"Portugal é um país em que tudo tende à ruína num país em ruínas" (Eça de Queiroz, 1845-1900).
Sem comentários, transcrevo, com a devida vénia, esta
excelente análise de Bagão Félix, publicada no Jornal de Negócios (30/11/2012):
O conselheiro
de Estado Bagão Félix criticou hoje a discussão política do Estado social,
considerando-a "estúpida" e "fácil" por atingir "pessoas
que não têm possibilidade de erguer a sua voz", como os idosos, os
desempregados ou os doentes."
"O Estado
social discute-se porque é a parte do Estado que tem mais a ver com as pessoas
que são velhas, reformadas, desempregadas, estão doentes, estão sós, têm
incapacidades, pessoas que não têm voz, não têm 'lobbies', não abrem
telejornais, não têm escritórios de advogados, não têm banqueiros", disse
o conselheiro, na abertura de uma conferência sobre a crise promovida hoje, em
Lisboa, pela Fundação Liga.Para Bagão Félix, a vulnerabilidade destas pessoas é
que faz com que seja "relativamente fácil" discutir esta reforma, que
na sua opinião está a ser conduzida de uma forma "estúpida" porque é
colocada como se fosse uma questão de estar a favor ou contra essa reforma do
Estado social, quando "infelizmente o filme não é a preto e branco",
mas tem coloridos.
"Custa-me ver a discussão sobre a sustentabilidade do Estado social, quando não vejo ser discutida a sustentabilidade das outras funções do Estado", afirmou, salientando que não se assiste a discussões sobre a sustentabilidade das infra-estruturas do Estado ou das Forças Armadas.
"Custa-me ver a discussão sobre a sustentabilidade do Estado social, quando não vejo ser discutida a sustentabilidade das outras funções do Estado", afirmou, salientando que não se assiste a discussões sobre a sustentabilidade das infra-estruturas do Estado ou das Forças Armadas.
Bagão Félix
criticou ainda o uso do princípio da subsidiariedade em Portugal, para dizer
que é "constantemente pervertido": "Temos uma sociedade muito
condicionada e subsidiada junto do Estado e isso reduz a nossa capacidade de
autonomia, de prevenção, de conseguirmos resolver os problemas por nós
próprios, sem sempre nos socorrermos do Estado".
4 comentários:
Bagão Félix fala agora também contra os banqueiros, mas não foi este mesmo Bagão Félix quem já ocupou posição de destaque no BCP ? Só agora se lembrou de fazer este discurso sobre o estado social ? Nunca antes se lembrou das gritantes disparidades fiscais entre o Trabalho e o Capital ? Só agora, e ainda bem, vale mais tarde do que nunca, é que se lembrou de fazer o discurso, ética, social e politicamente correcto ?
Só agora? Claro viu a casa a arder...
Da "Carta Aberta ao Primeiro Ministro de Portugal" (publicada neste blogue, em 10 de Setembro de 2012), transcrevo excertos que, por si só, nos dão a dimensão desumana como é encarada a velhice pelo responsável máximo do actual Governo, Passos Coelho. Subscreveu-a o académico e ensaísta Eugénio Lisboa, uma voz do Mundo da Cultura que merece ser ouvida e, principalmente, meditada:
"Todo o discurso político de V. Exas., os do governo, todas as vossas decisões apontam na mesma direcção: mandar-nos para o cimo da montanha, embrulhados em metade de uma velha manta, à espera de que o urso lendário (ou o frio) venha tomar conta de nós. Cortam-nos tudo, o conforto, o direito de nos sentirmos, não digo amados (seria muito), mas, de algum modo, utilizáveis: sempre temos umas pitadas de sabedoria caseira a propiciar aos mais estouvados e impulsivos da nova casta que nos assola. Mas não. Pessoas, como eu, estiveram, até depois dos 65 anos, sem gastar um tostão ao Estado, com a sua saúde ou com a falta dela. Sempre, no entanto, descontando uma fatia pesada do seu salário, para uma ADSE, que talvez nos fosse útil, num período de necessidade, que se foi desejando longínquo.
.
Chegado, já sobre o tarde, o momento de alguma necessidade, tudo nos é retirado, sem uma atenção, pequena que fosse, ao contrato anteriormente firmado. É quando mais necessitamos, para lutar contra a doença, contra a dor e contra o isolamento gradativamente crescente, que nos constituímos em alvo favorito do tiroteio fiscal: subsídios (que não passavam de uma forma de disfarçar a incompetência salarial), comparticipações nos custos da saúde, actualizações salariais – tudo pela borda fora. Incluindo, também, esse papel embaraçoso que é a Constituição, particularmente odiada por estes novos fundibulários. O que é preciso é salvar os ricos, os bancos, que andaram a brincar à Dona Branca com o nosso dinheiro e as empresas de tubarões, que enriquecem sem arriscar um cabelo, em simbiose sinistra com um Estado que dá o que não é dele e paga o que diz não ter,para que eles enriqueçam mais, passando a fruir o que também não é deles, porque até é nosso".
Que rico Estado Portugal tem. E que ricos governos os portugueses têm tido. Mais parece uma sociedade masoquista nas mãos duns poucos e sadistas qb.
Era decadente e de fugir como o diabo da cruz.
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