Um certo Secretário de Estado havia "descansado" o país, assegurando que o Governo estava a fazer chegar "reforço alimentar" a alguns desses alunos. Inferi eu que era o próprio Governo que, na impossibilidade de as famílias proporcionarem alimento aos filhos, assumia a responsabilidade de o fazer. Afinal, sem ser paternalista, compete-lhe, em primeira e última instância, garantir a protecção dos menores.
Inferi mal, pois soube agora que esse senhor esclareceu, em sede parlamentar, que o Ministério a que pertence se encontra apenas ("apenas", é expressão minha) “a gerir um projecto que nasce da vontade da sociedade civil”: empresas dão os alimentos, o Estado gere-os. É essa, em rigor, a função do Estado nesta calamidade.
Sem provavelmente estremecer, o dito Secretário "voltou a frisar que [o tal "reforço alimentar] não representa qualquer despesa" para o orçamento. Eis um Estado, que não cumprindo o que, politica e moralmente, tem por obrigação cumprir, apresenta o não cumprimento como uma proeza digna de realce e exortação.
3 comentários:
Muito chocante o que está a acontecer em Portugal.
O estado (com minúscula) português comporta-se de forma chocante em vários aspetos.
Eu, desde há alguns anos a esta parte, passei a ter muito mais medo do estado do que dos ("habituais")... ladrões.
Mas o estado são pessoas. Pessoas em certas funções. Com determinados desempenhos e ações. E com vencimentos e reformas, múltiplos e desproporcionados. E impunes. E arrogantes. Como se não lhes bastasse a frieza das intenções, a indiferença perante a miséria dos fracos e a satisfação opulenta do seu conforto.
É mau, o nosso estado. E está em mau estado. E deixa-nos em péssimo estado.
Porém, o problema maior é que o estado também somos... nós.
Fizemo-lo. Temo-lo.
E sofremo-lo.
De capaz quem, com corda laça orca.
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