Texto recebido, a propósito do PISA 2009, do nosso leitor Manuel Salgueiro:
Após os resultados do último estudo PISA, em que os alunos portugueses mostraram ao mundo que a (des)Educação da Nação estava, finalmente, a endireitar-se, fruto da “domesticação” e da avaliação docente “made in Chile by Sócrates & Rodrigues”, eis que um relatório de um organismo do Ministério da Educação vem pôr alguma água na fervura, contrariando a tão famigerada evolução, de que, aliás, muito boa gente desconfiava (aqui ou aqui).
Pois, menos de um mês após a evolução impressionante dos alunos portugueses que participaram no dito PISA, vem agora um relatório do Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE), a partir dos dados de exames em 1700 escolas, concluir, e citando, que os alunos portugueses são “incapazes de estruturar um texto ou de explicar um raciocínio básico”. Mais, o que ajuda a corroborar a ideia cada mais consistente da “marosca” e da manipulação, para não dizer fraude, que houve a propósito do último PISA, o relatório avaliou conhecimentos e competências nas disciplinas de Matemática, Língua Portuguesa, Matemática A, Física, Química A, Biologia e Geologia, domínios curiosamente também avaliados no último PISA. E, com alguma sorte, até os alunos que participaram no dito PISA também entraram nesta amostra de 1700 escolas...
Quem anda no terreno sabe perfeitamente do estado da (des)Educação da Nação, sabe também que em Educação é difícil aprender e é difícil ensinar, que não é possível haver aprendizagens sem um ensino que privilegie as aprendizagens e o conhecimento, algo que não é possível com o estado actual da coisa. Também é mais do que elementar (e aqui o erro de “casting” por parte dos profissionais da (des)Educação da Nação é demasiado básico) que a “coisa” (leia-se, aprendizagens e afins) em Educação demora tempo, geralmente anos quando não décadas, não é de um momento para o outro que a “coisa” ocorre, como alguns parecem crer. Não é bem semear hoje e colher amanhã, sendo amanhã 24 horas mais tarde. Isto é mais do que elementar. Perante tantas e tamanhas aselhices, a coisa só podia dar nisto. O pior é que, por muito que alguns queiram branquear a coisa com relatórios a mostrar falso serviço e a reivindicar méritos que não têm, a coisa está mesmo negra e vai demorar muitos anos a ir minimamente ao sítio, com custos para o País bem altos, uma crise bem pior do que a que já temos!
Tendo em conta algumas conclusões como, e novamente citando, “Na Matemática do terceiro ciclo resolver problemas é a maior barreira, tal como enfrentar exercícios com mais de duas etapas”, “Construir textos explicativos com frases que tenham lógica e coerência”, “Articular a informação fornecida em suportes e os conhecimentos necessários para elaborar uma resposta”, só conseguir “completar correctamente exercícios quando o desafio passa por resolver cálculos elementares” e, sabendo-se da importância destas competências até para o dia-a-dia, está-se mesmo a ver o futuro brilhante que nos espera!
Ou será que as ditas 1700 escolas também foram escolhidas (aleatoriamente, só pode...), tal como os alunos do PISA, para o (des)Governo da Nação voltar a "malhar" nos professores?
Manuel Salgueiro
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
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4 comentários:
Quem lê jornais não fica a saber mais. É melhor ler o relatório original: é o relatório dos testes intermédios e abrange 3º ciclo e secundário e vários tipos de provas diferentes (e com objectivos diferentes do PISA) e está disponível na página do GAVE. E o relatório enuncia pontos fortes e pontos fracos dos alunos. Não é surpreendente que haja pontos fracos (os únicos que aparecem nas notícias dos jornais!) pois se o PISA diz que estamos na média ou abaixo da média da OCDE é porque temos debilidades ou não? Curioso a comunicação social ter falado apenas nos pontos fracos e não nos outros. Curioso! E ter falado numa amostra de 1700 escolas quando as escolas participaram nos testes intermédios de forma voluntária, não foram seleccionadas de modo a serem representativas do País. O próprio relatório reconhece que os resultados podem não ser estatisticamente significativos! E não, o relatório não avalia o mesmo do PISA: o PISA é só para alunos de 15 anos (entre o 9º e o 10º) e os testes intermédios são para alunos desde o 7º ao 12º anos de escolaridade... E estes testes seguem os programas escolares enquanto o PISA segue um programa próprio que testa mais competências do que conhecimentos. Mas enfim, dizer mal do Governo é o que está a dar, análises serenas e com uma leitura prévia dos documentos envolvidos, já não.
"As estatísticas são como os biquinis: mostram tudo, menos o fundamental".
No caso deste par de estudos, enquanto não estiver à mão uma confrontação das respectivas metodologias... a comparação será mais com os burquinis!
Miguel Albergaria
Há três tipos de apreciação estatística:
O dos esatísticos:
"A estatística é certa em geral, e errada em particular."
O de Aaron Levenstein:
"A estatística é como um biquini. O que mostra é sugestivo, mas o que esconde é essencial."
E o de Benjamin Disraeli:
"Há três tipos de mentiras: Mentiras, mentiras sujas e estatísticas."
Caro leitor anónimo
Em primeiro lugar, e começando pelo fim, não se pretende, de modo algum, como diz no seu comentário, “dizer mal do Governo”; apenas pretendi, como parece mais do que evidente, mostrar que a coisa, no que à Educação diz respeito, não está famosa, ao contrário do que foi apregoado pelo Governo a propósito do resultados no último PISA, quando se sabe, por exemplo, como é que os alunos foram seleccionados, ou melhor, escolhidos... Por exemplo, será que entraram alunos dos chamados CEF e/ou dos cursos profissionais? A propósito da propaganda que foi (e continua a ser) feita, veja, por exemplo, o portal do ME (http://www.min-edu.pt): mesmo que não se queira, vídeo a condizer, incluindo discurso do PM...
Depois, quem anda no terreno, i.e., nas Escolas, sabe bem o que se passa por lá e sabe também que a coisa não está famosa (sobre isto muito haver a dizer sobre o que este Governo fez para que se trabalhe para a fotografia e para o folclore, mas isso são contas de outro rosário); também, e como referi, em Educação não é bem semear hoje e colher amanhã, ao contrário do que muita gente parece crer. Lembro, por exemplo, que em 2008 a então Ministra de Educação (Mª L. Rodrigues), para explicar a inflação nos resultados nos nacionais de 12.º ano exames de Matemática A (de 10,6 valores no ano anterior passou para 14 valores, na primeira fase): o efeito foi devido ao PAM (plano de acção para a Matemática), então no 8.º ano. Isto na RTP e sem o jornalista em causa sequer pestanejar... Repare-se: o PAM no 8.º só pode ter “contagiado” os alunos do 12.º... Mais de 3,5 valores de aumento, no espaço de 1 (um) ano! E já nessa altura havia os chamados do “contra”, também designados, por vezes, de campanha negra, incluindo alunos: http://www.publico.pt/Educa%C3%A7%C3%A3o/exames-nacionais-estudantes-do-valsassina-consideram-prova-de-matematica-demasiado-facil_1333304. Por estas (e por outras) não será propriamente de estranhar a “metodologia” seguida para os alunos do PISA, não? Alguém crê mesmo que se conseguem melhorias de monta em pouco mais de um par de anos? Era bom, era!
A propósito da avaliação (de que fala) de competências pelo PISA e não pelos testes (8.º ao 12.º), devo apenas lembrar que nos testes referido (8.º ao 12.º ano) também se testam competências, adquiridas (ou não) durante o percurso escolar do aluno; em qualquer teste se testam também competências. Alias, nos documentos oficiais do ME, e no que ao Ensino Básico diz respeito, nem sequer se fala de objectivos, mas de competências.
Finalmente, o título diz tudo. O problema é o exagero; embandeirou-se mesmo. Por mim, bem gostaria que aquilo que o Governo disse, aquando dos resultados do PISA fosse mesmo verdade e a Educação estivesse, finalmente, a endireitar-se!
PS (de “post scriptum”):
1 Desculpas pelo tratamento de anónimo; é a primeira vez que uso esta forma, mas não encontrei o seu nome.
2- Por acaso, também li o relatório do GAVE.
3- Oxalá não seja mesmo preciso pagar esta factura...
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