domingo, 22 de março de 2020

TRÊS POEMAS DE HANS MAGNUS ENZENSBERG


Como ontem foi Dia Mundial da Poesia, deixo três pequenos poemas do poeta alemão, que tão bem sabe ligar literatura e ciência, muito bem traduzidos por outro poeta, Alberto Pimenta, do livro "66 Poemas" de H.M. Enzensberger  (Edições do Saguão, 2019). Há coisas que a ciência não consegue dizer, mas que a ciência diz muito bem:


Dado o caso

Escolhe entre os erros,
que tens à tua disposição,
mas escolhe certo.
Talvez seja errado
fazer o que está certo
no momento errado,
ou esteja certo
fazer o que é errado
no momento certo?
Um passo ao lado,
impossível de corrigir,
O erro certo,
uma vez desaproveitado,
não é fácil que volte a surgir.

Interferência

Esperança seria dizer muito,
mas quando por sobre as aldeias destroçadas
aparece um duplo arco-íris,
durante minuto
seles baixam as facas
e ficam a olhar, a ver como,
ante os olhos raiados,
ele vai lentamente desaparecendo.

O sabonete

Que orgulhoso, que activo no início
o seu aroma! Por quantas mãos passou,
que desinteressado serviu, e de cada vez
lá ficava a sujidade. E eles sempre imaculado.
E assim consumindo-se, mirrando,
sem se dar por ela, já muito fino,
quase transparente,
ate que uma manhã
acabou por desaparecer,
não ficou nada.

HANS MAGNUS ENZENSBERG

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