Norberto Pires, cuja militância no PSD é conhecida, faz hoje no jornal As Beiras uma análise da política de Nuno Crato. Vale a pena ser conhecida de todo o país, pelo que a transcrevemos aqui com a devida vénia:
As alterações no sistema
educativo e no ministério da
Educação que Nuno Crato
defendia antes de ser ministro da
Educação, dos quais excluo neste
artigo o ensino superior, centravam- se
em três vertentes essenciais: as
escolas, os professores e os alunos.
Quando as apresentava Nuno Crato
tinha normalmente larga percentagem
de aprovação por parte de
quem o ouvia ou lia. Por isso foi sem
surpresa e com agrado que a generalidade
do país, incluindo a comunidade
educativa, recebeu a notícia da
sua nomeação para ministro. Todas
as medidas propostas tinham como
ideias centrais a credibilização do
ensino e dos professores, o reforço
de autoridade, a necessidade de
avaliação rigorosa, o reforço de
autonomia e a responsabilização
de todos os agentes envolvidos no
processo educativo.
Nas escolas, dizia Nuno Crato, seria
necessário estabelecer e alargar
a autonomia, revendo o modelo
de contratualização, deveriam ser
lançados concursos públicos para
contratualizar a oferta privada em
situações de carência ou ruptura da
rede de ensino público, a gestão da
Educação deveria passar em grande
medida para a esfera das câmaras
municipais realizando um novo
modelo de delegação de competências
e o ensino privado deveria
ver reforçado o seu funcionamento
através de uma política de contratos
de associação coerente. Relativamente
aos professores as medidas
eram também muito ambiciosas
e centravam-se na simplificação
do estatuto da carreira docente,
na seleção inicial dos professores
realizando uma prova de seleção,
na reforma do modelo de avaliação
dos professores tornando-o menos
burocrático, na necessidade imperiosa
de valorizar profissionalmente
os docentes, através de ações de
formação bem desenhadas, e no
reforço da sua autoridade e estatuto
social. Relativamente ao alunos,
Nuno Crato defendia a generalização da avaliação nacional com provas
no 4º ano, nos finais de ciclo no
6º e 9º anos e exames nacionais no
11º e 12º anos, reforço do ensino do
Português e da Matemática, reforma
curricular para reduzir a dispersão
de matérias no 3º ciclo, reforma
do Programa Novas Oportunidades
no sentido de melhorar a sua
credibilização, avaliação e reforma
das atividades de enriquecimento
escolar e promoção da qualidade do
Ensino. Relativamente à estrutura
e funcionamento do ministério da
Educação, Nuno Crato defendia uma
grande reforma chegando a dizer
que era necessário “implodir o ministério”
e, eventualmente, começar
tudo de novo: “O ministério é uma
máquina gigantesca que se acha
dona da Educação em Portugal. Eu
quero acabar com isso”, disse Nuno
Crato durante a apresentação do
programa do Governo em 2011.
A verdade é que apesar de ter
realizado grande parte destes objetivos,
Nuno Crato tem uma imagem
muito negativa na comunidade
educativa e, aparentemente, não
vê reconhecidos os méritos daquilo
que fez durante a sua passagem
pelos ministério da Educação. E um
bom exemplo disso é a forma como
se envolveu em polémicas com
diretores de escola, professores e
alunos. Para mim é bem significativo
disto tudo o caso recente da prova
de avaliação de professores contratados.
Perante os maus resultados,
Nuno Crato afirma no parlamento
que “não faz sentido nenhum que
um professor dê 20 erros de ortografia
numa frase”. Claro que não
faz sentido nenhum, até porque não
é possível. O que não faz sentido é
que o ministro da Educação não perceba
que não pode dizer isso dessa
forma, pela simples razão que ao
dizê-lo lança a vergonha sobre todos
os professores, lança a inaceitável desconfiança sobre uma classe
a quem Portugal deve tudo, ofende
todos os professores e comete uma
injustiça do tamanho do universo. E
com isso compromete os objetivos
que definiu como essenciais para a
Escola e para os Professores, desde
logo o reforço da sua autoridade e
estatuto social, mas também tudo o
que se relaciona com avaliação e autonomia
que dependem fortemente
de uma classe profissional valorizada
e respeitada. É uma declaração
muito infeliz que coloca em causa
todos os objetivos definidos no início
do mandato, pois uma declaração
deste tipo demonstra incapacidade
para gerir pelo exemplo a “máquina
gigantesca” que é, de facto, o ministério
da Educação e, acima de tudo,
contribui para diminuir a autoridade
dos professores ridicularizando a
sua imagem perante o país.
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1 comentário:
Obrigado Prof. Norberto Pires.
Um texto de 5 estrelas.
Remetendo-o, talvez um pouco abusivamente, para o comentário que deixei no post acima deste (acerca do artigo de Vasco Pulido Valente), diria que trata da floresta em vez de se fixar na árvore.
É que as florestas têm muitas árvores, ao contrário do que algumas pessoas pensam.
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