Sim é verdade: no sítio do Governo consta, com data de ontem, o seguinte Comunicado à Imprensa (aqui): 
"Por força das medidas de contingência provocadas pelo surto epidemiológico causado pelo novo coronavírus, a comunidade em geral, e as escolas em particular, atravessam um momento ímpar na organização dos seus processos de ensino-aprendizagem. 
De facto, a escola mudou-se para casa por uns tempos. Mas a vontade de aprender e de estudar deve ser estimulada por todos. 
Uma foto. Uma rede social. Uma hashtag 
(...) o Ministério da Educação vem desafiar os mais novos a partilharem imagens a estudar na sua sala de aula provisória. A ideia é que, esta terça-feira, os alunos ou encarregados de educação partilhem nas suas redes sociais uma foto em casa, em ambiente de estudo, e coloquem a hashtag #EstudoEmCasa, criando um movimento nacional de motivação para que alunos, famílias, docentes, não docentes e escolas prossigam esta caminhada, num ano letivo que, inesperadamente, já tem contornos diferentes do habitual. 
Esta é também uma forma de os alunos reconhecerem o trabalho dos seus professores. As fotografias espalhadas pelas redes sociais serão compiladas na página de instagram (...)
A seguir o Ministério assegura que 
"(...) apenas serão partilhadas as que não identifiquem o aluno e/ou a sua localização."
Tanto quanto parece, os pais têm correspondido, havendo já quase oitenta publicações, que asseguram, mais ou menos, o anonimato. O mínimo que se pode esperar em termos de protecção dos menores.

Mas a questão vai muito além da semi-protecção da identidade da crianças e dos jovens: centra-se na exposição encenada, que, supostamente, desencadeia "motivação" pela aprendizagem. Ora, a aprendizagem escolar nada tem a ver com exposição, nem com a publicitação do acto de aprender; é um acto de interiorização que requer acompanhamento próximo, mesmo que ele, por razões indesejáveis como a que estamos a viver, tenha de ser feito à distância, mas sob orientação de quem conhece os alunos e os sabe ensinar.

Este vírus há-de passar, mas a aprendizagem da exposição indiscriminada do "eu", até no reduto privado que é o do estudo em casa, fica.

3 comentários:

Rui Baptista disse...

A propaganda política, desde os tempos do Estado ovo, sempre foi desígnio em Portugal. Renasce ela, agora, sob a batuta do Partido Socialista, com as criancinhas, em lares sem paredes, retratadas e em recato, agarradas aos livros. Que falta de imaginação senhor ministro da Educação! Só faltas pô-las a cantar o hino do Partido Socialista!

Rui Baptista disse...

Estado ovo não; Estado Novo, sim!

Abraham Chevrolet disse...

Não sejam ridículos!
Para alguns,as crianças ficam mal em casa,na rua, na praia,no campo,etc.,etc,...
Só ficam bem,quietas,caladas e sentadas,na sala de aula !!!
Como vos enganais!
Ninguém nos consegue ensinar o que não sabemos...

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...