Nasa Earth Observatory/NOAA NGDC
Crónica primeiramente publicada na imprensa regional.
“Mais vale acender
uma vela do que maldizer a escuridão.” Carl Sagan
Imemoráveis noites
onde o breu incendiava a contemplação das estrelas e outros corpos celestes.
Ainda não sabíamos
que eram outros sóis, outros planetas, outras luas, outras rochas geladas
transumantes.
Hoje, milénios
depois, podemos contemplar esses mesmos astros com a acuidade visual ampliada e
emprestada pelas tecnologias telescópicas e espaciais.
Hoje, milhões de luas
depois, podemos contemplar a noite a partir do terraço espacial. Comtemplamos a
luminosidade das civilizações. Fruto luminoso da tecnologia electrónica e da
ciência. Contemplamos através de satélites, frutos compósitos da engenharia
aeroespacial, a utilização foteléctrica resultante, de uma ou de outra forma, da
acumulação de energia solar na superfície do planeta durante milhares de
milhões de órbitas ao redor do “astro rei”.
Quem poderia
imaginar que esta luz, com que iluminamos a nossa presença na face nocturna do
planeta, nos dificulta hoje a contemplação da amplitude estelar do Cosmos?
A luz da humanidade
noctívaga ofusca o olhar de se aninhar no brilho das estrelas inalcançáveis, antigo
alimento de sonho, norte dos caminhos a descobrir.
Nasa Earth Observatory/NOAA NGDC
Iluminamos os caminhos
terrestres e hoje já só quase vemos as estrelas com os “pés” no miradouro
extraterrestre, lá em cima onde o ar rareia.
Hoje, vemos
tecnologicamente mais longe no tempo e no espaço. Mas já não temos espaço sem
luz, para viajarmos com tempo neuronal pelas estrelas de outros mundos.
Não deixa de ser
irónico que só nos lugares da Terra não desenvolvidos ocidentalmente, nas
terras onde a fome é o pão nosso de cada dia, não deixa de ser irónico que esse
esgar de sobrevivência contínuo, em que a sede escorre pela roupa dos ossos
obscurecidos pela modernidade, seja alimentado pela contemplação do Cosmos e só
com a esperança de que o dia amanheça… Acorde mais perto de alguma
solidariedade, de uma humanidade iluminada por uma vela que a afaste da escuridão
ignorante e do desdém da hipocrisia fraterna.
Ao olhar para a
árvore de Natal iluminada, sinto que mais vale contemplar um estrela na
escuridão do que iluminar a vã ignorância.
António Piedade
4 comentários:
Um poema de Natal, bem vistas as coisas.
Sentido. E com sentido, como às vezes parece não haver...
Sabe bem, não obstante navergarmos num mar de "hipocrisia fraterna". Ou talvez por isso.
Bem haja.
Sabiam que no planeta escurecido, nas terras de Portugal, nas muitas aldeias da serrania da Beira Alta e Trás-os-Montes, aquelas que receberam os geradores eólicos, grassa a escuridão absoluta em noites sem lua cheia? Entre as 2h e as 5h, pelo menos, na verdade reina a escuridão medieval, aguardo o uivo dos lobos que a ladroagem tem a tarefa facilitada. Com ironia, vemos o preço da electricidade a aumentar. Mais uma patranha verde foi plantada no coração da nação, vende à borla para Espanha e compra-se depois a preço (in)justo.
Latente
A linha concebe,
passo ao infinito,
a luz, o perito.
Suave é a mansidão
no chão a luz, reluzente
em rama oh'nascente!
És poente,
um lar sem escuridão
e, lição lá freqüente,
ser gentil,
ser gente em útil, potente;
razão a serena razão, lente.
Meu caro
Um aplauso sentido. Obrigado pela partilha.
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