domingo, 2 de dezembro de 2012

"Eu nunca fiz qualquer referência a essa matéria"

A realidade política em que vivemos manifesta evidentes "traços esquizofrenizantes". É o paradoxo a tomar a dianteira, acarretando falta de sentido e, em consequência, de rumo. Quem constrói essa realidade (trata-se, efectivamente, de "construção", com toda a pujança pós-moderna que a palavra possui) sabe bem o que faz.

E o que faz é distorcer, baralhar, iludir... sendo que, em simultâneo ou com um ligeiro desfasamento temporal, afirma convictamente que são aqueles a quem o seus discursos e actos se destinam, que distorcem, baralham, criam ilusões.

Quanto mais segurança os primeiros imprimem às suas palavras mais inseguros ficam os segundos do seu entendimento. As mistificações criadas pelos primeiros são depressa assumidas pelas segundas. A estratégia é antiga na condução das relações humanas, e isto em pequena ou grande escala.

A recente sugestão do mais alto responsável governamental de que o ensino obrigatório público seria co-financiado pelas famílias e que agora nega com veemência, sublinhando que "nunca fez referência a essa possibilidade", é (lamentavelmente) apenas (mais) um exemplo.

Atentemos nas palavras desse responsável reproduzidas aqui: "Em primeiro lugar, eu nunca fiz qualquer referência a essa matéria e posso mesmo dizer que isso nem tem qualquer sentido (...) Não é possível, em termos de ensino obrigatório, criar taxas dessa natureza".

Na verdade, eu poderia ter ouvido mal, interpretado mal, o que é estranho é que a interpretação de tanta gente tivesse coincidido com a minha.

5 comentários:

Anónimo disse...

De Passos Coelho já espero tudo. Que, num dia, acorde a dizer que não vai aumentar os impostos, sobretudo se esse dia tiver ocorrido antes das últimas eleições legislativas e que, no dia a seguir, depois de se apanhar no poleiro, venha dizer exactamente o contrário do que anteriormente tinha dito.Passos Coelho já deu sobejas provas de não perceber nada de controlo de finanças públicas e agora veio mostrar que também andou com as ideias pouco assentes em matéria de Direito Constitucional. Por mim, noto-o cada vez mais parecido com José Sócrates, ao falar para os portugueses com uma desfaçatez e uma ligeireza arrepiantes.

Joachim disse...

O Doutor Relvas ensina-o bem.

Anonymus disse...

Um verdadeiro troca-tintas sem um pingo de vergonha na cara e, ainda por cima, com um ar sério de pessoa cordata, educada e de palavra.
Um Sócrates ainda mais refinado, porque não tão irritante no verbo.

O “diz que não disse” habitual de Passos Coelho

«Já ouvi o primeiro-ministro dizer que o PSD quer acabar com o 13.º mês, mas nós nunca falámos disso e é um disparate» http://ow.ly/4raW9

«Numa altura em que se estão a fazer tantos sacrifícios, seria imoral rever as condições de remuneração de titulares de órgãos públicos.»

«O PSD chumbou o PEC 4 porque tem de se dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento.»

«Para salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS de modo a desonerar a classe média e baixa» http://ow.ly/4R4Rg

«O aumento de impostos previsto por este Governo no documento que assinámos com a UE e o FMI é mais do que suficiente» http://ow.ly/4S4Hw

«Fica o compromisso expresso de que o PSD não afectará as pensões mais degradadas ou as reformas como previa o PEC» http://ow.ly/4lAeo

«O primeiro-ministro critica-nos por dizermos que vamos fazer aquilo que ele assinou, que é baixar a TSU. É uma esperteza saloia.»

«É uma tragédia o estado a que o nosso estado social tem chegado. Precisamos de novas políticas activas de emprego» http://ow.ly/4XjjJ

«Se continuássemos a empurrar os cortes na despesa com a barriga desta forma, acabaríamos o ano com mais mil milhões de euros de défice real.»

«Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos.» http://ow.ly/57C08

Anónimo disse...

Eloquente a postura de troca-tintas do seráfico Passos Coelho. Em qualquer país menos " porreiraço" do que o nosso, já se tinha suscitado a ilegalidade do actual Governo e não apenas a sua ilegitimidade. Será legal um governo que pratica exactamente o contrário do que o PSD e o CDS, sua base parlamentar de apoio, andaram a apregoar durante o período eleitoral ? Não estará o seu mandato governativo ferido de um patente desrespeito pelas promessas feitas aos eleitores ? E será isso legal ?

Agostinho disse...

Esse senhor anda a mangar com os portugueses.
Falta saber se o que diz é o que pensa, se pensa o que diz, ou se diz apenas aquilo que lhe mandam dizer (o mais provável).
Qualquer que seja a opção, parece-me não ter classe para ocupar o cargo em que está "democraticamente" investido.
O comportamento humano assenta essencialmente na imitação do outro, no exemplo do superior e há gente no governo que dá péssimos exemplos, a começar pelo primeiro. Assim, não será de espantar que os portugueses passem a ser um povo de mentirosos compulsivos, para não falar noutros pecados.

AJ

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