segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O PLANETA ILUMINADO

Nasa Earth Observatory/NOAA NGDC

Crónica primeiramente publicada na imprensa regional.


Mais vale acender uma vela do que maldizer a escuridão.” Carl Sagan

Imemoráveis noites onde o breu incendiava a contemplação das estrelas e outros corpos celestes.

Ainda não sabíamos que eram outros sóis, outros planetas, outras luas, outras rochas geladas transumantes.

Hoje, milénios depois, podemos contemplar esses mesmos astros com a acuidade visual ampliada e emprestada pelas tecnologias telescópicas e espaciais.

Hoje, milhões de luas depois, podemos contemplar a noite a partir do terraço espacial. Comtemplamos a luminosidade das civilizações. Fruto luminoso da tecnologia electrónica e da ciência. Contemplamos através de satélites, frutos compósitos da engenharia aeroespacial, a utilização foteléctrica resultante, de uma ou de outra forma, da acumulação de energia solar na superfície do planeta durante milhares de milhões de órbitas ao redor do “astro rei”.

Quem poderia imaginar que esta luz, com que iluminamos a nossa presença na face nocturna do planeta, nos dificulta hoje a contemplação da amplitude estelar do Cosmos?

A luz da humanidade noctívaga ofusca o olhar de se aninhar no brilho das estrelas inalcançáveis, antigo alimento de sonho, norte dos caminhos a descobrir.

Nasa Earth Observatory/NOAA NGDC


Iluminamos os caminhos terrestres e hoje já só quase vemos as estrelas com os “pés” no miradouro extraterrestre, lá em cima onde o ar rareia.

Hoje, vemos tecnologicamente mais longe no tempo e no espaço. Mas já não temos espaço sem luz, para viajarmos com tempo neuronal pelas estrelas de outros mundos.

Não deixa de ser irónico que só nos lugares da Terra não desenvolvidos ocidentalmente, nas terras onde a fome é o pão nosso de cada dia, não deixa de ser irónico que esse esgar de sobrevivência contínuo, em que a sede escorre pela roupa dos ossos obscurecidos pela modernidade, seja alimentado pela contemplação do Cosmos e só com a esperança de que o dia amanheça… Acorde mais perto de alguma solidariedade, de uma humanidade iluminada por uma vela que a afaste da escuridão ignorante e do desdém da hipocrisia fraterna.

Ao olhar para a árvore de Natal iluminada, sinto que mais vale contemplar um estrela na escuridão do que iluminar a vã ignorância.

António Piedade

4 comentários:

José Batista disse...

Um poema de Natal, bem vistas as coisas.
Sentido. E com sentido, como às vezes parece não haver...
Sabe bem, não obstante navergarmos num mar de "hipocrisia fraterna". Ou talvez por isso.
Bem haja.

Anónimo disse...

Sabiam que no planeta escurecido, nas terras de Portugal, nas muitas aldeias da serrania da Beira Alta e Trás-os-Montes, aquelas que receberam os geradores eólicos, grassa a escuridão absoluta em noites sem lua cheia? Entre as 2h e as 5h, pelo menos, na verdade reina a escuridão medieval, aguardo o uivo dos lobos que a ladroagem tem a tarefa facilitada. Com ironia, vemos o preço da electricidade a aumentar. Mais uma patranha verde foi plantada no coração da nação, vende à borla para Espanha e compra-se depois a preço (in)justo.

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Latente


A linha concebe,
passo ao infinito,
a luz, o perito.
Suave é a mansidão
no chão a luz, reluzente
em rama oh'nascente!
És poente,
um lar sem escuridão
e, lição lá freqüente,
ser gentil,
ser gente em útil, potente;
razão a serena razão, lente.

Massano Cardoso disse...

Meu caro

Um aplauso sentido. Obrigado pela partilha.

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