Post recebido de Armando Vieira:
Por detrás de uma aparente normalidade, as universidades estão debaixo de
forças que irão mudar radicalmente o seu tradicional papel na educação,
formação e investigação. O fim do monopólio da educação está para breve e muitas
destas instituições irão desparecer enquanto outras terão de sofrer transformações
radicais para conseguir sobreviver.
As principais forças de mudança são:
1. a extraordinária
evolução da tecnologia que permite massificar os conteúdos a uma escala
impensável apenas há uma década atrás.
2. a
severa crise económica que trouxe cortes importantes do financiamento público às universidades e
diminuiu a capacidade dos alunos pagarem os seus estudos.
3. Em
terceiro lugar, e talvez mais grave, a marginalização dos jovens saídos das universidades
e a percepção que melhores estudos nem sempre é sinónimo de melhores
empregos.
Ensurdecidos pelo ruído dos burocratas e de
interesses académicos mesquinhos, quase todos preferem dizer apenas aquilo que
os seus superiores gostam de ouvir enquanto olham com desconfiança para os
ventos de mudança que sopram lá fora. Há sinais de aviso importantes para as
universidades nos recentes protestos de milhões de europeus e algumas verdades
inconvenientes tem de ser olhadas de frente.
Não se espere que esta crise possa ser resolvida pelas
elites da EU, que se revelam incapazes de lidar com os seus próprios problemas.
Particularmente quando fizeram a escolha desastrosa de apoiar os centros
financeiros, deixando a juventude sem esperança de um futuro decente. O
desemprego dos jovens e a sua marginalização na Europa atingiu proporções inimagináveis
há menos de dez anos atrás. Apenas 34% dos europeus com idade entre 15 e 29
anos estavam empregados em 2011, sendo este o valor mais baixo registrado pelo
Eurostat.
Nos EUA, em 1961, os estudantes passavam cerca de vinte
e quatro horas por semana a estudar. Actualmente passam apenas 14 horas. Junto
com uma diminuição do tempo gasto no campus e em sala de aula, um número
crescente de estudantes mostra intenção de adiar a matrícula universitária.
Estudos recentes mostraram que a aprendizagem tem
sido profundamente alterada pela Internet e as novas tecnologias. A moda actual
é simplesmente mover cursos para canais online usando taxonomias de
aprendizagem intelectualmente simplistas e formas filosoficamente ingénuas de
organização de conteúdos. Embora muitos duvidem que essas formas de ensino não
sejam capaz de responder às necessidades actuais do aluno contemporâneo, a
verdade é que elas constituem uma séria ameaça – veja-se o caso da Coursera, Udemy
ou Khan Academy que em menos de 1 ano forneceram cursos a centenas de milhares
de alunos.
Mas há um outro turbilhão que está a afectar o
funcionamento das universidades: a marginalização da juventude. Uma geração
inteira está a descobrir que o mantra, conhecido de longa data, que a educação
é o caminho para encontrar um trabalho decente é uma mentira, ou, na melhor das
hipóteses, superestimada. Em todo o mundo, um número crescente de licenciados
está a perceber que existem poucos empregos disponíveis para a sua área e que a
maioria dos trabalhos disponíveis não exigem diploma universitário. Nalgumas
áreas existe um colossal desajuste entre oferta e procura.
Desde 2008 o desemprego dos jovens aumentou na
Europa de 1,5 milhões, para 21% em 2011. Os dados recolhidos pelo Eurostat
revelam a terrível realidade: de 7,5 milhões de jovens entre 15-24 anos e
6.500.000 entre 25-29 estão excluídos do mercado de trabalho na Europa. O
desemprego jovem é o que se mantem mais inalterado desde o pico registrado em
2009. Em comparação com os adultos, os jovens continuam a ser quase três vezes
mais probabilidades de estar desempregados. Ninguém se deve surpreender que a
juventude vá para as ruas expressar a sua fúria e frustração.
No meio da tempestade, as universidades que
continuem a impor a mediocridade e uma linha de pensamento compatível com o
passado estão condenadas a perecer. Essas vítimas da tempestade ainda podem considerar
que é mais seguro fechar os olhos e ficar confortável dentro da sua torre de
marfim. No entanto, no dia após a tempestade passar, o cenário do ensino
superior não será nada agradável para elas. E altura de abrirem as portas e se
adaptarem!
Armando Vieira
13 comentários:
A MacDonaldização do ensino superior deu nisto. Bolonha deu nisto. O desinvestimento deu nisto. E ainda mais vai dar nisto a quantidade de profissionais que estão, neste momento, a zarpar das nossas universidades para outros locais. Sim, vamos definhando...
O último paragrafo do texto ilustra muito bem o caso Português!
Somos um país de 10 milhões de habitantes, com a extensão de território que todos conhecemos, se exagerar muito, temos quase uma universidade por cidade, nós não somos os estados Unidos nem o Brasil que tem n vezes a nossa população, as nossas necessidades e o nosso mercado!
E se fosse só isto: Há universidades públicas que concorrem com institutos públicos, escolas superiores, politécnicos, cursos repetidos, recursos gastos em triplicado!
O lobby dos professores universitários é forte, criam-se cursos por tudo e por nada para dar emprego às pessoas que nem sempre o merecem porque nem sempre têm qualificações ou habilidade para tal.
Volto a repetir, porque não se luta por uma divisão e separação de águas entre politécnicos e universidades, afinal quem é que não quer que isto aconteça? Porque não se mobilizam os reitores da universidades e dos politécnicos para isto tomar forma? Talvez não lhes interesse!
E os cursos em excesso de áreas que dão menos saída?
Bolonha é simplesmente uma "merda" e sabem porquê? Porque assinaram um acordo e nunca mais se lembraram de tal, à última da hora em cima do joelho fizeram reconversões e adequações que obviamente tinham que dar problemas porque estavam mal feitas.
A título pessoal presenciei essa implementação à Português do processo de Bolonha e posso dizer que tudo não passou de uma operação cosmética: os professores continuaram os mesmos, as disciplinas mudaram de nome mas continuaram com os mesmos conteúdos, os vícios, as más pedagogia, o compadrio e e laxismo continuou, no fundo mudou algo para tudo continuar na mesma como se costuma dizer, ou melhor, mudou para pior, o curso de 3 anos vale menos que um de 4 ou 5 e até o IEFP faz distinção nessa questão e imagino que os empregadores também, logo o curso desvalorizado com menos aprendizagem, em média menos 12 disciplinas é agora mais caro pelo aumento das propinas.
Mas nisso tb tem culpa a dita comissão de avaliação que autoriza a abertura de cursos e parecem autorizar todos e quaisquer cursos!
De norte a sul do pais temos repetição até à náusea de cursos e mais cursos, com nomes iguais ou mesmo diferentes mas todos com o mesmo contudo e são precisamente os cursos com menos saída os que existem em excesso e
e fácil perceber porquê: porque a exigência do nosso ensino anda pelas ruas da amargura e é fácil a qualquer individuo tirar um cursozito de história, filosofia ou das ditas ciências da educação que um curso de física, química ou medicina e até é mais fácil arranjar docentes à pressão para lecionar os primeiros mencionados, ainda que eles não percebam nada daquilo e mesmo que existam bons docentes na área, que os há!
Foi o "chico expertismo tuga" que alimentou esta situação, da parte dos políticos e decisores incluindo professores e universidades abriu-se as portas da universidade de par em par, escancaradas literalmente que até pouco antes desta crise o entrar na universidade já se estava a tornar na mentalidade portuguesa não um direito mas um dever do estado para com qualquer jovem estudante e depois criou-se a ideia que bastava um curso para ter emprego para o resto da vida e se foi assim nos anos 70 pela construção do estado social que requeria mao de obra mais qualificada (mas que muita depois de ter uma licenciatura nunca lhe deu uso, bastante entrar nos quadros da fp para nunca mais estudar nem exercer na área) anos depois deixou de ser assim, já nos fins dos 90 se verificava que existia uma enorme crise de empregabilidade nos licenciados, começou pelos professores, onde décadas antes quem não sabia, não queria ou não tinha mais nada para fazer ia dar aulas, mas o que se fez? Alertou-se? Tomaram-se medidas? Não, continuou-se com a cabeça enfiada na areia a ao mesmo tempo abriram mais e mais cursos direcionados para o ensino!
Parece que em todos os assuntos da governança e da gestão da sociedade, sempre que há uma crise qualquer internacional, seja, grande, pequena, verdadeira ou inventada, Portugal é sempre apanhado com as calças na mão e isto porque nunca mas nunca tem em circunstância alguma uma situação minimamente favorável para enfrentar os problemas que nos são exteriores!
No ensino não poderia ser diferente! Os problemas que o post menciona são reais e aplicáveis ao mundo inteiro mas Portugal já parte atrasado e com problemas porque o seu próprio problema interno já é de si grave!
Ideias há muitas, soluções tb podem haver, eu aconselhava simplesmente que se separassem de uma vez por todas as águas entre universidades e politécnicos, estes com verdadeiros cursos técnicos, que se extingam as escolas superior de educação e se recriem de novo as escolas do magistério, se acabe com o financiamento público a instituições do ensino privado sejam secundários ou superiores, que se fundam universidades e institutos, que exista uma só universidade por localidade, fusão de todas em Lisboa e Porto!
Que se fechem metade dos cursos de ciências sociais e humanas, que todos os lugares para professores universitários sejam por concurso público gerido pelo ministério da educação e não pela universidade, que os professores universitários sejam verdadeiramente avaliados quer pelos pares quer pelo estado, que se reforme a dita comissão de avaliação e se autorizem apenas cursos em função das necessidades do pais.
Que se internacionalizem as universidades, programas, erasmus, erasmus mundus, protocolos com universidades da américa latina e ásia!
Que se extingam esses e learnings da treta, que as aulas sejam presenciais e não isso e tutorias que muitas não passam de aulas encapotadas para as quais não se quer ter tempo para as lecionar!
Que o ensino técnico não universitário saia das mãos do IEFP e seja dado a quem tem vontade de se formar e aprender, seja carenciado e com bolsa seja não carenciado e a pagar e independentemente se já tem o 12 ano ou não, que aliás só deveria ser frequentado por quem já possuísse esse grau de ensino.
Que se acabe com a mania da doutorisse que todos somos ou queremos ser "dótores" e que se convençam que haverá gente que não quer ir para a universidade ou que há gente que não pode ir para a universidade (falta de trabalho e inteligência) e que não é vergonha ser-se canalizador, eletricista, serralheiro ou outro, que o ensino técnico não tem que ser para parolos, pobres ou desenquadrados das universidades.
E sobretudo muita humildade e muito trabalho, que mostrem aquilo que valem, não só pelas aulas que dão mas pelos trabalhos que publicam, pelos protocolos que criam, pelos projectos que organizam (com pés e cabeça) e pela melhoria da sociedade que criam e ajudam a criar!
Senhor Armando Quintas;
"... abriu-se as portas da universidade de par em par, escancaradas literalmente que até pouco antes desta crise o entrar na universidade já se estava a tornar na mentalidade portuguesa não um direito mas um dever do estado para com qualquer jovem estudante"
Pode explicar:
O que é que o incomoda a si (Armando Quintas) se a Universidade for um dever do Estado para com os Jovens?
Por esse facto, o senhor sente-se diminuído no seu talento, isto se a grande maioria dos jovens tiver uma Licenciatura?
Não lhe parece que está no papel daquelas pessoas que ficam irritados porque o conhecimento está a deixar, cada vez mais, de ser um tabu e com isso deixam de ser detentores da verdade absoluta?
Só o ensino primário e secundário devem ter as portas abertas, só esse ensino é que é importante e indispensável para a formação do individuo? O ensino superior não é importante é até é dispensável mas Porquê?
(será porque assim criam-se elites, a que senhor julga que pertence, e isso dá-lhe muita vaidade, a que tanto preza).
Cordialmente,
Caro Ildefonso Dias,
Alguma coisa de chocante se passaria se, ao fim de doze anos de estudo, um jovem não estivesse preparado para entrar no mercado de trabalho com um bom nivel de educação. Por muito evoluída que seja uma sociedade, é inconcebível que para toda e qualquer função seja necessário um grau tão grande de especialização como o que acarreta (ou devia acarretar) um curso superior.
E digo "devia acarretar" porquê? Porque a massificação do ensino superior conduziu a uma infeliz diminuição da qualidade do mesmo e o que temos hoje em dia é uma superabundância de cursos feitos "à pressa" e que podem igualmente ser tirados "à pressa".
Quanto à função que sua excelência atribui ao estado: este deve fazer de tudo para que nenhum estudante fique fora do ensino superior devido às suas condições socio-económicas, mas há certas exigências (como um bom desempenho) que não podem ser desprezadas , tal como referia o Sr. Armando Quintas.
A verdadeira e necessária educação, aquela que vai moldar o indivíduo para o resto da sua vida, dá-se antes da entrada na universidade. Quem, no fim do 12ºano, ainda não lidar com o conhecimento e com a cultura olhos nos olhos, dificilmente o fará ao fim duma licenciatura ou dum mestrado.
Caro Guilherme Miranda;
Tenho a ideia de que muito (ou tudo) do que o Senhor escreve não está reflectido. E se está não lhe será certamente custoso responder.
Vejamos:
Quando o Senhor diz:
“... este deve fazer de tudo para que nenhum estudante fique fora do ensino superior devido às suas condições sócio-económicas...”
Pergunto-lhe:
Quando foi, ou qual o momento em que o Senhor se apercebeu que o Estado está a fazer tudo, ou que algum dia fez tudo, para não deixar ninguém de fora?! (confesso-lhe que eu nunca me apercebi que isso alguma vez tivesse acontecido).
Quando o Senhor diz:
“... mas há certas exigências (como um bom desempenho) que não podem ser desprezadas, tal como referia o Sr. Armando Quintas.”
Pergunto-lhe:
Diga-nos quantos são aqueles que (e com bom desempenho) pelas suas condições sócio-económicas estão excluídos do Ensino Superior? (deve-lhe ser fácil dizer uma vez que, no seu comentário, percebe-se que o senhor já conhece, aqueles, que com mau desempenho, frequentam o Ensino Superior).
E quando o Senhor diz:
“Alguma coisa de chocante se passaria se, ao fim de doze anos de estudo, um jovem não estivesse preparado para entrar no mercado de trabalho com um bom nível de educação.” ou ainda escreve o último parágrafo.
Aqui, e para que o senhor reflicta, partindo do principio de que é dever de todo o cidadão consciente intervir, dou-lhe o meu testemunho pessoal:
Eu exerci funções como engenheiro civil num município durante um período de 6 anos e 9 meses.
Foi o facto de eu ser Engenheiro Civil, (portanto, com conhecimentos adquiridos no ensino superior) que me deu a possibilidade de verificar que o chefe do serviço onde me encontrava integrado (também ele engenheiro civil) era do ponto de vista técnico uma nulidade, assim mesmo.
Mas contudo, pode o Senhor Guilherme Miranda, podia muito bem alertar-me, desde logo para o seguinte:
- Que, uma pessoa dessas só ocupa, com toda a certeza um lugar de chefia, se se tratar de um “lambe botas”.
- Que um jovem com uma boa educação (um bom nível de educação que para o senhor bastaria o 12 ano) também seria capaz de detectar a personalidade de um “lambe botas”.
E eu respondo-lhe que todo o seu alerta pode ser verdade.
- Mas, contudo, como poderia um jovem com o 12 ano saber que ele (chefe) era tecnicamente uma nulidade.
-Mais, como poderia ele, jovem com o 12 ano, ter a credibilidade necessária, para lhe fazer frente na defesa de outros interesses, que não os dele (chefe)?
E para finalizar pergunto-lhe quais são as condições que o senhor Guilherme Miranda considera necessárias para fazer valer o principio de que é dever de todo o cidadão consciente intervir.
Senhor Guilherme Miranda, espero que este meu contributo o ajude na reflexo que penso que precisa.
Cordialmente.
Caro Ildefonso Dias
O Guilherme Miranda adiantou-se na resposta mas que eu tb quero responder.
Pergunta-me o que tenho contra o facto de um jovem poder estudar e ter também uma licenciatura, eu respondo, desse ponto de vista de forma simplista, nada.
Mas eu pergunto-lhe então não percebeu que o meu comentário se referia à massificação do ensino superior? Não á democratização, que essa eu defendo e cujo único critério de selecção deve ser uma avaliação rigorosa e justa que revele o trabalho feito ou não pelo aluno e cuja recompensa seja a entrada na universidade.
Mas foi de facto isso que aconteceu nas últimas décadas? e a resposta é novamente não, não foi.
Escancaram-se as portas da universidade e qualquer pessoa, sem a mínima preparação, sem a mínima justiça entra na universidade, temos jovens Portugueses que chegam à universidade sem saber ler e escrever correctamente a sua língua materna, temos jovens que estudam de vésperas para terem o 10 nota mínima para passaram á cadeira e temos infelizmente muitos outros casos, dos quais eu destaco simplesmente que temos muita gente que vai sair licenciada, com um canudo a perceber patavina do que supostamente estudo e se formou!
E é contra isso que eu sou, contra os mais de 23 que são uma mentira, uma fantochada que permite que entrem pessoas na universidade que sabem menos que aquelas com o antigo 6º ano, sou contra as novas oportunidades que é outra treta e sou contra a existência à náusea de cursos que pasmem-se não como os mais antigos que não dão saída porque há excesso de oferta mas simplesmente nem têm saídas profissionais estipuladas ou pensadas ou sequer existentes na nossa sociedade!
Respondendo à sua pergunta, acho que o conhecimento não deve e não pode ser um tabu e fico contente por existirem pessoas que chegam à universidade e tiram um curso, é uma mais valia pessoal e social, mas que seja um curso com pés e cabeça, bem tirado, suado e trabalhado e no fim se tenha ali um futuro bom profissional.
Para terminar faço minhas as palavras do Guilherme Miranda, a massificação fez baixar a qualidade e é ai que a porca torce o rabo, é ai que temos que ver o grande problema, temos que resolver isso, temos que ser sérios e colocar uma exigência verdadeira antes da universidade para termos a certeza que só quem se esforçou merece entrar!
Para terminar deixo o caso de uma professora minha de licenciatura que colocava uma pauta de erros ortográficos de cada exame, com o nome do aluno, o erro dado e como se realmente escrevia!
Cordialmente
Ildefonso Dias
O senhor está um pouco afastado da realidade.
O estado, os últimos governos estão pelo contrário a fazer tudo para que não se estude. O senhor não está a par da crise que está no ensino superior, mas eu estou, conheço imensa gente a desistir logo no 1º semestre e não é só por causa das propinas, antes fosse. Diga-me como um agregado familiar de fracos recursos paga os estudos a um filho deslocado, casa, material escolar, comida e propinas, ou um casal desempregado.
Não imagina o que se passa na acção social, as bolsas levaram cortes de 50% em menos de dois anos, as regras são mudadas a meio do jogo, há bolsas que se resumem simplesmente a auxílio da moradia numa residência universitária que em muitos casos já está mais cara que uma casa particular! Há neste momento de grave crise, um retorno ao abandono escolar no ensino superior, de forma gravíssima mas que ninguém fala disso, está-se a voltar aos tempos do Salazar em que só quem tem dinheiro é que estuda!
Caro Armando Quintas;
Toda a gente sabe que a bem-vinda massificação do ensino tem um preço. Em Portugal ele é muito elevado, sim é, podia ser menor, sem dúvida, e o Senhor avança com algumas possibilidades que eu acredito que sejam realistas. Mas ninguém pense que se poderia fazer essa massificação sem um preço, pese este tenha sido muito exagerado.
Mas ainda bem que existiu porque ela foi e é bem-vinda.
Deixei um comentário, ao Senhor Guilherme Miranda, que se estende naturalmente a si, e se porventura este lhe merecer alguma observação ou reparo.
Contudo, deixo-lhe observações ou questões:
A quem serve este fracasso ou abaixamento da qualidade do ensino?
Não considera que este abaixamento deve servir melhor aqueles que defendem um ensino de classe?
Sim, porque se o ensino for de classe, os ricos, que podem pagar, podem sempre pagar um ensino de qualidade?
Quem pode afinar beneficiar, Senhor Armando Quintas, senão a classe dos que podem pagar?! e repare bem, no limite mandam os filhos estudar para o estrangeiro, e depois, depois sentem o privilégio de serem os escolhidos de comandar os destinos do País, porque isso é quase uma espécie "direito sagrado" que daí lhes advém!!!
Se o senhor está atento á realidade da vida, aperceber-se-à certamente da quantidade de "distracções" a que a maioria dos jovens em idade escolar estão sujeitos; e principalmente, (muito mais) nas camadas económica e socialmente mais debilitadas.
Cordialmente,
Caro Ildefonso Dias
Esse abaixamento de qualidade só dá proveito aos ricos, é óbvio!
Esses sempre podem pagar seja no público, no privado ou no estrangeiro.
As sociedades ditas ocidentais democratizaram-se e Portugal com o rumo que levou no pós 25 de Abril só poderia levar a idealizações ou mesmo concretizações de politicas de igualdade, para a época foi perfeitamente normal, eram os ventos da história, como hoje se está a verificar o retorno dos fascismos, mais refinados e aqui como em outros países, mas que mais uma vez os média ditos de referência não falam, está-se a contrair a possibilidade de estudarem as classes mais pobres.
Essas elites de que fala, assim que puderam perverteram o sistema e hoje a escola pública é um local de manutenção do status quo e pelo caminho tb a universidade. Senão veja, se a escola fosse como deveria ser, o aluno pobre, chegado com mais dificuldades que o rico, que os pais em regra são melhores formados, advogados, médicos, professores, etc e lhe podem ajudar ou encontrar que ajude, o pobre veria a escola nivelar-lhe os conhecimentos ajudando-o, mas o que se passa com a escola pública é que o pobre entra ignorante e a escola como funciona mal, muito mal e não tem qualidade(porque os políticos que estudaram quase todos em privadas assim o decidiram, lançando pedagogias manhosas, tirando autoridade ao professor, etc) não é ajudado e sai mal formado da escola, não só em matérias mas sem visão da realidade porque em casa não a tinha e o rico mesmo que fique na mesma escola tem sempre o factor doméstico a ajudar.
No que toca à universidade ela por inerência tem vindo a perder qualidade, obviamente interesses em que o desleixo continua, mas repare, com os milhões que são gastos é possível meter a funcionar bem o ensino superior e o maior problema não é dinheiro é vontade que isso aconteça, seriedade em fazer as coisas correctas, não haver compadrios que levem à abertura de cursos para dar emprego aos amigos, não haver corrupção nem má gestão!
No tempo do salazar os poucos que estudavam ficavam com os melhores cargos porque não havia mais gente formada, falta de concorrência e possivelmente é isto que muitos querem de novo!
Mas sem extrapolar de mais, peço só que incluía ainda o factor partidarite que é um mundo podre dos partidos, que da esquerda à direita, sim porque são todos iguais, querem capturar o estado, ou seja a gestão da sociedade alimentada por nós cidadãos para eles porem e disporem das suas mordomias vendendo-a a patacos a interesses obscuros! e nisso o ensino superior está metido até aos cabelos!
cordialmente
As ineficiências do estado social não são exclusivas do ensino universitário, mas transversais a um sem-número de matérias. A questão económica e da sustentabilidade do sistema é incontornável, mas o investimento nas universidades é uma das áreas em que o retorno para o país (isto claro, se os licenciados não forem empurrados lá para fora)serão maiores, e desinvestir ainda mais nas nossas paupérrimas universidades é um erro crasso. Só para dar uma noção de valores, o orçamento de uma universidade como harvard ou cambridge é superior ao orçamento de todos os nossos estabelecimentos de ensino superior! E isto só mostra como as universidades ficam caras e como nós andamos a tentar fazer muito com muito pouco. E de facto, os estudantes universitários que já eram uma classe que viviam com dificuldade, enfrentam agora dificuldades que os levam muitas vezes a desistir. E isto acontece com frequência mesmo no curso de medicina, onde os alunos batalharam até mais não para conseguir entrar.
Mas quando avaliamos o ensino, mais importante do que diferenciar os alunos em pobres e ricos, devemos diferenciá-los de acordo com o proveito escolar. E apesar de, como foi dito, os alunos abastados terem a possibilidade de entrar nas universidades privadas, estas ou são mediocres (o que acontece com a grande maioria, e que é reconhecido pelo mercado de trabalho)ou então têm médias de entrada semelhantes às universidades públicas. Claro que para aqueles que entram nas engrenagens da máquina partidária, não importa se o curso é bom ou mau, (ou muitas vezes nem sequer importa se têm curso ou se o que têm é da área).
O ensido básico e secundário também está, como é sabido, afogado em burocracias e ineficiências, não fornecendo uma formação de qualidade a quem os frequenta (como já foi exposto, e bem, em comentários anteriores), mas isso não é condição, nem desculpa, para aceitarmos a diminuição da qualidade do ensino superior. Quanto ao ensino básico queria só deixar no ar um ponto de reflexão: alguém referia que os alunos com maiores dificuldades não eram suficientemente acompanhados para desenvolverem todo o seu potencial, o que é verdade, mas também é verdade que não há um investimento nos melhores alunos, que podiam dar resultados brilhantes e contribuir tanto para o país se fossem convenientemente estimulados nesta fase precoce.
O debate e a opinião pública é o motor da democracia e deve ser feito por todos e nunca só pelos intelectuais. Qualquer pessoa com um raciocínio lógico é capaz de perceber as deficiências do sistema. Pegando no exemplo de um engenheiro chefe que não cumpria as suas funções, penso que, a ser de tão fraca qualidade o seu trabalho, todos que lidavam com ele e conheciam o seu trabalho, se iam aperceber das suas deficiências como profissional. Todos sabem o que é um mau médico ou um mau mecânico, mesmo sem terem um curso na área.
Penso que o Estado deve assumir como prioridade, sem tabus, nem discriminações negativas, e deve fazer os estudos necessários nesse sentido, não só a integração e o desenvolvimento dos alunos que têm maiores dificuldades, mas também o desenvolvimento daqueles que estão em melhores condições para avançar. Sujeitar quem já sabe ler ao ritmo e às exigências daqueles que ainda não aprenderam as vogais, não é só um erro crasso, é um atentado contra o direito de aprender e de trabalhar, mas também um prejuízo para a própria economia.
Caro Guilherme Miranda;
O Senhor diz "Todos sabem o que é um mau médico ou um mau mecânico, mesmo sem terem um curso na área."
Nada pode ser mais enganador... é pensando assim que muitas pessoas, por vezes, cometem graves injustiças e andam a denegrir a imagem profissional de outros. Eu penso que essa generalização é típica de sociedades pouco desenvolvidas culturalmente...
Igualmente discutível é quando o Senhor diz:
"O ensino básico e secundário também está, como é sabido, afogado em burocracias e ineficiências, não fornecendo uma formação de qualidade a quem os frequenta (como já foi exposto, e bem, em comentários anteriores), mas isso não é condição, nem desculpa, para aceitarmos a diminuição da qualidade do ensino superior."
E pergunto-lhe: Então o que deve fazer um Professor universitário quando tem à sua frente uma turma em que quase todos alunos estão mal preparados, não lhe parece que, forçosamente, o nível terá que baixar...
e, se não o baixar, reprova tudo... e depois, sabe o que é que acontece?! aparecem de imediato inúmeras pessoas com a atitude "Todos sabem o que é um mau médico ou um mau mecânico, mesmo sem terem um curso na área." desta vez a desfeitear o profissionalismo do Professor senão mesmo o seu caractér.
Cordialmente,
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