domingo, 16 de dezembro de 2012

Tão agreste é o meio...

Os dados do mais recente Inquérito Nacional em Meio Escolar, realizado pelo ex-Instituto da Droga e Toxicodependência (agora denominado Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e de Dependências), divulgados no passado dia 18 de Outubro, indicam um aumento importante de tabaco, álcool e drogas entre as crianças e jovens. Admitindo a sinceridade dos respondentes, resta-nos reconhecer o problema como grave.

Assim sendo, na retórica social há muito instalada, atribui-se à escola a (maior) responsabilidade na sua resolução. Não me admirei, portanto, quando, num recente programa de televisão sobre saúde, profissionais de várias áreas, em perfeita sintonia, afirmavam isto mesmo. E insistiam na estratégia que tem sido usada: dar mais e mais informação aos alunos...

Dar informação sobre perigos, males, horrores, doenças, morte, decadência... é a estratégia que se elegeu e que depressa passou para o currículo formal e informal. Desde o início da educação pré-escolar até ao final do ensino secundário, está  presente, simultaneamente, em várias disciplinas, componentes curriculares, projectos...

É errada e é demais! Relembro as palavras de Sam Pickering: em vez de tornamos os alunos mais sensíveis, maçamo-los. E, acrescento eu, aterrorizamo-los.

A mensagem que pretendemos que integrem como lema da sua vida não chega a afectá-los. Nem poderia... tão agreste é o meio.

8 comentários:

José Batista disse...

É.
A escola há-de resolver tudo.
Principalmente o efeito (permanente) dos maus exemplos em casa e na rua e, muito especialmente, nas cúpulas do(s) poder(es), de qualquer tipo.
E, obviamente, não resolve. Porque não pode.

Unknown disse...

Helena Damião,

De vez em quando lei os seus textos e há neles uma peculiaridade que me confunde, raramente se percebe que pretenda defender claramente qualquer ponto de vista, optando normalmente por se limitar a enunciar objecções a qualquer coisa, muitas vezes de um modo algo ambíguo. Como neste texto onde apenas critica atribuir-se maior responsabilidade à escola (por ser supostamente ineficaz). Mas nada propõe quanto ao suposto problema, na acrescenta. Mas ainda assim este nem é dos seus textos mais ambíguos.

Lembro-me de, há algum tempo, ter lido um texto, onde abordava o tema da pedagogia, em que citava uma antropóloga americana, que defendia um determinado ponto de vista sobre pedagogia, que agora não vem ao caso. O curioso e bizarro da citação é que, em vez de citar um livro dessa antropóloga (talvez "Crescer em Samoa" de Margaret Mead), citava uma citação de um livro de Benjamin Wilker, "Os dez livros que estragaram o mundo - E mais 5 que também não ajudaram nada".

Eu, na altura, quando li esses texto, fiquei apenas um pouco chocado e achei que, se calhar, estava apenas a ser irónica e não liguei muito.

Dessa vez, facto ainda mais curioso, é que havia um link (de alguém que tinha lido o seu texto e citava a sua citação do tal texto sobre pedagogia de Margaret Mead), dando como autor da citação Benjamin Wilker. O que eu achei fantástico uma vez que claramente para Benjamin Wilker o trabalho e as ideias eram terrivelmente nefastas para a humanidade (daí ser um dos livros que estragaram o mundo a par de outros como o "Mein Kampf de Hitler ou o "Manifesto do Partido Comunista" de Marx e Engels). Confesso que fiquei atónito. Confesso que ainda estou chocado, sinceramente não percebo, ainda pensei que talvez você fosse apenas retorcida, mas não, parece-me que apenas gosta de ser ambígua. E continuo a não perceber a sua ambiguidade, continuo perplexo, sempre que leio o que escreve, dou por mim a perguntar, mas o que é que a Helena Damião defende? E, não sei, nem se é só problema meu, se calhar é.

Rui Augusto disse...

É isso Helena Damião, 100% no alvo.
Porque será? Acho que este sistema vampírico reino com o medo e a Escola está aprisionada, refém, especialmente os professores, sem tempo para ler, estudar, respirar. É por isso que estou de acordo com o Olavo de Carvalho: http://flautatransversal.blogspot.pt/ (ver no lado direito, sob a imagem "Estudar uma Arte, porquê?")
O que há mais hoje é informação, boa e má, isso não significa que a resolução dos problema se torna mais simples.

Rui Augusto disse...

Bem pelo contrário!!!

Helena Damião disse...

Estimado Leitor Vasco da Gama
O que defendo neste caso em concreto é que:
1. A sociedade não pode imputar à escola a responsabilidade de resolver todos os problemas sociais que ela própria cria e que não quer ou não consegue resolver. O problema dos comportamentos aditivos é um deles;
2. Que as estratégias que têm sido sugeridas à escola e que ela tem aceitado usar para resolver esses problemas passam sobretudo pela repetição de informação assente em consequências nefastas e no medo. O caso dos comportamentos aditivos não é excepção;
3. Os alunos não podem deixar de ficar "fartos" (e sobretudo) indiferentes pelo facto de, ao longo dos anos, ouvirem a mesma coisa, dita da mesma maneira;
4. Há muito que se sabe que essas estratégias não são eficazes, o que está à vista. Os comportamentos aditivos tem-se mantido em certos períodos e aumentado noutros.
5. Seria, pois, tempo de pensar em 1., 2., 3. e 4.
Cordialmente
Maria Helena Damião

Unknown disse...

Cara Helena Damião,

A responsabilidade da educação das crianças é dos pais das crianças e, estas têm direito a assistência por parte do estado, que providência escolas e tudo o mais.

O que é que quer dizer 1. (de que decorre tudo o resto, onde apenas de significativo se tira de 2.-4. é que "isso por si só não chega" e depois): apenas que a escola presta auxilio aos pais, informando as crianças. De resto pode perguntar a si mesma o que é que decorre dessa dita responsabilidade para a escola, se quiser auxilio-a com a resposta nada. E quem é que sofre com os resultados (ou a ausência de resultados) das diligências da escola, a criança, os pais e a sociedade em geral.

Eu nem percebo o que é que quer dizer com "responsabilidade da escola", está a referir-se a que exactamente, a uma definição abstracta de responsabilidade, a acções que os professores tenham de desempenhar (ou seja trabalho), continuo sem perceber qual é o problema, ou está apenas a referir a ineficácia do trabalho que se faz na escola. O que é que pretende, que alguém diga que a escola não tem nada a ver com o assunto (os pais e o estado que resolvam o problema, que não é da responsabilidade da escola)? É isto?

Fernando Caldeira disse...

Embora ninguém possa cumprir as regras de trânsito se não as conhecer, também não é pelo facto de as conhecer que passa a cumpri-las. Do mesmo modo, ninguém faz separação do lixo para reciclagem por que conhece as consequências nefastas de não o fazer, nem mesmo por ser formado em ecologia. Estas e outras questões semelhantes vão muito além do conhecimento que se tem sobre os assuntos.
A Escola tem naturalmente um papel a desempenhar nestas questões, mas, pelas razões apontadas, não se pode limitar a dar informação e formação científica aos alunos, nem estar isolada nesta e noutras tarefas. Por isso a crise que atravessa a Escola hoje não se pode compreender desligada da crise geral que as nossas sociedades atravessam e que é também (ou sobretudo) uma crise de valores. Aliás, qualqquer discussão sobre o papel da Escola não pode ser separada do tipo de sociedade que pretendemos ou estamos a criar.

Anónimo disse...

Crise de valores tornou-se um slogan vazio, os links recomendados pelo comentário de Rui Augusto revelam quase tudo, essa crise tem rosto e responsáveis, basta ouvir aqui até ao minuto 33'11''

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