segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Transições Maravilhosas


em final de ano e início de década, eis a minha crónica semanal no jornal i sobre uma das mais fascinantes transições no mundo da Física.

Se astronomicamente o dia 1 de Janeiro nada tem de interessante, humanamente damos a essa data uma vestimenta de renovação, de novos mundos e um quebra de fronteira temporal! Falemos então de barreiras e de outros mundos, de domínios intimamente físicos. Em "Alice no País das Maravilhas", Lewis Carroll seduz-nos com um mundo em que tudo e todos desafiam a nossa lógica: temos animais e cartas falantes, bolos que nos fazem crescer nove metros, lagos de lágrimas e dimensões que se perdem no absurdo! O País das Maravilhas está do outro lado de uma pequena porta. No mundo da física há algo parecido; para além da "razoabilidade" do quotidiano a que nos acostumamos e das regras físicas a que estamos mais habituados, existe um outro país, igualmente maravilhoso, mas dominado pela poderosa mecânica quântica, que poderá mesmo vergar a relatividade e a gravidade. A porta por onde se entra no país quântico tem apenas alguns nanometros, a milionésima parte do milímetro. A porta que separa o mundo da mecânica quântica de um mundo ainda desconhecido, reino de teorias unificadas, chama-se "comprimento de Planck", e é ainda mais pequena: 0,16 trilionésimos de trilionésimo de metro, ou seja, zero vírgula trinta e quatro zeros seguidos de 16 centímetro. No mundo da mecânica quântica, as certezas transformam-se em probabilidades ("Deus não joga aos dados", indignou-se Einstein), o ser mistura-se com o não-ser e há estranhas cumplicidades entre partículas. De uma maneira fascinante, estes eventos do microcosmos também nos ajudam a compreender o gigantesco Universo e complexas teorias cosmológicas. Que o seu 2011 seja igualmente maravilhoso ou quântico. Ou que não seja, já não sei!

6 comentários:

Luís Silva disse...

Eu sugeria ao Sr. Miguel Gonçalves a não escrever sob efeito da noite de passagem de ano. Para começar, uma molécula "enorme", como é o caso do C60, é um objecto quântico. É um dos objectos físicos para os quais, eventualmente, "as certezas transformam-se em probabilidades". Depois, Einstein não se terá questionado se Deus joga ou não aos dados. Terá afirmado que não jogava! Por fim, a frase "e o ser mistura-se com o não-ser", dita sem se explicar o que é isto do "ser", do "não-ser" e como raio na quântica eles se "misturam" (?), só pode vir de alguém que não está a perceber nada do que está a dizer. (e espero que realmente não se esteja a referir ao chamado dualismo onda-partícula, senão a confusão é mesmo mais do que muita).
Por favor, se está sob efeito da passagem de ano, não escreva.

Miguel Gonçalves disse...

Caro Luís Silva,
muito obrigado pelas observações que referiu. O texto foi editado e emendado.
Cumprimentos.

Ana disse...

Uma frase que originou muitas polémicas e...desinformações, :), a de Einstein. Com efeito, Einstein não era religioso nem acreditava num Deus pessoal. O Deus Einsteiniano, como é chamado, é uma metáfora (tal como o é quando é referido no mundo da Física). :)

Ana disse...

A título de curiosidade, um excerto de uma carta do próprio Einstein (de um conjunto que foi a leilão no final do verão do ano passado, salvo erro):

“A palavra Deus para mim é nada mais que a expressão e produto da fraqueza humana, a Bíblia é uma colecção de lendas honradas, mas ainda assim primitivas, que são bastante infantis. Nenhuma interpretação por mais subtil que seja pode (para mim) alterar isso. […] Para mim, a religião judaica, como todas as outras, é a encarnação de algumas das superstições mais infantis. E o povo judeu, ao qual tenho o prazer de pertencer e com cuja mentalidade tenho grande afinidade, não tem qualquer diferença de qualidade para mim em relação aos outros povos. Até onde vai minha experiência, eles não são melhores que nenhum outro grupo de humanos, apesar de estarem protegidos dos piores cancros por falta de poder. Mas além disso, não consigo ver nada de ‘escolhido’ sobre eles.”

Ana disse...

Fonte: http://www.guardian.co.uk/science/2008/may/13/peopleinscience.religion

Luís Silva disse...

Caro Sr. Miguel Gonçalves: agradeço-lhe o facto de ter atendido a algumas das minhas observações e, por consequência, ter alterado o seu texto. Tendo, igualmente, tido o cuidado de me responder, pense embora o tom em que escrevi o meu comentário. Isso denota uma honestidade intelectual de louvar e fazer notar. Especialmente porque a honestidade intelectual tanto rarea em outros autores deste mesmo blog.

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