terça-feira, 2 de agosto de 2011

A PEDRA FILOSOFAL DA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES

"O guarda que estava revistando o alquimista encontrou um pequeno frasco de cristal cheio de líquido, e um ovo de vidro amarelado, pouco maior que o ovo de uma galinha. ‘ Que são estas coisas?’ Perguntou o guarda. ‘É a Pedra Filosofal e o Elixir da Longa Vida. É a Grande Obra dos alquimistas. Quem tomar este elixir jamais ficará doente, e uma lasca desta pedra transforma qualquer metal em ouro ‘“ ( “O Alquimista”, Paulo Coelho).

Pelo que é do domínio público, dois factores poderão vir a condicionar o sistema educativo português: contenção de despesas (impostas pela troika, e não só!) e legislação publicada por governos anteriores em verdadeira logorreia saída a tropel da pena de legisladores sem o cuidado de obedecerem aos cânones de uma redacção correcta para que não “chumbassem no exame da 4.ª classe”, em crítica de Almeida Santos.


Não duvido que os portugueses se encontrem altamente receptivos à poupança em coisas inúteis ou gastos sumptuosos por parte do Estado. Mas, pelo contrário, que não estejam dispostos a fazer essa economia em prejuízo da forma do sistema educativo sair do pântano em que o atolaram e que tanto tem atrasado o desenvolvimento do País. Ora esse desenvolvimento passa necessariamente pela formação, a todo o custo e a qualquer preço, de uma juventude bem preparada e quadros qualificados de professores capazes de darem resposta aos desafios do dealbar deste milénio em que um Portugal europeu deve assumir um destino que não deslustre o seu passado histórico, cultural e científico nas sete partidas do mundo.

Só desta forma, a massa cinzenta saída do ensino superior (e não só!) poderá ser melhorada por sua massificação ter contribuído para que “uma esmagadora maioria dos alunos não tenha capacidade para perceberem o que lhe dizem sendo completamente analfabetos em questões culturais”, como escreveu José Miguel Júdice, ao tempo bastonário da Ordem dos Advogados (Diário de Coimbra, 01/12/2004).

«De igual modo, os erros do passado não devem, de forma nenhuma, servir de respaldo, ou simples justificação, a erros futuros detectados no recente comentário de “dis aliter visum”, ao meu último post “Uma questão de honra” ( 31/07/2011) , quando aponta este erro sem perdão na formação dos professores. Comentário que aqui transcrevo:

“A possibilidade da formação dos docentes do 3º ciclo e do secundário passar também para as ESE, defendida por técnicos da 5 de Outubro durante a campanha eleitoral para as eleições legislativas 2011, tinha como objectivo matar dois coelhos numa cajadada: melhorava as estatísticas e desviava clientela do ensino universitário para o politécnico. A perda de qualificações dos alunos e as consequências que teria na já debilitada economia, era algo que não preocupava a subdirectora da DGRHE.”


Nas palavras de Salomão (ECCLESIASTES) nihil novi sub sole. Isto porque houve um parecer provisório do Conselho Nacional de Educação (CNE) que defendia que as ESE pudessem formar professores para o secundário ("Público", 30/01/1997). Catorze anos e sete meses cumpridos, portanto. Acresce que voltou a ser lançado, anos depois, o barro à parede, numa espécie de rebuçado para adoçar os disparates que saem da boca para fora, ou “de pena ao vento”, como diria Eça, sobre a formação dos professores do ensino secundário ficar também a cargo das escolas superiores de educação, sob a alegação, segundo penso, de, mais dia menos dia, a escolaridade obrigatória ser estendida a este grau de ensino. Ora, aquilo que eu tive como um autêntico disparate, ou mesmo crime, que nem sequer podia (ou melhor, devia) passar pelas cabeças dos nossos governantes teve a sua “consagração” em finais da recente agonia do Ministério da Educação do Partido Socialista com a declarada e publicitada intenção da Direcção-Geral dos Recursos Humanos do Ministério da Educação tornar extensiva a formação de professores do ensino secundário às escolas superiores de educação.

Ou seja, aquilo que ambos tivemos como autêntico disparate surgiu como uma medida de alquimia com o objectivo em descobrir a pedra filosofal que teria o poder de transformar os metais imperfeitos em metais nobres. O mesmo vale dizer, uma política educativa paradoxal capaz de aumentar a qualidade do ensino pela diminuição da qualidade posta na formação dos professores.Se assim foi, há que responsabilizar os governantes que andaram a desbaratar os dinheiros públicos com formações docentes mais dispendiosas de professores do ensino secundário com diploma universitário para o ensino em regime de mono docência quando poderiam ter obtido "melhores resultados" com diplomados pelas ESE habilitados em dar duas disciplinas em simultâneo com uma formação académica de menor exigência académica.

Será assim tão difícil compreender, como nos ensina, Stephen Covey, que “se continuarmos a fazer o que estamos a fazer, continuaremos a conseguir o que estamos a conseguir”? Ou seja, continuarmos a hipotecar o futuro da nossa juventude e desgraçar um país já tão desgraçado por erros políticos noutros domínios da vida nacional!

3 comentários:

Anónimo disse...

Os latinos não diziam «nihil novi sub sole». Quem o disse, embora em hebraico, foi o autor do Livro do Eclesiastes, que por vezes é identificado com o rei Salomão (não tenho aqui um exemplar para a citação exacta, mas o dito aparece várias vezes no mesmo discurso em que se diz «vaidade das vaidades, tudo é vaidade»). E quem traduziu o hebraico para latim, com o grego pelo meio, também não foram latinos...

Rui Baptista disse...

Anónimo (2.Agosto; 19:17): Agradeço-lhe a correcção. Esta uma das vantagens dos comentários. Vou já emendar.

Cordiais cumprimentos.

Anónimo disse...

Vossemecê, sr, anónimo das 19:17, está seguro do que diz?... Acautele-se de escorregar no cebo das vaidades! Acaso já se enfarinou na leitura dos clássicos poetas da latinidade?... JCN

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